Cão faz a alegria de pacientes de quimioterapia em clínica na capital

Intervenções Assistidas por Animais melhoram o humor e diminuem o estresse dos doentes

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  • Gil Santos

Publicado em 8 de julho de 2022 às 18:23

. Crédito: Foto: Ana Lúcia Albuquerque/ CORREIO

Os pacientes do setor de oncologia da Clínica Amo, no Rio Vermelho, receberam uma visita inusitada, nesta sexta-feira (8). Com quatro patas, um focinho e o rabo abanando, Angus foi a sensação da manhã e era difícil não perceber a presença do labrador de 40 kg parado no salão, como também foi irresistível passar por ele sem fazer um carinho. A visita faz parte da Intervenção Assistida por Animais (IAA), popularmente conhecida como cãoterapia, que apresenta benefícios para os pacientes.

O animal percorreu os corredores acompanhado da tutora, cumprimentou a equipe que estava de plantão e visitou os pacientes. A administradora Maria Aparecida Paura começou a quimioterapia há cerca de um mês e conheceu Angus pela primeira vez nessa sexta-feira. Ela ofereceu para o cão os biscoitos que a tutora entregou, deu alguns comandos que foram seguidos à risca pelo animal e acariciou o bichinho, que tem colete e até crachá.

“Fico emocionada ao receber tanto amor. Os cachorros são seres incríveis. Tenho um vira-lata chamado Thor que tem 1 ano e três meses. Trouxe ele do sítio dos meus pais, no interior, para minha filha de 15 anos, porque o processo da pandemia deixou ela depressiva, sem querer sair do quarto, sem ânimo, e o cachorro mudou tudo isso. Ela melhorou bastante. Adorei a visita do Angus, ele pode ficar o dia todo comigo”, brincou. Maria Aparecida ficou feliz com a visita (Foto: Ana Lúcia Albuquerque/ CORREIO) Thor é também o nome do labrador que trabalha na cãoterapia junto com Angus. A psicóloga, tutora e sócia da empresa que oferece o serviço, Tatiane Seixas, contou que as visitas duram cerca de 40 minutos, o que representa uma média de 3 a 4 minutos por paciente. Nesse período, o animal brinca, faz e recebe carinho. Nessa clínica a cãoterapia acontece há 3 anos, uma vez por semana, e a empresa responsável atua em unidades especializadas e hospitais.

“O Grupo GNAP oferece um serviço de intervenção assistida por animais onde fazemos a interação do cachorro com o humano. O objetivo é que por meio desse contato a gente consiga trabalhar com apoio emocional, redução de ansiedade e ação de bem-estar para os pacientes e para o cão. É importante que as pessoas saibam que não basta o cão ser bonzinho, existe um processo de treinamento, adaptação e adequação para ele poder atuar nessa área”, explicou.

Ela contou que, primeiro, os cães passam por avaliação com um veterinário especialista em comportamento. Depois, os animais aprovados começam o processo de treinamento, que dura no mínimo um ano. Atualmente, apenas Angus e Thor estão em atuação e um terceiro cãozinho está em processo de treinamento. As raças mais comuns nesse tipo de terapia são labrador e golden, por serem mais dóceis, mas não é uma regra. O período em atividade alterna de acordo com o perfil de cada cão, e dura em média 10 anos. Angus com as tutoras (Foto: Ana Lúcia Albuquerque/ CORREIO) Resultados  A líder dessa experiência e enfermeira da Clínica Amo, Verônica Almeida, contou que a pacientes que participaram da cãoterapia apresentaram melhoras no humor e no quadro clínico, e frisou que os cães usados nesse serviço precisam estar vermifugados, vacinados e em plena condição de saúde, além das exigências em relação a higiene.

“Os estudos mostraram que essa interação ajuda a aumentar alguns hormônios do bem, como a serotonina, que melhora o humor do paciente, o apetite e a qualidade do sono. Ajuda na produção da endorfina que diminui a percepção da dor, e ajuda na diminuição do cortisol que é o hormônio do estresse. Às vezes, o paciente adoece não apenas patologicamente, mas está adoecido emocionalmente. Então, a proposta é tirar o foco da doença e colocar na ressignificação do paciente”, explicou.

O aposentado Mário Silva, 78 anos, contou que conhecia os benefícios da interação com os bichinhos muito antes da ciência começar a investigar essa área. “Tive muitos cachorros, porque eles sempre me fizeram bem. Infelizmente, cheguei em uma idade em que não tenho mais como cuidar, então, essa visita é muito importante”, contou.

Ele aproveitou para ler o cartão de mensagem entregue por Angus, uma frase diferente para cada paciente. “A mensagem diz ‘A verdadeira amizade tem valor inestimável, força incalculável e gratidão impagável’. É isso mesmo, ainda mais vindo dos bichinhos”, disse. Ana Carla acredita que os cães são sensitivos (Foto: Ana Lúcia Albuquerque/ CORREIO) Já a professora Ana Carla Ferreira contou que existe algo espiritual nessa relação. “Tenho um poodle de cinco anos. Percebi que ele estava com um olhar mais triste, mais abatido. Quando eu tossia, ele ficava agoniado, correndo para todo lado. Era um comportamento diferente do comum. Não me deixava mais sozinha. Logo depois descobri que estava com câncer de pulmão. Os animais são sensitivos”, afirmou. 

A Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) informou que a cãoterapia ainda não está disponível na rede pública.