Carnaval: mudança do Garcia protesta contra a intolerância

Presidente Jair Bolsonaro é principal alvo de críticas dos foliões durante o desfile

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  • Daniela Leone

Publicado em 4 de março de 2019 às 18:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: MARINA SILVA/ CORREIO

Cartazes, faixas, gritos e muita disposição para protestar com uma boa dose de criatividade e irreverência. Os foliões da Mudança do Garcia deixaram sua marca no Campo Grande nessa segunda-feira (4) de Carnaval. Fundado em 1926, o bloco mais antigo da folia baiana foi para as ruas esse ano com o tema "Não à intolerância".

“Junto com a eleição veio muita intolerância, discriminação, feminicídio, homofobia, racismo, machismo e nós escolhemos esse tema para mostrar à sociedade que precisamos de um basta”, afirmou Raimundo Badaró, um dos coordenadores do bloco Mudança do Garcia, que teve baianas como símbolos do desfile. "A intolerância está simbolizada pelas baianas. São mulheres, negras, de religião africana, que sofrem muita intolerância", explicou Badaró. "Não à intolerância" foi o tema do bloco Mudança do Garcia no Carnaval 2019 (Daniela Leone/ CORREIO) O presidente Jair Bolsonaro foi o principal alvo de críticas no desfile desse ano. “Desfilo na Mudança do Garcia desde que me entendo por gente e esse ano estou questionando as medidas de Bolsonaro e defender os direitos dos trabalhadores”, bradou a professora Rita Pereira, 52 anos.

De mãos dadas e exibindo um cartaz com a frase “Juntos até a aposentadoria”, o casal de namorados Rafaela Bastos, 26 anos, e Luan Santos, 28, protestaram contra a reforma da previdência. “Ela coloca peso nos trabalhadores mais pobres e aumenta o nosso tempo de trabalho”, criticou o contador.   Rafaela Bastos e Luan Santos protestaram contra a reforma da previdência (Daniela Leone/ CORREIO) A principal revolta da aposentada Eliana Falangola, 69 anos, era sobre a impunidade dos assassinos da ex-vereadora Marielle Franco, morta em um atentado em 14 de março do ano passado. “Vai fazer um ano que mataram ela e nada”, disse, indignada.

O Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA) lembrou a tragédia de Brumadinho, em que mais de 180 pessoas morreram após uma barragem da Vale se romper. “Aqui é um momento lúdico em que aproveitamos para protestar. Os direitos constitucionais não estão sendo respeitados por um grupo de pessoas que assumiu o poder. As privatizações têm levado as empresas a só pensarem em lucro”, criticou Jairo Batista, coordenador geral da Sindipetro-BA.

Mas nem todo mundo desfilou com o objetivo de protestar. O chapista Antônio Lima, 59 anos, incorporou a fantasia de monstro, não tirou a máscara nem mesmo para dar entrevista e se divertiu assustando a galera na rua. “Não tenho nada contra ninguém. Aqui é só alegria. Vim só para me divertir e escolhi a fantasia por isso”, disse.

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O cabeleireiro Gildo Filho, 58 anos, se caracterizou de mulher e exibiu seios protuberantes. “Já saio há mais de 30 anos na Mudança do Garcia e pra mim representa alegria”, afirmou. Já a psicóloga Lorena Bastos, 34 anos, fez sua estreia no bloco. “Sempre ouvi falar da Mudança, mas é a primeira vez que saio. É o que eu estava buscando esse ano, uma festa tradicional, para sair fantasiada”, disse a foliã, que montou um traje tropical repleto de abacaxis. O cabeleireiro Gildo Filho esbanjou irreverência no Campo Grande (Daniela Leone/ CORREIO) O professor universitário Paulo de Jesus, 46 anos, não abre mão de sair na Mudança do Garcia na segunda-feira de Carnaval. Há 11 anos, ele valoriza a irreverência e politização do bloco. “A mudança permanece com o caráter de contestação sem perder a irreverência e a criatividade”, afirmou. “Não podemos deixar de fazer uma inversão de ordem no Carnaval. Precisamos trazer a reflexão par a Avenida. O protesto tem que estar presente”.