Carnaval: Um “besteirol” da Netflix à cultura baiana

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Publicado em 10 de junho de 2021 às 15:36

- Atualizado há 10 meses

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Entre lovers e haters, circula nas redes sociais que esse filme (com gritantes falhas de continuidade e produção) é um surto sulista e estereotipado da cultura baiana. Mas, fora de profundas problematizações, o besteirol dirigido por Leandro Neri surge isolado e inovador ao dialogar um estilo mais televisivo do que cinematográfico com o cenário geocultural baiano. Me identifiquei muito com os laços de amizade fortalecidos em meios a aventuras da folia. No entanto, a maior festa do mundo é (logicamente) capturada pelo mercado, expondo, assim, a magia de modo cada vez mais desigual. Desde sua migração do centro da cidade para a Barra nas últimas décadas, o carnaval, assim como filme, fica cada vez mais “camarotizado”, o que não difere muito das origens burguesas da festa. Só que em Salvador, há uma organização sociorracial bem estabelecida e no carnaval essas diferenças ficam acintosas. 

O filme não tem a menor preocupação em evidenciar isso (e também não é obrigado a fazer), mas é no mínimo engraçado visualizar o imaginário sudestino da Bahia. Assistindo ao filme, percebo que cabe algumas considerações na ordem de roteiro e pesquisa. Os personagens têm uma boa proposta cômica, mas não entendi por que só a personagem negra fica sozinha no final (spoiler) e sua mini trama orbita em torno de um trauma psicológico. O sotaque carregado eu, particularmente, tenho orgulho. Como assim ninguém foi assaltado? As cerimônias religiosas do Candomblé não são, nem de longe, o que foi exibido. Deveria ter havido mais cuidado e pesquisa com essa “folclorização” da cultura negra. Me senti no final da década de setenta assistindo a um remake de Tenda dos Milagres. Nada contra, mas vamos pesquisar! É barato para o custo de produção. Só demanda um pouquinho mais de paciência. 

Bom! A depender no nível de álcool e disposição para subir a ladeira da Barra e boa parte do centro, é humanamente impossível alguém se perder a pé no Farol e parar no Pelourinho. Aqueles postes parisienses onde a van transita é a entrada da cidade de São Francisco do Conde, no Recôncavo (há controvérsias se a cidade pertence ou não a este território). O sentido da vida? Não sei, mas o filme retrata que é beijar na boca. Depois do Bloco Beijo na década de 90 essa marca da sexualização latino-tropical pegou, não é mesmo? Será difícil ser superada. E a última coisa, mas não menos importante: será que custaria contratar assistentes de roteiro, produção e destacar um pouco mais os atores baianos? Puxa, gente! Não custa, não. Poderiam ter aprendido a lição com a experiência de “Ó Paí, Ó”. Sai até mais barato para vocês. Economiza a passagem aérea. Depois reclamam quando problematizam, tá vendo? No mais, o filme é um besteirol legal para um domingo entediante. 

Vinícius Zacarias é baiano do Recôncavo. Às vezes opina sobre cultura pop e conteúdo de streaming.

Texto originalmente publicado no Facebook e replicado aqui com autorização do autor.