Carne vetada na Europa por contaminação retorna ao Brasil e é vendida normalmente

Bactéria salmonela é proibida em países europeus, mas permitida aqui

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  • Da Redação

Publicado em 3 de julho de 2019 às 18:04

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nilton Fukuda/AE/Arquivo

Parte da carne de frango brasileira que é rejeitada no Reino Unido por estar contaminada pela bactérica salmonela retorna ao Brasil e é revendida normalmente no mercado nacional. Isso é o que mostra uma reportagem do Repórter Brasil em parceria com o jornal britânico The Guardian e o Bureau of Investigative Journalism.

De acordo com a notícia, entre abril de 2017 e novembro de 2018, cerca de 1 milhão de aves congeladas (ou 1.400 toneladas) foram vetadas em portos do Reino Unido por não atenderem aos padrões sanitários europeus - mais rigorosos do que os verificados por aqui.

Em 2017 a Operação Carne Fraca apontou problemas no controle da qualidade das carnes brasileiras. Ainda assim, os portos europeus continuam rejeitando entrada de contêineres brasileiros com produtos contaminados. Esta carne volta ao Brasil, é processada e chega às prateleiras dos supermercados.

O retorno ao Brasil de parte dos contêineres com produtos contaminados foi comprovado em documentos internos obtidos junto à agência britânica de padrões alimentares (Food Standards Agency). O Ministério da Agricultura e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) confirmam o retorno da carne contaminada ao Brasil.

No mercado brasileiro os dois órgãos nacionais explicam o que acontece com o produto vetado. De acordo com eles, as carnes podem seguir dois caminhos, a depender do tipo de salmonela presente. 

Se forem bactérias com risco potencial à saúde humana - o que acontece em menos de 1% dos casos, de acordo com o ministério -, o frango contaminado é cozido, e a carne é processada em subprodutos, como nuggets, salsichas, linguiças e mortadelas de frango. Já se a contaminação for por bactérias que não apresentam riscos à saúde, o produto "in natura" é colocado no mercado interno e chega aos açougues e supermercados.

O cozimento ou a fritura da carne contaminada mata os micro-organismos e elimina o risco à saúde, de acordo com a diretora do Departamento de Inspeção dos Produtos de Origem Animal (Dipoa), do Ministério da Agricultura, Ana Lucia Viana. Existem cerca de 2.600 tipos de salmonela, mas não são todos que causam infecções alimentares em humanos. Há dois tipos, porém, que podem levar à morte.

Produtores garantem segurança da carne A ABPA, que representa os grandes fabricantes de proteína animal do Brasil, afirma que "as cargas que não atendem aos critérios estabelecidos pela União Europeia são devolvidas e submetidas a tratamento que garante a segurança da carne para processamento".

Associações de consumidores, no entanto, criticam o retorno dos lotes contaminados ao Brasil. "Esse tipo de prática é um grande desrespeito aos consumidores brasileiros, que são expostos no mercado a produtos de pior qualidade por conta do menor nível de exigência sanitária no país. Isso pode trazer consequências negativas à saúde da população", afirma a nutricionista Ana Paula Bortoletto, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

No Brasil, testes realizados pelo Ministério da Agricultura mostram que cerca de 18% da carne de frango estão infectadas por salmonela - o que está dentro dos limites legais, já que a regulamentação brasileira tolera até 20% de contaminação. Na Europa, o percentual de aves contaminadas é de apenas 3,3%, segundo o órgão europeu responsável por segurança alimentar, o European Food Safety Authority (EFSA).

"A Europa está um passo à nossa frente nesse controle. Então, quem quiser acessar esse mercado, tem que atender às regras dele", diz Viana, do Dipoa.