Casa do Papai Noel recebe crianças de maneira gratuita e está adaptada ao distanciamento social

Bom Velhinho versão 2020

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  • Wendel de Novais

Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tiago Caldas/CORREIO

A Casa do Papai Noel do Salvador Shopping mudou para 2020. O espaço, a decoração e a logística precisaram ser adaptados a uma realidade de pandemia, em que os pequenos não podem mais abraçar ou sentar no colo do Papai Noel. Além da estrutura, os bons velhinhos também mudaram. Os atores, que interpretam o personagem que é símbolo do Natal, não são mais aqueles da faixa dos 60 anos, já que estes fazem parte do grupo de risco. Em seus lugares estão os "novos bons velhinhos", que têm entre 25 e 33 anos, e, diferente dos atores idosos, precisam de uma caracterização ainda mais complexa, com maquiagem para envelhecimento dos traços, barba branca fake, peruca e, além disso tudo, uma barriga falsa que faça jus ao abdômen redondo que todo Papai Noel precisa ter.

Os bons velhinhos conversaram com a reportagem do CORREIO para falar sobre a experiência nova. Dois deles nunca interpretaram Papai Noel antes e o outro só entrou na figura do dono do trenó mais famoso do planeta em eventos familiares. Os atores contaram sobre a preparação, que exige empenho para deixar a caracterização mais adequada em um ambiente que deve ressaltar a magia, a experiência de lidar com crianças e o crescimento profissional de se virar em um espetáculo que dura muito mais que o comum e cujo roteiro é decidido pelas crianças, considerando que cada uma delas tem seu jeito próprio de lidar com o encontro. Para Eduardo, o contato com as crianças, mesmo à distância, é um momento mágico (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Desafio artístico

O ator Breno Fernandes, 26 anos,  que já tinha atuado em outros papéis de idosos, como mago e avô, é um Noel de primeira viagem e falou sobre como é interpretar o bom velhinho em uma peça dirigida pelos pequenos. "É um desafio e tanto. O roteiro é imprevisível, é a criança que decide. O que falar, perguntar ou pedir. Eu preciso estar atento e preparado para seguir o diálogo que a criança deseja e isso acrescenta muito pra gente como profissional", diz. Apesar do rumo imprevisível de cada visita mirim, Bruno afirma gostar do contato com as crianças. "Tem sido maravilhoso. Papai Noel tem o dever no imaginário infantil de proporcionar à criança a oportunidade de ter seus desejos e anseios ouvidos. E os pedidos são tão genuínos, singelos, é bom demais ouvi-los", relata. O ator Breno Fernandes já tinha atuado em papéis de idosos, mas nunca como o bom velhinho (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Além daqueles pedidos singelos de quem não precisa de muito para ser feliz, tem também os mais complexos, que envolvem o bem-estar de todos, como o fim da pandemia, a saúde para as pessoas e um mundo mais feliz. São esses que deixam Victor Fernandes, 25, ator que também é Papai Noel pela primeira vez na carreira, emocionado. "Quando eles chegam e fazem os pedidos que, às vezes, têm mais a ver com o bem dos outros do que deles próprios, é difícil não se encantar. Além disso, o que derruba a gente é o afeto. Ainda mais nesse período, com todo mundo privado de contato com as outras pessoas. Ver o carinho e a felicidade deles com a gente emociona, de verdade", fala.

Victor concorda com a opinião de Breno sobre o desafio que é lidar com um roteiro a cada criança que visita a Casa do Papai Noel e comemora o crescimento profissional que tem ao participar do projeto. "É uma imersão. Você tá ali, tem ideias de uma coisa ou outra como a pergunta sobre como ela se comportou. Só que as crianças são espontâneas, decidem o rumo da conversa que vai para o ano delas, que vai para a família ou para os amigos. Então, a gente aprende a ficar nesse lugar da escuta e reagir, o que enriquece demais". Victor está animado com a experiência de intepretar o Noel (Foto: Roberto Abreu/Divulgação) O "bom velhinho" entre os Noéis da juventude, Eduardo Borges, 32, é o ator que tem experiência em festas de família e ressalta que, apesar de ser à distância, o contato com os pequenos continua sendo mágico. "Ainda é muito bom. Lidar com crianças é demais, velho. Elas trazem uma energia muito positiva, nos recebem com muito amor. Fazem valer muito a pena o trabalho de produção e caracterização que a gente tem pra fazer com que eles não estranhem o Noel mais jovem e se sintam à vontade", diz 

Experiência diferente, sensação parecida

Nada de colo ou abraço. A Casa do Papai Noel agora tem porta e janela que permanecem fechadas. A sorte da criançada é que as janelas  são de vidros e, tanto na parte interna como na externa, microfones são posicionados para facilitar a comunicação entre o bom velhinho e os pequenos que chegam loucos para conversar, contar como foram no ano e os desejos que têm. Por lá, também tem o lugar de depósito da cartinha que, segundo o Noel, vão direto para a sua fábrica.

Mesmo com toda essa diferença e com um estranhamento inicial das crianças, o momento de conversa acaba se desenvolvendo da melhor forma possível em um contexto de pandemia. "Eles chegam e já querem abraçar, é natural. Acho que, se não tivesse vidro, eles pulavam pra cima da gente na hora. No início, ficam meio desconfiados do microfone, mas depois que falam, tudo flui. Ainda rolam umas perguntas sobre o trenó, as renas, nada demais", relata. Breno também conta sobre crianças que dizem ao Noel que querem abraçá-lo e chegar perto, mas que têm que se contentar com a conversa separada pelo vidro. "Olha, eles chegam e ficam procurando maneiras de entrar na casa. Quando enxergam a porta, já vão pra lá achando que podem entrar, mas voltam. Precisam conversar com a gente do lado de fora mesmo, mas, pra ser sincero, chega um ponto que nem parece que a separação existe e o contato distante deixa eles muito felizes", explica

Opinião dos pequenos

Uma das crianças que procuraram a porta como descrito por Breno logo ao chegar foi Benjamin Ferreira, 5, que não pôde abraçar o Papai Noel, mas ainda sim gostou de vê-lo. "Foi diferente, mas eu gostei. Já queria abrir a porta pra chegar perto dele quando vi na casa e fiquei aqui fora porque meu pai disse que não pode. É legal ver o Papai Noel. Minha parte favorita foi ganhar o pirulito", conta. Luna queria abraçar o Papai Noel (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Benja gostou de visitar o bom velhinho (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Quem também lamentou a falta de contato com o bom velhinho foi a pequena Luna Mascarenhas, 9, que, apesar disso, disse entender o motivo.  "Eu gosto mais quando pode abraçar, mas assim foi bom também. O Papai Noel é legal, gosto de falar com ele. Pena que é assim de longe, mas minha mãe explicou pra mim que é por causa do coronavírus e pra ninguém ficar doente", diz.

 A visitação gratuita na Casa do Papai Noel vai até 24 de dezembro. Além do Salvador Shopping -  onde os pequenos podem ver o bom velhinho de segunda a sábado, das 11h às 21h, e domingos e feriados, das 12h às 21 -  o Salvador Norte Shopping também tem sua Casa do Papai Noel, que funciona de sexta a domingo, das 13h às 20h.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro