Casal morto em Placaford foi vítima de quadrilha de PMs

Quatro policiais militares e um comparsa civil são suspeitos de assaltar e matar as vítimas

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  • Gil Santos

Publicado em 14 de julho de 2017 às 17:53

- Atualizado há um ano

Quatro policiais militares e um quinto suspeito são apontados pela polícia como os responsáveis pelo latrocínio do projetista industrial Renato Giffoni Habib, 58 anos, e da esposa dele, a dona de casa Nélida Cristina Oliveira Habib, 55. O casal foi morto a tiros em 25 de setembro do ano passado dentro da casa onde vivia com o filho, o estudante de engenharia mecânica Bruce Habib, 25. Em seguida, os criminosos roubaram pertences da família e fugiram.O casal e o filho estava em casa quando tudo aconteceu (Foto: Arquivo CORREIO)Já estão presos, no centro de custódia do Batalhão de Choque da Polícia Militar, em Lauro de Freitas, os policiais militares Ronaldo Pedro de Souza, 44, que trabalha no subcomando geral da Polícia Militar, no Quartel dos Aflitos, e Marcos Vinícius de Jesus Borges Ciríaco, 32, que é lotado na Rondesp BTS.

Jonas Oliveira Góes Junior, 41, da 35ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Iguatemi) está internado com problemas respiratórios no Hospital Aeroporto e será encaminhado, em seguida, para o Batalhão de Choque. O também policial militar Henrique Paulo Chaves Costa, 36, do Batalhão de Guardas, cumpre prisão domiciliar após passar por uma cirurgia. Já o quinto envolvido, Diogo de Oliveira Ricardo, 29, está no Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador.Movimentação de policiais no local do crime (Foto: Arquivo CORREIO)No dia seguinte ao crime, uma equipe do CORREIO estava em frente da casa quando dois homens armados, usando luvas e roupas escuras, se aproximaram se identificando como policiais da 15ª CIPM (Itapuã). Eles fizeram perguntas à equipe de reportagem e pediram que as fotos fossem apagadas. Depois, interfonaram, tentaram contato e foram embora após 20 minutos. 

O CORREIO procurou o delegado responsável pela investigação, na época, e contou sobre a abordagem. A Polícia Civil considerou estranha a presença de PMs à paisana na casa. Em nota, a Polícia Militar negou que policiais militares tivessem sido enviados ao local naquele dia. Nesta sexta-feira (14), a polícia não soube informar se os dois homens que conversaram com a reportagem eram os suspeitos que foram presos. Homens que abordaram a equipe do CORREIO (Foto: Arquivo CORREIO)DenúnciaTodos foram denunciados pela polícia por duplo latrocínio (roubo seguido de morte) consumado, no caso de Renato e Nelida, e por latrocínio tentado, no caso de Bruce. O Ministério Público também denunciou o grupo por formação de quadrilha. Os suspeitos podem ser condenados a até 30 anos de prisão por cada latrocínio consumado e mais 10 anos pela tentativa de latrocínio. Os PMs respondem também a um inquérito dentro da Corporação que pode resultar na demissão de todos os envolvidos.

Diogo foi preso em 2010 por porte ilegal de arma e novamente em dezembro de 2016, dois meses depois da morte do casal, por extorsão. Nesse último crime ele contou com a ajuda dos soldados Ronaldo, Henrique e Jonas. Todos foram presos em flagrante, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Na época, eles estavam com nove armas. A polícia aguarda o laudo da perícia para saber se elas foram usadas no latrocínio do casal de Placaford. O Departamento de Polícia Técnica também vai determinar quem dos presos atirou em Renato e Nelida. Policiais trabalham na casa onde houve o crime (Foto: Arquivo CORREIO)O diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), José Bezerra, informou que todos os quatro já estavam presos quando foi identificada a participação deles na morte do casal. "A prisão temporária deles pela morte do casal saiu em fevereiro, mas eles já estavam presos por conta da prisão em flagrante no crime de extorsão em Camaçari. Apenas Marcos Vinicius precisou ser capturado. Em abril, saiu a prisão preventiva dos cinco envolvidos e, por isso, eles permanecem presos", afirmou.

Segundo o representante da Corregedoria da Polícia Militar, tenente-coronel Reni Pereira Santos, os policiais não têm histórico de desvios de conduta até o envolvimento nesses dois crimes. "A gente não tem o que atrelar para uma conduta negativa antes dessas ocorrências. Fizemos um levantamento e eles respondem coisas administrativas, menos importantes", afirmou.

Os policiais e Diogo negaram participação nos dois crimes. No caso do latrocínio do casal, ele foram reconhecidos pelo filho das vítimas, em fotografias e pessoalmente. O casal morava no bairro há 22 anos (Foto: Reprodução Facebook)O crimeO casal foi encontrado amarrado e amordaçado no final da tarde do dia 25 de setembro, um domingo, após serem mortos com tiros na cabeça. O duplo assassinato aconteceu na Rua Encontro das Árvores, no bairro de Jardim Placaford, em um loteamento que reúne 126 imóveis de classe média alta.Toda a ação começou por volta das 17h20, quando Nelida saiu de casa para ir ao mercado. A dona de casa saiu em um carro (o modelo não foi divulgado), que foi interceptado por cinco homens cerca de 5 minutos depois. Os bandidos estavam em dois veículos: um Gol e um Uno. Eles renderam Nélida e obrigaram a mulher a retornar com eles para o condomínio. 

Os vizinhos contaram para a polícia que Nelida tinha por hábito ir todo final de tarde comprar pão. A suspeita é de que a quadrilha estivesse monitorando a rotina das vítimas. O filho do casal também foi feito refém (Foto: Arquivo CORREIO)O marido e o filho de Nelida estavam em casa. Renato não percebeu que a esposa estava rendida e abriu o portão. A casa é cercada por muros altos e a família tem dois cães da raça pit bull. Logo após entrar no imóvel a quadrilha anunciou o assalto, amarrou e amordaçou as vítimas. A mulher foi levada para cozinha e amarrada a uma cadeira. O marido ficou no chão da sala, com as mãos presas e o filho foi levado para o pavimento anexo, onde também foi amarrado.

O primeiro tiro foi dado na cabeça de Nelida, com uma escopeta. Em seguida, Renato foi baleado, também na cabeça, com uma pistola. Os tiros chamaram a atenção do único bandido que estava com Bruce, no anexo da casa. Segundo o estudante, no momento dos disparos o bandido correu para o primeiro piso para ver o que estava acontecendo e foi nesse momento que Bruce conseguiu escapar.Sepultamento dos corpos de Renato e Nelida (Foto: Arquivo CORREIO)Os bandidos fugiram levando celulares, uma arma que pertecia a Renato e outros pertences da vítima. A polícia não divulgou o que foi roubado. No site da Junta Comercial da Bahia consta que Renato Habib fechou em 2016 uma empresa que foi aberta em 2005. A casa onde a família morava também estava com uma placa de venda. Policiais disseram no dia seguinte ao crime que havia notas de dinheiro espalhadas dentro do imóvel. A polícia não divulgou a quantia roubada nem se o dinheiro foi recuperado. Além de Bruce, Renato e Nélida têm uma filha, que mora em São Paulo. A família é dona do imóvel em Placaford há 22 anos. Os corpos do casal foram sepultados dois dias depois do crime, no Cemitério do Campo Santo, na Federação. 

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