Casas em Águas Claras são demolidas após morte de avó e neta

Final de semana na capital seguirá com pancadas de chuva

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 25 de abril de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

A casa onde morava Maria da Conceição Fraga Teixeira, 41 anos, na 2ª Travessa Celika Nogueira, no bairro de Águas Claras, em Salvador, foi demolida junto a outras 16 construções em situação de risco. Ainda há possibilidade de se fazer outras demolições.

Dona Maria e a neta Maria Eduarda, de apenas 4 meses, não esistiram ao deslizamento que aconteceu na última quinta-feira. Outras duas pessoas que estavam na casa da família sobreviveram: o pedreiro José Carlos Gonçalves Silva, 51, e sua filha Gabriela, 19, mãe do bebê que foi a óbito na tragédia.

Nessa sexta-feira (24), o ambiente era de tristeza. Segundo uma moradora da região, que preferiu não ser identificada, o luto tomou conta dos vizinhos: "Toda agonia da busca, um desespero gigante. São pessoas que perderam a vida no lugar que deveria ser o mais seguro no mundo, que é a própria casa", relata a moradora.Em visita ao local nessa sexta, o prefeito ACM Neto informou sobre as ações da prefeitura. As vítimas sobreviventes de deslizamento em Águas Claras receberam auxílio social do município. O valor varia entre um a três salários mínimos e visa a reposição de bens móveis básicos perdidos no desastre. A Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre) também encaminhou 17 famílias para o recebimento do Aluguel Social, no valor de R$ 300, além de oferecer acolhimento, colchões e cestas básicas.

"Aquela área ali de Águas Claras não era de grande risco. Infelizmente houve a construção de um muro de maneira irregular. Esse muro veio ao chão com as chuvas. Além disso, houve um desgaste do talude, porque infelizmente as pessoas escavaram em locais que não podia", explicou o gestor.

Áreas de risco A capital tem 400 áreas de risco, segundo levantamento da Defesa Civil de Salvador (Codesal). A maioria desses pontos de risco se concentra em São Caetano, Liberdade, São Marcos, 7 de Abril e Subúrbio Ferroviário.

Áreas de riscos são regiões expostas a desatres naturais que podem ser geológicos ou hidrológicos e representam situação de perigo: perda ou dano aos seres humanos e suas propriedades.

Professor da Universidade Federal da Bahia, o engenheiros Luis Edmundo Campos explica que o Plano-Diretor de prevenção a deslizamentos em Salvador foi construído a partir do número de solicitações de atendimento feitas em cada região da cidade à Codesal. Além do histórico de tragédias em cada ponto da capital.

Campos entende que esse método é o mais efetivo para diminuir os casos de tragédias como a ocorrida em Águas Claras, porque é possível mapear as áreas onde há maior incidência desse tipo de acontecimento. A partir daí, é possível traçar medidas como contenções de encostas, aplicação de geomanta e ações socioeducativas para que as pessoas respeitem, por exemplo, os sinais de alerta emitidos pela prefeitura.

A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indica que o final de semana na capital baiana seguirá com fortes pancadas de chuva. As temperaturas mínimas no sábado e domingo, respectivamente, serão de 21ºC e 19ºC. No mesmo período, as temperaturas máximas estimadas são de 32ºC e 31ºC. A chuva forte seguirá pelo menos até a próxima segunda-feira (27).

O Inmet também apontou que Salvador está dentro da média de chuva esperada para o mês de abril, que é de 258 mm. Até a sexta-feira (24), cerca de 70% desse volume já havia caído na cidade.

A Codesal, por sua vez, espera ainda mais: o estimado é de 295,7 mm para este quarto mês do ano. O órgão não informou qual o volume de chuva calculou que tenha caído na capital.

Ainda de acordo com a Defesa Civil, o maior pico de chuva foi registrado no bairro do Matatu no dia 6, mas foi no último dia 23 que se apresentou a maior média de chuva distribuída em toda cidade (59,4 mm).

Esse volume distribuído impactou diretamente no número de solicitações de vistoria registrado pela Codesal. Só em Abril, foram mais de 2.060. O período de pico foram os dias 23 e 24. Abril, maio e junho são os meses que historicamente mais chovem no município.

Trabalho dobrado Nesse período de chuvas na capital baiana, o trabalho da prefeitura é reforçado. De acordo com o diretor da Codesal, Sosthenes Macêdo, todas as equipes são reforçadas para atuar na Operação Chuva.

"O trabalho aumenta muito nesse período, por isso lançamos anualmente a Operação Chuva, justamente com a finalidade de reforçar todos os quadros de equipes da Defesa Civil. Através do decreto da prefeitura, assinado em março, essa medida já está valendo até julho. Todas as equipes da Codesal, junto com outras secretarias, Transalvador, Guarda Municipal, Sedur, Limpurb, todas passam a ter mais profissionais atuando nessa operação".

O diretor pontua ainda que, com a pandemia do novo coronavírus, a Codesal tem adotado medidas novas quando há necessidade de evacuar imóveis em risco e alojar famílias em escolas, por exemplo. "Instalamos pias nas áreas externas, para que todos façam a higienização das mãos, e todos os profissionais da Codesal usam máscaras. Quando precisamos de reforço, cedemos máscaras pra os profissionais que chegam. Também temos em todas as viaturas água com detergente e álcool em gel", garente.

Ele acrescenta que, uma das medidas da Codesal, quando há evacuação de áreas, é fornecer máscaras para as famílias. Há ainda a preocupação de alojar no máximo 50 pessoas por instituição - em caso de escolas maiores, cada ala recebe no máximo 50 desabrigados.

Mais chuva A Região Metropolitana de Salvador também está recebendo muita chuva. Em nota, a prefeitura de Lauro de Freitas informou que o aguaceiro provocou alagamentos e congestionamentos em principais vias da cidade. Foram identificados pontos de alagamentos nas avenidas Beira Rio e Luiz Tarquínio, na Rua Gerino de Souza e na localidade de Boca da Mata, no bairro de Portão, um local já considerado crítico pela Defesa Civil devido à proximidade do Córrego dos Irmãos. Foto: Arisson Marinho/CORREIO O município ainda alega que os impactos da chuva vêm sendo minimizados no município em função das obras de Macrodrenagem dos Rios Joanes e Ipitanga. Ademais, o Governo do Estado, através da CONDER, realiza obras de manejo de águas pluviais para diminuir as enchentes e transtornos causados pelos alagamentos em períodos de muita chuva. 

A macrodrenagem consiste na construção de seis reservatórios de amortecimento ao longo do rio e seus afluentes, desassoreamento e alargamento da calha em cinco quilômetros do rio para aumento da vazão e consequentemente acelerar o escoamento das águas pluviais.

Por fim, a Prefeitura Municipal mantém equipes da Operação Chuva, que envolve seis secretarias, em prontidão. Além da obra de macrodrenagem, ações preventivas diárias são realizadas pelas secretarias de Serviço Público e Infraestrutura, como a limpeza de rios, córregos e bueiros, a fim de evitar problemas.

Ocorrências Só na sexta-feira, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) recebeu 513 solicitações até às 17h.  Foram 183 deslizamentos de terra, 101 ameaças de desabamento, 75 ameaças de deslizamento, 53 avaliações de imóvel alagado, 23 infiltrações, 18 árvores ameaçando cair, 17 imóveis alagados, 12 desabamentos de muro, nove desabamentos parcial, cinco ameaças de desabamentos de muro, cinco árvores caídas, quatro orientações técnicas, duas avaliações de área, dois galhos de árvores caídos, dois desabamentos de imóveis, um armazenamento de material perigoso e uma pista rompida.

Em caso de necessidade, a população deve buscar ajuda pelo telefone gratuito 199.* Com supervisão da subeditora Clarissa Pacheco