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Casos de gripe crescem 162,5% em Salvador; maioria é do vírus H3N2

Até esta quinta (16) foram 147 casos confirmados em Salvador e uma morte

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  • Da Redação

Publicado em 17 de dezembro de 2021 às 05:30

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

Salvador já vive uma epidemia de gripe. De segunda-feira (13) para a quinta-feira (16) os casos de infecção pelo vírus Influenza mais que dobraram na cidade e houve alta de 162,5%, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS). São 147 confirmações até agora, sendo 38 em apenas 24 horas (de quarta para ontem). Nas secretarias da prefeitura, quatro titulares estão afastados por sintomas gripais. 

A maioria dos casos na capital é da variante H3N2 (98%, ou seja, 144 notificações). Essa mutação do vírus Influenza A já causou a primeira morte na Bahia, anteontem, de uma mulher de 80 anos, segundo confirmou a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).  

Até o Google tem sido mais usado para pesquisar sobre a doença. A busca pela palavra “gripe”, na Bahia cresceu 810% desde o domingo (05). A escritora Luana Rabelo, 22 anos, foi uma das pessoas que gripou. “Dois anos evitando pegar covid para ficar dois dias derrubada por causa dessa gripe nova”, relatou pelo Twitter.

Ela diz que cancelou todos os compromissos da semana e que ficou de cama na terça e quarta-feira. Ontem, sentiu uma melhora. “Já voltei a trabalhar, em home-office", conta.  

Os dois irmãos dela também ficaram doentes, o que nunca tinha acontecido antes, segundo a mãe de Luana. “Ela teve que se revezar entre os três quartos para dar remédio. Ninguém nunca tomou vacina aqui e nunca pegou gripe forte. Já peguei outras gripes, mas descansei um dia e depois ela passava. Mas, essa, realmente, está diferente. Cheguei a ficar enjoada e meu irmão vomitou”, detalha Luana. Ela sentiu dor de cabeça, febre, dor de garganta, coriza e enjoo. E conhece, pelo menos, 10 pessoas que também pegaram o vírus.  

Já a professora de capoeira Carla Patrícia Lima, 40, começou a ter sintomas na noite de domingo (12). “Gripe me deixa muito indisposta, com muitas dores no corpo e cansaço. Não lembro o último dia que tive uma gripe dessa”, conta ela, que  tomou a vacina ,  ainda mantém a máscara e foi na emergência na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Brotas, na manhã de ontem. “Tenho mãe idosa e não posso vacilar”, diz. O médico pediu para que ela tratasse a febre com dipirona e, para a gripe, Cimegripe.  

A doença também pegou de jeito uma advogada que não quis se identificar e o juiz responsável pelo processo em que ela atua, que está afastado. O problema é que a ação está em fase de execução e não citaram a defensora na intimação. Por isso, ela não pôde se manifestar sobre o bloqueio dos bens da empresa de combustíveis  para a qual advoga. Foram bloqueados R$ 2,5 milhões e a advogada precisa resolver a questão até hoje, antes do recesso do Judiciário. Caso contrário, há o risco de 250 pessoas não receberem o salário e nem 13º. 

“É uma responsabilidade muito grande, dá vontade de chorar. Estou na esperança de conseguir falar com o juiz substituto e posso tentar recurso em caráter de emergência, mas a chance de isso acontecer até o final do ano é quase nula”, desabafa. 

 A advogada também sente sintomas como tosse, moleza e febre. Ela foi em uma emergência hospitalar na quarta-feira (15) e confirmou que não era covid-19 após fazer o teste. Além dela, outras quatro pessoas da sua empresa também estão gripados.

Variante Darwin 

Existem vários tipos de gripe causadas pelos vírus Influenza A ou Influenza B. O surto deste ano é de uma das mutações do influenza A, a H3N2, de uma nova cepa apelidada de Darwin, em homenagem ao naturalista, geólogo e biólogo britânico Charles Darwin. Segundo o virologista Gúbio Soares, coordenador do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (ICS-Ufba), a nova cepa surgiu na Austrália.  

“Esse vírus vem circulando o mundo inteiro e, agora, com a flexibilização, com festas e shows de até cinco mil pessoas na Bahia e plateia em estádios de futebol, o vírus não encontrou resistência”, explica o pesquisador.  

Segundo a SMS, 58% do público alvo foi vacinado contra a gripe, o equivalente a 416 mil pessoas. Atualmente, podem receber o imunizante trabalhadores da saúde, crianças entre 6 meses e 6 anos; gestantes e puérperas; pessoas com mais de 60 anos; povos indígenas e quilombolas e pessoas com comorbidades ou deficiência permanente. Os postos também aplicam a segunda dose nas crianças vacinadas pela primeira vez em 2021. 

A virologista Viviane Botosso, membro da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), explica que o influenza está em constante mutação, mas a base do vírus não muda, apenas a superfície. “É uma evolução natural do vírus. As mutações são localizadas nas proteínas da superfície do vírus, que são as primeiras a entrar em contato com nosso sistema imune. Portanto, precisamos tomar nova vacina todo ano contra as novas cepas que começam a circular”, esclarece.  

Viviane constata que surtos de gripe tendem a ocorrer no Inverno e não em dezembro, dias antes do Verão. “Estamos vivendo um surto totalmente atípico, porque não é o momento para circulação de influenza. O que acontece é que a vacina não protege 100% contra o vírus. Por isso, temos que tomar as medidas não farmacológicas, que são as mesmas do coronavírus: uso de máscara, isolamento e evitar aglomerações”, orienta.  

Baixa letalidade 

O virologista Gúbio Soares acrescenta que a taxa de letalidade do vírus é baixa, mas é preciso cuidado com doenças secundárias e que se aproveitam do organismo enfraquecido. “Morreu uma idosa, mas ela já tinha 80 anos. Normalmente, eles deixam a pessoa enfraquecida, vêm uma infecção secundária, uma bactéria, por exemplo, ou pneumonia, e a pessoa não resiste”, explica. A idosa que faleceu morava em Salvador e não estava vacinada contra a doença. Ela era portadora de doença cardiovascular crônica e diabetes. 

Os grupos de risco, ou seja, idosos, crianças e pessoas com comorbidades, como era o caso da idosa que morreu, são mais susceptíveis a pegar o vírus de maneira mais grave. “A gripe ataca cada organismo de uma forma diferente. Normalmente, [a pessoa] consegue se recuperar rapidamente. Porém, a gripe é uma doença séria, é preciso tomar cuidado porque tem um número de morbidade muito alto, deixando as pessoas doentes incapacitadas para trabalhar, e pode causar óbito, principalmente nas populações de alto risco”, afirma Viviane Botosso.  

O professor Gúbio também diz que a variante Darwin não foi incluída na vacina distribuída no programa de vacinação. “O vírus que temos na vacina de hoje é o de Hong Kong, da gripe do ano passado. O vírus que está circulando esse ano vai estar, provavelmente, na vacina do próximo ano. Mas, como o vírus mantém as características de outros influenza, a vacina protege de 80 a 85%, para que a pessoa não pare em hospital. Ela reduz o impacto da doença”, detalha o virologista.  

No ICS-Ufba, o coordenador relata que o número de pessoas com sintomas gripais em busca de teste de covid-19, que tem os mesmos sintomas da gripe, aumentou 70% nessa semana. “Vai sobrecarregar o sistema de saúde, porque as pessoas estão com medo, achando que é covid”, afirma.  

A sobrecarga também é preocupação da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS). "Estamos chegando a um nível crítico do sistema de saúde. Amanhecemos com 46 pessoas com outras doenças esperando regulação, 38 casos de influenza notificados e 29 regulações para covid ou influenza. O sistema está pressionado", disse o secretário titular da pasta da Saúde, Leo Prates. "Se continuarmos nesse ritmo, até segunda-eira chegaremos ao nível de epidemia", alertou. 

28,2% dos casos de gripe geraram hospitalizações na Bahia 

Na Bahia, são 170 casos confirmadas de Influenza A H3N2, de acordo com o último boletim divulgado pelo Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lancen-BA). Destes, 48 evoluíram para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e necessitaram de hospitalização. Ou seja, a taxa de internamento é de 28,2% no estado, o que significa que quase um terço dos infectados desenvolveram sintomas graves.  

“A predominância dos casos está aqui em Salvador e também temos casos em outros municípios e quatro de outros estados. Alertamos a população sobre os cuidados de prevenção e a vacinação: distanciamento, higiene das mãos e uso de mascara.”, destaca a secretária da Saúde, Tereza Paim. 

Além de Salvador, com 144 casos, registraram ocorrências os municípios de Alagoinhas (1), Camaçari (1), Catu (3), Conceição do Jacuípe (1), Eunápolis (1), Feira de Santana (2), Gandu (1), Itabepi (2), Laje (1), Lauro de Freitas (2), Macajuba (1), Porto Seguro (1), Presidente Tancredo Neves (2), São Sebastião do Passé (5), Teolândia (1) e Vitória da Conquista (1).