Celebrando mil dias de governo, Bolsonaro faz discurso reflexivo na Bahia: ‘para onde vou?’

‘Às vezes me pergunto como chegamos até aqui’, disse presidente, que inaugurou rodovia duplicada e centro esportivo; também citou ações do governo na pandemia

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  • Da Redação

Publicado em 28 de setembro de 2021 às 15:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) visitou, nesta terça-feira (28), a cidade de Teixeira de Freitas, no sul da Bahia, onde participou da inauguração da Estação Cidadania, de entrega de títulos de propriedades rurais e de duplicação das rodovias BR-116 e da BR-101. 

Durante o evento, que foi alusivo aos mil dias da gestão Bolsonaro, o líder nacional foi bastante aplaudido por simpatizantes locais – Teixeira de Freitas foi um dos quatro municípios baianos, entre os 417, que deram maioria de votos ao então candidato do PSL nas eleições de 2018.

Durante o discurso, que encerrou a visita à Bahia, o presidente adotou um tom reflexivo, citando várias passagens da Bíblia, e falando sobre liberdade e atenção aos mais humildes.

“Às vezes me pergunto 'como chegamos até aqui?', 'como estamos sobrevivendo', 'como estamos nos comportando ainda sob uma difícil fase da pandemia, com consequências terríveis não só para o Brasil, bem como para todo o mundo”, comentou ele no início da sua fala, que foi aplaudida em diversos momentos.

No discurso, também deu destaque aos problemas que o Brasil vem enfrentando, sempre atribuindo a fatores externos à sua atuação, e citou ações do governo federal para enfrentar problemas decorrentes da pandemia.

“Como consequência [da pandemia], temos uma inflação alta, em especial nos gêneros alimentícios. Isso no mundo todo. Enfrentamos uma das maiores secas da história do Brasil, refletindo diretamente no preço da energia. Enfrentamos há pouco também uma geada ímpar, que atacou e prejudicou em grande parte a nossa agricultura. Enfrentamos também alguns governadores pelo Brasil que fecharam tudo, sem se preocupar com as consequências para os mais humildes”, declarou Bolsonaro, que “Por muitas vezes, eu olho no espelho e me pergunto: 'quem sou eu, de onde vim, como cheguei até aqui, para onde vou?' São perguntas que não temos respostas, a não ser quando se olha para cima e fala: 'foi obra do nosso Deus'”, declarou, num trecho do discurso que pode ser lido na íntegra mais abaixo.Inaugurações na Bahia A Estação Cidadania, onde o evento ocorreu, é um centro de iniciação ao esporte que conta com ginásio poliesportivo e quadra externa para a prática de modalidades olímpicas e paralímpicas. O projeto do Ministério da Cidadania é legado de infraestrutura esportiva dos Jogos Rio 2016, que tem o objetivo de identificar talentos, formar atletas e incentivar a prática esportiva em territórios de vulnerabilidade social.

Ainda durante o evento, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento fizeram a entrega simbólica de cinco títulos de domínio de terra a produtores rurais da região.

O Ministério da Infraestrutura (MInfra) e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) também inauguraram, de forma simbólica, um trecho de 5,4 quilômetros de pista duplicada da BR-116, em segmento que liga as cidades de Feira de Santana e Santa Bárbara. Já na BR-101, foi liberado, nesta terça-feira, um trecho de 4,14 quilômetros de duplicação, que faz parte de um lote executado com pavimento rígido.

À tarde, Bolsonaro estará em Teotônio Vilela, em Alagoas, onde participa da entrega de 200 moradias a famílias de baixa renda. Logo após a solenidade, o presidente embarca de volta à Brasília.

Leia o discurso de Bolsonaro em Teixeira de Freitas na íntegra:

"Bom dia, minha Bahia. Bom dia meu Brasil. Agradeço a Deus pela minha vida e também a Ele, que pelas mãos de muitos de vocês, me colocaram na Presidência da República. Sabíamos dos desafios, das dificuldades e de que o povo precisava. Jamais esperava estar na situação que me encontro no momento, sobrevivendo a uma tentativa de assassinato e se elegendo, num pequeno partido do Brasil. Realmente, só Deus explica o que aconteceu comigo e com a nossa pátria.

Mas, as missões difíceis sabemos que Ele nos dá, mas também sabemos que Ele sempre estará ao nosso lado enquanto nós formos, obviamente, obedientes a Ele. Às vezes me pergunto 'como chegamos até aqui?', 'como estamos sobrevivendo', 'como estamos nos comportando ainda sob uma difícil fase da pandemia, com consequências terríveis não só para o Brasil, bem como para todo o mundo. 

Como consequência, temos uma inflação alta, em especial nos gêneros alimentícios. Isso no mundo todo. Enfrentamos uma das maiores secas da história do Brasil, refletindo diretamente no preço da energia. Enfrentamos há pouco também uma geada ímpar, que atacou e prejudicou em grande parte a nossa agricultura.

Enfrentamos também alguns governadores pelo Brasil que fecharam tudo, sem se preocupar com as consequências para os mais humildes. 

Tivemos oportunidade de atender 68 milhões de pessoas que perderam sua renda. Sabíamos que eles tinham dificuldade de sobreviver. Foi o maior plano social do nosso Brasil. Somente o ano passado, a título de Auxílio Emergencial, o Brasil gastou com vocês aproximadamente o equivalente a 13 Bolsa Família. Um sinal que nós nos preocupamos com os mais humildes.

Também, com outros projetos, conseguimos a manutenção de empregos para quem tinha carteira assinada. Talvez um dos poucos países do mundo que ao final de 2020, com a pandemia bastante forte, concluímos este ano com mais pessoas com carteira assinada do que dezembro de 2019. Mas, o grande problema eram os mais humildes, como disse agora há pouco o deputado baiano, o nosso ministro da Cidadania João Roma. Temos que trabalhar sim para atender a esses que ainda não retornaram ao mercado de trabalho. 

O Brasil é grande, é próspero. Temos um país rico e podemos atender aos mais necessitados por mais algum tempo, e pedimos a Deus que essa pandemia se vá logo embora, e todos nós possamos voltar à normalidade. 

Dizia a vocês que enche os olhos, desde quando nós assumimos, cada vez mais ver pelo Brasil não mais as cores vermelhas, mas as cores verde e amarela da nossa bandeira. 

Sabemos que o bem maior de um povo é a sua liberdade. Nisso, nós temos a certeza, como demonstrado no último dia 7 de setembro, que não abriremos mão. Com a liberdade, com esperança e com fé, nós venceremos quaisquer desafios. 

A certeza de estarmos no caminho certo é a forma como o nosso povo tem se apresentado por todo o Brasil. Não tem preço estar no meio de vocês. Isso é gratificante. 

E perguntei agora há pouco a João Roma o que leva esse povo, no momento difícil ainda que estamos vivendo, estar ao nosso lado. Ele respondeu: 'é a fé, é a esperança, é a certeza que estamos dando o melhor de nós para o futuro da nossa nação'. 

Desde quando decidi disputar a Presidência da República, não procurei grandes partidos ou pessoas poderosas para estar ao meu lado. Busquei algumas passagens da nossa Bíblia, como o João 8:32: 'o nosso povo precisava de verdade'. Não podia mais continuar sendo enganado por ocasião das eleições. E falar a verdade não é fácil, mas, não para minha surpresa, para minhas convicções, falar a verdade foi um grito de liberdade no meio do povo brasileiro.

Quando assumimos, busquei outra passagem bíblica: 'por que sempre nós buscamos responsabilizar alguém pelo nosso insucesso?' Isso é comum no meio do nosso povo, e isso também já fez parte da minha vida no passado. Eu peguei outra passagem onde diz que por falta de conhecimento, meu povo pereceu.

Nós devemos criticar quem quer que seja: deputado, senador, presidente ou ministro, mas criticar com fundamento e com razão. Assim nós podemos mudar o destino do nosso Brasil. 

No momento, eu vivo uma outra passagem. Na verdade, o resumo de uma parte da nossa Bíblia Sagrada que diz: 'nada temeis, nem mesmo a morte, a não ser a morte eterna'. A morte eterna estará longe daqueles que creem em Deus e buscam fazer o bem para o seu próximo. É o caminho mais difícil aqui na Terra, mas é o mais consagrador.

Por muitas vezes, eu olho no espelho e me pergunto: 'quem sou eu, de onde vim, como cheguei até aqui, para onde vou?' São perguntas que não temos respostas, a não ser quando se olha para cima e fala: 'foi obra do nosso Deus'. 

Estamos passando agora pela nossa Bahia. Logo mais à tarde estarei nas Alagoas. Aqui, uma cerimônia simples: entrega de títulos de propriedade. Mas para pessoas humildes, pessoas que só sabem viver arando com o suor do próprio rosto a sua terra. E esse título de propriedade é uma carta de alforria, é um grito de liberdade, é a certeza que vocês não serão mais escravizados por quem quer que seja. É a certeza também de que o que você ali construir na sua propriedade, ficará para os teus filhos e netos.

Nós garantimos a propriedade privada para vocês. Garantir que nunca mais serão usados politicamente para um projeto de poder de quem quer que seja. Vocês passam a ter aquilo que é de mais sagrado entre nós, que é a nossa liberdade. E esse gesto pra nós custa pouco. [Cita autoridades presentes].

Assim sendo, eu só tenho uma coisa a falar para vocês: muito obrigado por mais essa oportunidade de poder - não mais usando a farda do Exército brasileiro, como eu usei por 15 anos, e como Tarcísio [Gomes de Freitas], o nosso ministro da Infraestrutura também o fez. Mas continuar servindo a pátria por outros meios, por engrandecimento do nosso país e para o bem-estar do nosso povo. Obrigado a Deus pela oportunidade. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Muito obrigado."