Cenas de Carnaval: a irreverência do folião

O povo também é parte do espetáculo

Publicado em 23 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO

Nem só de artistas, blocos e celebridades vive o Carnaval. Muito pelo contrário. Sem o povo, que vai, vem e, muitas vezes, fica nos circuitos, a festa seria como ouvir música em casa. Uma parte curiosa - e deliciosa - da folia são aqueles que saem de casa munidos do sentimento de aparecer, de não só ver, mas também ser visto.  Desde a invenção da Fobica, nos anos 50, por Dodô & Osmar, que o povo quer contribuir com a alegria do Carnaval e, dentro dessa vontade, cabe de tudo, como do folião da foto principal. Para fugir da unidade do bloco Inter (como agora se chama o tradicionalíssimo Os Internacionais, fundado há mais de 50 anos), onde todos usam camisas iguais, o homem resolveu ser único. 

[[galeria]] Penteado invocado, lupa brilhante, corrente (voando), meião de baba e um tênis ‘cheguei’. Tudo, claro, para chamar a atenção. O fotógrafo Evandro Veiga ainda registrou um pulo e o folião conseguiu o que queria: atenção. Todos na foto o observam.  A câmera é estopim da vontade de ser visto: a bandeira do estado de onde o turista vem, a plaquinha com o ‘Mãe, tô na TV’, a dança, a fantasia exagerada, os apetrechos levados. Mas se engana quem pensa que só a rua é palco para aparecer. Uma passada nos atuais camarotes e nos deparamos com camisas cavadas para mostrar músculos e shorts minúsculos, além dos saltos - aliás, quem inventou ir de salto para o Carnaval? Aparecer, por sinal, é até uma contradição à história da festa, que remonta aos bailes de máscaras desde a Idade Antiga, mas bem apropriada ao tempo de selfies e instagrams. Alguns, no entanto, preferem manter a característica original. A festa segue sendo o momento de se esconder, onde as normas de comportamento são suspensas, se levarmos em conta uma visão antropológica. De máscara, anônimo, vale abusar, gritar e dançar livremente. E sem medo de cliques.

Cenas de Carnaval é um oferecimento do Bradesco, com patrocínio do Hapvida e apoio de Claro, Fieb, Salvador Shopping, Vinci Airports e Unijorge.