Cenas de Carnaval: Filhos de Gandhy

Tradição da alma em azul e branco

Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paulo M. Azevedo/15.02.2010/Arquivo CORREIO

Ajayô! A saudação a Oxalá virou uma marca quase registrada do Afoxé Filhos de Gandhy. E por todos os circuitos se espalham o cheiro de alfazema, o balançar dos colares e o toque do agogô. 

O Gandhy acabou de comemorar 70 anos de vida e é a entidade mais antiga desfilando no Carnaval de Salvador. Fundado por estivadores, homenageia Mahatma Gandhi, falecido um ano antes, e alterou a última letra do nome do indiano para fugir de uma possível represália do governo, que já tinha intervindo no sindicato da categoria.

O ideal principal do Gandhy segue Gandhi: a paz. E ela veio, reza a lenda, após o bloco se tornar exclusivamente masculino. Haviam muitas brigas e entreveros com os homens dando em cima das esposas, namoradas, irmãs, etc. dos outros. A solução foi radical: proibir o sexo feminino e o consumo de álcool dentro do Gandhy. 

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O Afoxé já enfrentou altos e baixos em sua história e chegou a ficar alguns anos sem desfilar, em meados da década de 70, quando já tinha seu integrante mais famoso - Gilberto Gil - em seus quadros. 

Mas o Gandhy se reorganizou e chegou ao ápice em meados dos anos 2000, quando era fácil encontrar um integrante bem longe de onde o bloco desfilava. Muitos não sabiam nem o que era o Padê. Só compravam a fantasia para usar os colares e trocarem por beijos. A perda do objetivo real da entidade gerou críticas e até uma mudança radical, com o turbante azul em 2006. Mas logo o ‘tapete branco’ retornou.

Aos 70 anos, o Gandhy celebra uma vivacidade que poucos blocos possuem no Carnaval: uma tradição que mora na alma. “Quando eu tô no Gandhi, eu gosto do canto e da dança do ijexá. Aí eu me sinto parte integrante, molécula, partícula de uma coisa grande que é o canto e a dança da Bahia, o canto e a dança que vieram da África, a tradição do Candomblé. É um momento insubstituível. Têm muitas outras coisas boas na vida, mas tocar seu agogô ali na avenida não dá nem pra falar”, escreveu Gil, no aniversário do Afoxé. E é bem isso. Ajayô!

*Cenas de Carnaval é um oferecimento do Bradesco, com patrocínio do Hapvida e apoio de Vinci Airports, Fieb, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova e Sebrae