Cenas de Carnaval: Malê Debalê

A cultura afro sob a bênção do Abaeté

Publicado em 18 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Manu Dias/13.02.1999/Arquivo CORREIO

“Vamos fazer um bloco para desfilar no Carnaval?”. Essa pergunta já foi feita por muito mais vezes que a quantidade de blocos - incluindo aqueles de uma dezena de pessoas apenas - que existem no Carnaval baiano.

É uma questão de conectar o grupo social que se pertence à maior festa do planeta. Foi isso que fizeram Josélio de Araújo, Ubirajara Fernandes Lopes de Souza, Antônio Santana, Erivaldo Paulo de Oliveira, Delson dos Santos, Miguel Arcanjo dos Santos, Jorge Santos de Jesus, Antônio Luís Lopes de Souza, Alberto Caetano de Souza Santos e Enaldo Carvalho em março de 1979, à beira da Lagoa do Abaeté. Assim, no mesmo ano do CORREIO, nasceu o Malê Debalê, o bloco afro que colocou Itapuã no mapa do Carnaval e completará 40 anos no próximo mês.

A primeira parte do nome homenageia os negros que lutaram na Revolta dos Malês, levante histórico que aconteceu em janeiro de 1835 por negros de origem islâmica que lutavam contra a escravidão, sendo a revolta mais importante que aconteceu no estado.

Mas os fundadores não queriam deixar o nome só ‘Os Malês’, como era a ideia inicial. Resolveram, então, adotar um segundo nome. E alguns dos fundadores sugeriram ‘debalê’, termo que haviam ouvido numa música cantada pelo Badauê em um dos seus ensaios. Assim, com uma significação de ‘positividade’ surgiu o complemento ‘Debalê’.

Em seu primeiro Carnaval, em 1980, o Malê já saiu vencedor do concurso que era oferecido pela prefeitura como melhor afro, com o tema Reino Dourado dos Achantes. A música, Diz Meu Povo, convidava a população a conhecer o bloco e ainda fazia reverência ao Ilê Aiyê, os Filhos de Gandhi e o Badauê.

[[galeria]] É bom que se diga que, por mais que carregasse o nome ‘malê’, o grupo não tinha qualquer influência muçulmana em seus fundadores, foi apenas uma referência.  A intenção maior era de afirmação de Itapuã, como mostram alguns dos elementos no brasão do bloco: os búzios, os peixes e lua, além do próprio nome do bairro. A estrela indica a ancestralidade e a negra, a beleza da mulher negra.  A grande novidade do Malê, e um dos seus destaques até hoje, foi a presença de uma balé coreografado, já elogiado pelo The New York Times. Nos outros afros, a dança dos foliões era livre.  Até hoje, tendo crescido como entidade e com um belo trabalho social, o Malê segue carregando Itapuã para onde vai, levando consigo a beleza da cultura afrobrasileira.

*Cenas de Carnaval é um oferecimento do Bradesco, com patrocínio do Hapvida e apoio de Vinci Airports, Fieb, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova e Sebrae