Cerca de 300 mil idosos ainda precisam ser vacinados em Salvador 

No ritmo atual, imunização dos maiores de 60 anos soteropolitanos acabaria no final de junho: faltam vacinas

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  • Marcela Vilar

Publicado em 11 de março de 2021 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paula Fróes/CORREIO

A vacinação avança, mas, ainda faltam cerca de 300 mil idosos maiores de 60 anos para serem vacinados em Salvador. Para ser mais exato, 298.396 pessoas, que têm entre 60 e 77 anos (veja tabela completa no final da matéria). Para que a primeira etapa da primeira fase vacinação seja concluída, que inclui somente idosos acima de 75 anos, restam, no mínimo, 27.459 pessoas para serem imunizadas. Isso se for considerado que todas as outras faixas etárias já receberam o imunizante - o que não ocorreu. Com esse ritmo de vacinação, de, em média, cerca de 3.400 mil pessoas por dia recebendo o imunizante, seriam necessários 88 dias para que todo esse grupo de risco de maiores de 60 anos fossem vacinados, ou seja, só terminaria final de junho. Para concluir a primeira etapa, das pessoas acima de 75 anos, seriam precisos oito dias de vacinação.  

Mais de 69 mil idosos e mais de 100 mil profissionais de saúde foram vacinados até então. A estimativa inicial da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) é de que eram 250.914 idosos acima de 60 anos e 102.997 trabalhadores de saúde na capital baiana. Porém, o número mudou – houve um aumento de 36%. O total de idosos e profissionais da linha de frente somam quase 450 mil pessoas em Salvador.  

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), 53 mil pessoas maiores de 80 anos foram vacinadas. O número está misturado com os profissionais de saúde e, como a secretaria trabalha com uma estimativa populacional, o número pode alterar. Com o novo lote de vacinas que chegou na quarta-feira (10) ao município, daria para concluir a vacinação de quem tem entre 75, 76 anos até o final de semana. Mas, como alguns profissionais de saúde também receberão uma parte desse lote, os idosos mais novos terão que esperar.  

A aposentada Vera Rizzo, de 76 anos, é a próxima da fila. Pela idade, ela deve se vacinar amanhã (11) ou até a sexta-feira (12), em algum dos drives–thru disponíveis. De quarentena rigorosa desde março do ano passado, ela não sai nem para ir ao mercado. Os irmãos mais novos, mas também da faixa etária de risco, fazem as compras para ela. “Não saio para canto nenhum porque tenho medo. Quando saio, é de máscara”, conta Vera.  

De vez em quando, ela até que dá umas escapulidas de casa, mas não chega a sair do carro. “Às vezes, pego o carro e compro um lanche, paro na beira da praia, abro a porta, mas como no carro mesmo. Faço isso porque se não a cabeça pira, a pessoa fica maluca de vez”, acrescenta. Nem as caminhadas, que fazia como exercício, ela faz mais. “Tenho medo porque tem muita gente na rua, o povo todo sem máscara, então a gente tem que se precaver”, conclui. Ansiosa, ela irá, assim que puder, garantir sua vacina. Mesmo após as duas doses, ela continuará com as precauções. 

223 municípios baianos recebem no lote da vacina  A nova remessa da vacina da Coronavac que chegou no território baiano na manhã de quarta-feira irá ser distribuída para 223 municípios da Bahia, segundo a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A previsão é que elas cheguem até o final do desta quarta ou, no máximo, até amanhã (11), a estes municípios. Todas elas são referentes à primeira dose e a Sesab retém 50% do recebido, para garantir que o intervalo de 28 dias de aplicação da segunda injeção será cumprido.  

Os outros 194 municípios não foram habilitados para receberem o imunizante. “Somente estão contemplados com essa remessa aqueles municípios que já utilizaram 85% ou mais das doses recebidas. É importante também lembrar que somente os municípios que estão com 90% ou mais serão contemplados com a redistribuição das doses daqueles municípios não habilitados. O intuito é exatamente tentar acelerar o processo de vacinação e evitar que as doses fiquem represadas”, explica a coordenadora de imunização de Sesab, Vania Rebouças. A pasta pode reavaliar os critérios a qualquer momento e reforça que não foi uma decisão imposta e sim discutida com os representantes municipais.  

As cidades, inclusive, que conseguirem avançar na vacinação do público acima de 75 anos, pode começar a imunizar os idosos acima de 70. “Foi pactuado, em CIB [Comissão Intergestora Bipartite], que os municípios irão vacinar os seus idosos por ordem decrescente de idade. Na primeira fase, estão contemplados os idosos a partir de 75 anos ou mais. No entanto, alguns municípios já conseguiram avançar, porque esses dados são de estimativas populacionais”, esclarece Vânia. A Sesab não soube informar quantas cidades já concluíram a imunização das pessoas com mais de 75 anos: “Os dados ainda estão sendo consolidados”.  

A pasta também não sabe informar quando acabará a vacinação da primeira etapa – que contém os indígenas, idosos maiores de 75 anos, idosos em instituições de longa permanência e trabalhadores de saúde. Em nota, a secretaria informou que “o objetivo do Governo do Estado é vacinar o máximo de pessoas o mais rápido possível, o que depende, hoje, apenas da disponibilidade de vacinas”. 

Sobre os dados dos municípios, que, muitas vezes, não são os mesmos que os das prefeituras dos municípios, a pasta diz que “a base de dados utilizada pela Sec de Saude do Estado é preenchida pelos próprios municípios”.    

O cronograma do quantitativo de doses que será enviado especificamente para a Bahia não foi disponibilizado pelo Ministério, somente o total geral para as 27 unidades federativas. O órgão informou que isso só é contabilizado após a distribuição dos frascos.   

Vacinados desta quarta  A professora aposentada Joanita Batista, 77, se vacinou no campus de Ondina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), na tarde de quarta. “Foi um alívio, porque eu estava muito ansiosa. É a primeira dose, mas a gente já se sente mais segura, dá mais segurança para enfrentar essa guerra”, relata Joanita, da Vila Laura. Ela mora sozinha e está em isolamento desde que começou a pandemia, em março de 2020. Só sai de casa uma vez no mês para fazer os pagamentos no banco. Até médicos ela deixou em segundo plano. “Depois de tomar a segunda vacina, vou começar a me cuidar, porque estou meio desleixada da saúde, nem médico estou indo”, confessa.  

Viúva e amante de uma boa cervejinha, Joanita deixou de visitar seus filhos, netos e parentes desde então. As viagens, o salão de toda semana e uma tarde em Itapuã no sábado também tiveram que esperar os números da pandemia melhorarem. “Fiquei muito só, então é uma ansiedade, uma solidão, uma tristeza que só Jesus na causa. O que me ajudou muito é o celular, já domino um pouco para poder me comunicar com minhas amigas”, conta. Até do mercado ela tem saudade de ir. Por enquanto, as compras são feitas pelo filho e pela vizinha. Ela tomará a próxima dose no dia 7 de abril. 

Ao contrário de Joanita, que não pegou muita fila, Dolores Domingues fez um tour pela cidade para ver qual local de vacinação estava mais vazio. Ela passou pelos drives-thru da Ufba, 5º Centro e Arena Fonte Nova, todos cheios. Após passar pelos três lugares, voltou para o menos pior deles, o 5º Centro. Lá, teve que aguardar 2 horas e meia na fila para receber a primeira dose da Coronavac. Ela desconhecia o filômetro, aplicativo criado pela SMS que indica como está o movimento nos postos de vacinação. É só acessar por este link. 

Vacinada, Dolores está agora mais tranquila. “Agora já meio caminho andado. Com a primeira dose, dá mais tranquilidade, porque é uma segurança para a gente”, afirma. O marido, de 81 anos, já foi vacinado com as duas doses. A rotina dos dois mudou bastante: a dona de casa deixou de encontrar com as amigas, ir aos shopping centers, cinema e teatros. Mas, apesar do isolamento, ela não tem do que se queixar. “Estou bem dentro de casa, somos abençoados pelo conforto e tenho uma grande paz de espírito. E também fico mais reservada. E se acontece algo e trago [a covid-19] para dentro de casa?”, indaga. Os filhos e netos ela só vê por videochamada e as compras da farmácia e mercado o casal faz tudo online.   

Doses recebidas pela Bahia do Ministério da Saúde (fonte: Sesab)  376.600 doses de Coronavac, no dia 18/01/2021;   119.500 doses de Astrazeneca, no dia 24/01/2021;   54.600 doses de Coronavac, no dia 25/01/2021;   186.200 doses de Coronavac, no dia 06/02/2021;   129.500 doses de Astrazeneca, no dia 24/02/2021;   79.200 doses de Coronavac, no dia 24/02/2021;   165.600 doses de Coronavac, no dia 03/03/2021.  178.600 doses de coronavac no dia 09/03/2021 

Total de idosos por faixa etária em Salvador (fonte: SMS) 61 anos - 24.054 pessoas  62 anos - 23.336 pessoas  63 anos - 22.238 pessoas  64 anos - 20.815 pessoas  65 anos - 19.770 pessoas  66 anos - 18.992 pessoas  67 anos - 17.988 pessoas  68 anos - 17.376 pessoas  69 anos - 16.213 pessoas  70 anos - 15.337 pessoas  71 anos - 14.133 pessoas  72 anos - 13.194 pessoas  73 anos - 12.128 pessoas  74 anos - 10.716 pessoas  75 anos - 9.820 pessoas  76 anos - 8.981 pessoas  77 anos - 8.658 pessoas  78 anos - 8.004 pessoas  79 anos - 6.856 pessoas  Entre 80 e 89 anos – cerca de 20 mil pessoas  Maiores de 90 anos – cerca de 10 mil pessoas  Total: 343.256 pessoas 

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro