Cerimônia real marca o sábado (19) no Gantois

Lançamento de documentário e consolidação do Memorial à Mãe Menininha como museu contaram com presença de princesa nigeriana

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 19 de maio de 2018 às 21:14

- Atualizado há um ano

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. por Raquel Saraiva/CORREIO

Salvador teve cerimônia real neste sábado (19). A visita da princesa de Osogbó, Ìyá Adedoyin Talabi Faniyi, causou grande comoção no Terreiro do Gantois.  Nascida em família real na cidade de Osogbo, na Nigéria, ela chegou em Salvador em missão acadêmica e histórica.  “Eu me sinto muito contente em Salvador, muito feliz estando com meus irmãos e irmãs diaspóricos, de santo. Eles são minha família aqui”, disse a princesa ao CORREIO. A Princesa Adedoyin Olosun é uma alta sacerdotisa da religião tradicional yoruba em Osun, Obatala, Ifa, Egbe, Obaluaye, Ogboni, Aje, Baayanni e participa do culto de Orisa tanto em terras yorubas quanto na diáspora. A cerimônia foi iniciada com Mãe Ângela e Mãe Carmem oferecendo obis para que a princesa consultasse. No ritual sagrado, a princesa pediu licença aos orixás e ancestrais fazendo reverência a eles. Para finalizar, foram entoados cânticos de louvor a Oxum. 

[[galeria]] A ialorixá do santuário, Mãe Carmem do Gantois se emocionou com a visita da princesa.  “Estamos honradíssimos com a presença da princesa de Osogbó. Não temos palavras para externar a alegria e satisfação que estamos sentindo. O Gantois está em festa. Meu coração está em festa. O Gantois agradece e se põe às ordens da sociedade”. A Egbon Nice da Casa Branca também esteve presente na cerimônia.Museu Além de religioso, o evento foi cultural, marcando a requalificação do Memorial de Mãe Menininha pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). A requalificação visa desenvolver ações de estruturação museológica do Memorial. O Plano Museológico, o documento fundamental que consolida o Memorial como instituição museológica, foi entregue à Mãe Carmem também neste sábado (19). “A gente pensa numa rede de integração de vários memoriais em várias casas de terreiro da Bahia. Essa interligação permite uma conexão direta desses espaços com a sociedade e com seu entorno. É um momento importante para estar discutindo isso dentro da nossa política de preservação do patrimônio que vai além dos muros da casa”, conta João Carlos de Oliveira, diretor do Ipac.

[[publicidade]] O projeto é fruto do Plano de Preservação e Salvaguarda do llè Iyá Omi Àse Íyámásé - Gantois (2016), que pretende preservar a estrutura física e o funcionamento do Terreiro, através do estabelecimento de pressupostos infraestruturais, sociais e culturais.  A ação foi realizada através do Fundo de Cultura do Governo do Estado da Bahia. Mãe Menininha do Gantois foi a grande líder religiosa do Terreiro e popularizou o Candomblé do Gantois. Nascida Maria Escolástica da Conceição Nazaré, ela era bisneta da fundadora Maria Júlia e governou a comunidade-terreiro por 64 anos. Mãe Menininha morreu em 1986. O nome do memorial é uma homenagem à filha de Oxum e um reconhecimento da sua importância.Memória O Memorial foi criado em 1992 e é considerado o primeiro espaço museal de cultura afrodescendente da América Latina.O acervo reúne mais de 500 peças referentes às historia, objetos rituais e pessoais de Mãe Menininha, uma das maiores lideranças da religiosidade de matriz africana na Bahia.   Além de preservar a  documentação e memória de Mãe Menininha, a informatização museológica visa preservar o acervo, possibilitar o desenvolvimento de atividades de pesquisa e de outras atividades culturais, assim como a disseminação das informações do Terreiro junto ao público. Além da presença da princesa e da entrega do Plano Museológico à Mãe Carmem, o sábado no Gantois contou com a primeira exibição do documentário Orin - Música para os Orixás, dirigido por Henrique Duarte.  "Estou muito feliz. Essa é uma das casas de axé mais importantes do mundo, e ainda tem a presença da princesa... É o fechamento de um ciclo da melhor maneira possível", disse o diretor sobre a pré-estreia do filme no terreiro do Gantois. Orin: Música Para os Orixás será exibido ainda no Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, na quarta (23), às 10h, na Fundação Pierre Verger, na quinta (24), às 19h, e no Terreiro Ilê Axé Inginoquê Omorossí, no domingo (27), às 16h.  Com entrada gratuita e aberto ao público, os eventos têm expectativa de receber 700 pessoas. Após a exibição, haverá um debate sobre a temática, com a presença de participantes do longa.História O Terreiro llè Iyá Omi Àse Íyámásé, popularmente como Terreiro do Gantois foi fundado em 1849 pela africana Maria Júlia da Conceição Nazareth. A linha referencial é baseada na herança dos povos Iorubá (Abeokutá).  O Terreiro pertence à tradição Ketu, com liderança sempre feminina e sistema de sucessão baseado na consanguinidade. Em 2002 foi tombado como Patrimônio Histórico e Etnográfico do Brasil pelo Iphan.   O nome Gantois é uma alusão ao antigo proprietário do terreno, o traficante de escravos belga Édouard Gantois, que arrendou as terras a Maria Júlia da Conceição Nazareth e ao seu esposo, Francisco Nazareth de Etra.