Chefão do BDM, Zé de Lessa comandou do Paraguai assalto de R$ 100 milhões

Um dos três assaltantes mortos pela polícia do Maranhão é seu irmão, Edielson

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 27 de novembro de 2018 às 19:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/Arquivo

Zé de Lessa, chefão da facção Bonde do Maluco, continua foragido (Foto: Divulgação/Seap)  Líder da facção criminosa baiana Bonde do Maluco (BDM), José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, comandou do Paraguai a quadrilha que no domingo (25) roubou R$ 100 milhões do Banco do Brasil, na cidade de Bacabal (MA), a 250 km de São Luís.

A informação é da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA). Segundo a pasta, um dos três assaltantes mortos durante o ataque é Edielson Francisco Lumes, irmão de Zé de Lessa, atingido após sair de um veículo blindado e trocar tiros com a polícia.

Edielson, segundo a polícia, tinha a função de subchefe do grupo e repassava as ordens de Zé de Lessa à quadrilha, composta por entre 30 a 35 homens. Os outros mortos são o paraense Warley dos Reis Souza, o Bombado, e Gean Martins Rocha, do Tocantins.

Os três morreram após reação de policiais militares do Grupo de Reação Tática, que ainda buscam o restante da quadrilha em sete cidades, junto com militares do Comando de Operações de Sobrevivência em Área Rural (Cosar).

Buscas em mata  A concentração maior das buscas está sendo numa área de mata entre as cidades de Bacabal e Lago da Pedra, onde a polícia desconfia que haja criminosos escondidos. Na região, são realizadas barreiras e revistas, e aeronaves monitoram vias e acessos.

Um popular que havia filmado com o celular a fuga dos bandidos pela ponte da cidade também foi baleado nas costas e morreu. Inicialmente, foi divulgado que ele tinha sido morto pela Polícia Militar, mas a SSP-MA informou que ele foi morto por bandidos.

O local onde estava o dinheiro levado pela quadrilha é um centro de distribuição regional que pertence ao Banco do Brasil e fica anexo à agência. Em nota, o banco informou que “trabalha para recompor as estruturas danificadas”.

“As duas agências na cidade passam a operar, temporariamente, apenas com atendimento negocial e sem oferta de numerário”, afirma o comunicado, segundo o qual “o BB colabora com as autoridades policiais para a elucidação do caso”.

“O Banco não informa valores subtraídos durante ataques à sua rede e confirma a ocorrência de saques após a fuga da quadrilha. Como alternativa, os clientes do BB em Bacabal tem o Banco Postal (Correios) e casas lotéricas para saques, saldos e extratos”, conclui a nota.

Atuação regional A SSP do Maranhão informou que a quadrilha de Zé de Lessa “possui 80 integrantes e é a maior em assalto a bancos do Nordeste”, com “interligação nos nove estados da região e ramificações no Paraguai, onde vive o líder do grupo”.

“Não teremos dificuldade para buscá-lo em ação integrada com Polícia Federal, a Interpol e a polícia daquele país”, declarou o secretário da Segurança Pública maranhense, Jefferson Portela, durante entrevista coletiva nesta terça-feira (27). O secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela (Foto: Divulgação/SSP-MA) Segundo Portela, não é comum essa modalidade de assalto no Maranhão, conhecida como Novo Cangaço – comparado ao bando de Lampião quando as quadrilhas agem com grande violência e terrorismo.

Ele disse que as seis grandes quadrilhas que tentaram atacar instituições financeiras no Maranhão com essa modalidade de assalto foram impedidas. “Todos foram presos e os casos solucionados”, lembrou.

Resultado da ação policial, diversas armas e munição de grosso calibre apreendidas e oito pessoas que estavam pegando dinheiro que restou na agência foram detidas por furto, sendo dois deles policiais militares.

Um dos policiais é do estado do Piauí, o que levou a polícia a desconfiar da presença dele na cidade. O policial está sendo investigado como informante do grupo criminoso. No total, os bandidos deixaram para trás R$ 3,7 milhões. A SSP-MA reclamou do fato de o Banco do Brasil não ter informado à polícia “sobre recebimento de quantia em dinheiro bem maior que de costume, pois quando isso ocorre é montado esquema prévio de reforço da segurança”.

O secretário Portela observou que a SSP-MA mantém permanentemente em Bacabal policiais especializados, integrantes de um grupamento chamado Cosar, “que utilizam armamento de alta tecnologia”.

A equipe é responsável por garantir a segurança e regularidade das ações em dias de pagamento. O secretário disse, ainda, que nenhuma agência de atendimento ao público foi atacada, apenas o centro de distribuição que fica anexo ao banco.“O grupamento militar especializado estava no quartel, de prontidão, para suas atividades na data dos pagamentos. Se tivesse sido acionado, se anteciparia, por se tratar de maior volume financeiro”, enfatizou Portela.Informações sobre o caso podem ser enviadas pelo telefone 0300-313-5800 ou Disque Denúncia (98) 99224 8660 (Whatsapp).

Zé de Lessa saiu da cadeia para tratar da saúde Líder da facção BDM, que rivaliza na Bahia com a Katiara, Zé de Lessa é o ás de ouros do Baralho do Crime da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), ferramenta que reúne os principais criminosos do estado.

Preso em 2001, ele chegou a cumprir metade da pena de mais de 28 anos de prisão por tráfico de drogas e homicídios, e em 17 de abril de 2014 foi beneficiado com a prisão domiciliar para tratar da saúde – precisava operar punhos e cotovelos.

Ao sair, foi morar na cidade de Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, divisa com o Paraguai, de onde começou a enviar carregamentos de drogas para abastecer sua quadrilha na Bahia.

Zé de Lessa lidera um dos cinco grupos criminosos mais atuantes no estado. O BDM, considerado pela polícia como o mais violento, surgiu em 2015 no pavilhão V do Presídio Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura.

O grupo nasceu como ramificação da facção Caveira, comandada por Genilson Lima da Silva, o Perna, atualmente preso no Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná.

Zé de Lessa, que iniciou sua carreira no crime como assaltante de banco, já foi alvo de diversas operações para prendê-lo. Uma delas, a Operação Sapucaia, realizada em abril de 2016 pela Polícia Federal na Bahia e no Mato Grosso do Sul.

O bandido é apontado pela polícia como o maior distribuidor de drogas da capital e do interior da Bahia, com especialidade em assalto a bancos e a carros-fortes. O dinheiro dos assaltos é usado para capitalizar a quadrilha na compra de armas e mais drogas.

Desde que criou o BDM, o grupo tornou-se o principal rival do grupo criminoso Katiara, comandada por Roceirinho, e passou a disputar pontos de droga com o rival. Nepotista, Zé de Lessa tem os parentes como principais aliados no comando da facção.