Chega de preconceito no futebol

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  • Miro Palma

Publicado em 30 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O último jogo entre Vasco e São Paulo, pela 16ª rodada do Brasileirão, tinha tudo para ser um jogo como outro qualquer. Mas não foi. Essa foi uma partida histórica para a luta contra a discriminação no futebol brasileiro. Aos 19 minutos do segundo tempo, o árbitro Anderson Daronco parou o jogo, se dirigiu até o técnico do time carioca, Vanderlei Luxemburgo, e disse: “time de ‘viado’ não pode”. A essa altura, os gritos homofóbicos vindos da torcida do Vasco já ecoavam em São Januário. O que se viu dali em diante foi um Vanderlei desconcertado tentando acalmar os gritos e pedindo aos torcedores para não reproduzir esse tipo de cântico. 

A decisão do juiz e a tensão do treinador se justificam pela nova recomendação do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD), que orienta aos árbitros a paralisação de jogos em caso de cânticos homofóbicos vindos da torcida e o registro do caso na súmula e nos documentos oficiais. Além disso, o STJD informou que o comportamento pode ser enquadrado no artigo 243-G do Código Disciplinar e a equipe em questão pode perder até três pontos na tabela da competição.

Como eu canso de dizer por aqui que o futebol é um recorte da sociedade como um todo, a recomendação nada mais é que um reflexo da criminalização da homofobia e transfobia que foi incorporada à Lei de Racismo, em junho deste ano, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) enquanto o Congresso Nacional não cria uma lei específica. A Fifa também já havia determinado que todas as federações membros adotassem procedimentos mais rígidos de combate a comportamentos discriminatórios. A Seleção Brasileira, inclusive, chegou a ser multada pela Conmebol durante a disputa da Copa América devido a gritos de “bicha” vindos da torcida brasileira quando o goleiro boliviano Lampe ia bater os tiros de meta.

No entanto, nada disso teria efeito se todo esse entendimento não fosse colocado em prática. Por isso, a interrupção feita por Daronco, no último domingo, foi extremamente significativa. Pela primeira vez na história do futebol brasileiro vimos um jogo parar por causa da homofobia. Vimos um treinador se virar para sua torcida e adverti-la, e a torcida obedecer o pedido. Os cânticos homofóbicos não passaram despercebidos. E eles nunca mais passarão.

E já rechaço quem tenta se segurar ao atraso com a batida justificativa de que "o futebol está ficando chato”. Chato, meus caros, é ter o Brasil encabeçando o ranking dos países que mais matam LGBTs no mundo. Mais chato ainda é saber que só no ano passado 420 LGBTs se foram por morte violenta, incluindo suicídio, no país, de acordo com relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB). E o que dizer do dado deste mesmo relatório que aponta que a cada 20 horas um LGBT morre de forma violenta no Brasil? É chato o suficiente?

Mais do que chato, é vergonhoso, ultrajante. Por isso, a partida entre Vasco e São Paulo foi tão importante. O 2x0 para o time carioca pode não ter mexido em tantas peças na tabela do campeonato, mas representou o início de uma mudança que vai mexer e muito em estruturas discriminatórias tão arraigadas à cultura do esporte. Seguindo o caminho de Daronco: homofobia não pode! O futebol é para todos, todos mesmo. Se nem sempre foi assim, a partir de agora, é como vai ser.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras