Chuva e fortes ventos deixam ao menos 12 casas destelhadas em Salvador

Oito imóveis foram evacuados durante ventania; moradores relataram momento de medo

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  • Eduardo Dias

Publicado em 25 de setembro de 2019 às 15:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

O mau tempo chegou em Salvador junto com a Primavera e trouxe com ela ventos fortes, capazes de arrancar os telhados de 12 imóveis e lançá-los sobre as casas vizinhas, no início da noite de terça-feira (24), na Rua da Rodovia A e Travessa Casemiro de Abreu, na Boa Vista de São Caetano. Segundo a Defesa Civil de Salvador (Codesal), foi preciso evacuar oito casas por conta do risco de infiltração resultante das chuvas.

Era por volta de 19h30 quando o laminador Edileuso de Jesus, 53, assistia a televisão na sala de casa. Ele aguardava sua esposa, Marines Souza, 52, que trabalha como técnica de enfermagem, chegar do trabalho para poderem jantar juntos. No entanto, apesar de uma chuva fina estar caindo sobre o bairro, o casal não imaginava que o transtorno que tiraria o sono da família estava apenas começando. Edileuso avalia danos na cobertura que havia construído recentemente (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Casado com Marines há oito anos, Edileuso contou que, durante a manhã desta quarta-feira (25), enquanto ainda avaliava junto com engenheiros da Defesa Civil (Codesal) os estragos causados em sua residência, que essa foi a primeira vez que viu uma ventania assim.

“A sensação era de que nossa casa estava sendo levada pelo vento. Corri para ver se alguém havia se machucado, mas graças a Deus não aconteceu nada. Quando batiam no chão, as telhas faziam um barulho muito alto e assustava as pessoas. Nunca tinha visto uma coisa como essa aqui na Boa Vista, era como um grande redemoinho. Foi tudo do nada e muito rápido”, relatou Edileuso.

A casa do casal é composta por três andares, onde moram com suas duas filhas e onde revendem galões de água mineral em um dos cômodos. No local atingido, foi recém-construída uma cobertura com telhas de metal, pensando em dar mais proteção à parte superior da casa, mas a estrutura não resistiu à força dos ventos e foi parcialmente levada.

Segundo medição realizada pelo Centro de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil (Cemadec), a velocidade do vento chegou a 16,6 km/h. “Apesar da baixa velocidade registrada, o que pode ter ocorrido foi a canalização do vento, uma vez que aquelas áreas ficam em uma baixada (vale) que, geralmente, contribuem para aumentar o fluxo do vento”, explicou o meteorologista e subcoordenador do Cemadec, Ricardo Rodrigues.

Prejuízo Quem também teve um noite difícil foi a doméstica Marivanda de Jesus, 46, que mora sozinha numa cobertura em cima da casa da mãe. Ela afirmou que ficou sabendo do ocorrido pelos irmãos, quando ainda estava chegando do trabalho, e contou que perdeu quase todos os móveis que tinha em casa, como sofá, cama, armário de cozinha e guarda-roupa.  Marivanda observa os estragos causados pelo vento em sua casa (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) “Eu estava descendo a ladeira quando me avisaram, não pude fazer mais nada. Já cheguei e achei minhas coisas todas molhadas e as telhas quebradas dentro de casa. A gente batalha tanto para ter as coisas e perde, assim, num piscar de olhos. Agora é chamar por Deus e esperar que as coisas se resolvam. Meus irmãos estavam na casa de baixo, mas não deu tempo de fazerem muita coisa, conseguiram pelo menos tirar a minha televisão. O estrago está aí, minha cama nem presta mais agora”, explicou Marivanda, que precisou passar a noite na casa do irmão por questão de segurança.

A casa de Marivanda apresentou uma rachadura em uma das paredes dos fundos, além de perda dos móveis e destelhamento parcial e foi condenada pela vistoria. Ela foi cadastrada no sistema da Codesal e será encaminhada para o serviço social do órgão para ser avaliada a necessidade de recebimento do auxílio-aluguel.

Previsão Apesar do susto, de acordo com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), a previsão do tempo predominante para esta quarta-feira (25) é de tempo encoberto com possibilidade de chuvas isoladas, variando entre fraca e moderada, em toda a faixa leste do Estado.

A Codesal emitiu um aviso meteorológico com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), informando a previsão para esta quarta-feira, onde há a possibilidade de céu nublado a parcialmente nublado com possibilidade de chuvas fracas, por vezes moderadas, a qualquer hora do dia. Há também riscos para alagamentos em áreas isoladas da cidade.

Vistoria O engenheiro da Codesal, Expedito Sacramento, esteve no bairro durante a manhã desta quarta-feira para realizar as vistorias nos imóveis atingidos.

"Notamos imóveis que sofreram alagamentos com perda de bens. Estamos realizando a vistoria e cadastramento das pessoas, analisando os riscos estruturais das casas e notificando para quem precise, comparecer à sede da Codesal", avaliou.

Na Travessa Cassemiro de Abreu, quatro imóveis foram atingidos, sendo dois evacuados; na Rua Rodovia A, uma casa atingida e na Beira Dique, sete imóveis, sendo que seis foram evacuados. Não foram registradas vítimas. A causa provável foi a precária instalação de telhas de amianto, diz nota da Codesal. 

Outros casos O pintor Ednilton Ferreira, 47, também teve parte do telhado de sua casa arrancado pelo vento. Ele revelou que, quando percebeu que os ventos estavam muito fortes, se escondeu com o filho pequeno de dois anos no quarto, até que o mau tempo passasse.

“Quando começaram os ventos fortes, nós ficamos dentro de casa, mas com muito medo, levei meu filho para o quarto e fiquei lá com ele. Não durou muito, foi cerca de 20 minutos de pânico, mas o suficiente para arrancar quase todas as telhas de nossa cobertura e das casas vizinhas. Quando o suto passou, subimos para ver o estrago", contou.  Ednilton organiza o que sobrou do telhado de sua cobertura (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Irmã de Ednilton, a copeira Adriana Cavalcante, 44, mora numa casa abaixo da do pintor. Ela contou que as janelas de sua casa batiam com muita força e que a ventania parecia o "fim do mundo". "Era muito vento, as telhas estavam soltas no ar. Todo mundo começou a pensar que que era o fim do mundo. Parecia um furacão, nunca vi um redemoinho tão forte assim", relatou. 

A aposentada Maria da Conceição, 67, disse que sentiu medo durante a ventania que chegou a abraçar a filha e a neta com medo do que pudesse acontecer. "O vento era tão forte que dava muito medo. Comecei a abraçar minha filha e neta na sala de casa e começamos a rezar para que isso tudo passassse logo", explicou.  Maria da Conceição contou que abraçou a filha com medo dos ventos fortes (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Apesar do susto, os moradores começaram a ajudar uns aos outros a repararem os estragos causados nas casas. Alguns deles cediam telhas que não estavam sendo utilizadas em suas casa para ajudar a consertar o estrago na casa dos vizinhos.

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro