Chuvas causam mortes e deixam famílias desabrigadas no interior

Em Itamaraju, três pessoas da mesma família morreram

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  • Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Cidades do interior da Bahia sofrem com impactos causados pelas fortes chuvas da madrugada desta quarta-feira (08). Em Jucuruçu, a situação é grave por conta dos rios Gado Bravo e Jucuruçu que transbordaram. O poder público estima que mais de mil pessoas foram afetadas pela enchente. Em Teixeira de Freitas, a chuva de 140mm causou os desabamentos de três casas. Em Itamaraju, um homem e duas crianças morreram enquanto dormiam após um deslizamento de terra atingir a casa em que estavam. 

A prefeitura de Teixeira de Freitas registrou diversas ocorrências de estragos causados pela chuva. A Defesa Civil afirmou que duas casas desabaram no bairro Caminho do Mar I, uma casa no bairro Colina Verde, um muro no Residencial Antônio Costa Filho e o muro de uma casa localizada no Monte Serrat 2. Na cidade, muitas casas foram invadidas pela água e os móveis foram todos perdidos, para dar suporte a essas famílias, a Secretaria de Infraestrutura tem usado seus caminhões. Pessoas em zona de risco podem procurar abrigo nos pontos de apoio das escolas Antônio Chicon e José Félix Correia. 

“Estamos unidos em ajudar todos que necessitam de apoio nesse momento, muitas pessoas se solidarizaram e estão contribuindo, nosso trabalho irá continuar para atender todos que precisam”, disse o prefeito Dr. Marcelo Belitardo durante visita aos locais de risco da cidade. Para evitar acidentes, a população deve evitar trafegar em locais como a Avenida Estados Unidos, no bairro Ulisses Guimarães, onde está sendo realizada obra de drenagem;  na rua México, na ligação dos bairros Padre José e Ulisses Guimarães; e na ladeira do bairro Colina Verde, na rua Adonias Filho, local que já teve desabamento na noite desta terça-feira (07).

O Shopping Teixeira Mall também foi afetado pela chuva em Teixeira de Freitas e, de acordo com a prefeitura e comerciantes locais, essa situação é recorrente. O dono de uma boutique de moda masculina do shopping, Allender Betini, explica que a água que invadiu o local subiu até seus joelhos.“Tivemos vários impactos, os mais visíveis foram as casas destruídas, alagadas, desabamentos de ruas e rodovias. O shopping da cidade foi alagado, mais de 30cm de água nas lojas”, disse o comerciante.  Em Itamaraju, chuva provocou alagamentos que deixaram moradores ilhados (Foto: Marcos Cunha/Divulgação) A Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec), informou que, neste primeiro momento, irá deslocar equipes para as cidades atingidas pelas fortes chuvas, com o intuito de realizar vistorias e auxiliar no que for necessário. Em seguida, o órgão deve entrar com ajuda humanitária, como doação de cestas básicas, colchões e lençóis.

Em Jucuruçu, a chuva forte começou por volta das 17h da terça-feira e as ruas da cidade foram tomadas pela água cerca de uma hora depois. A prefeitura da cidade informou que alguns bairros estão isolados e que equipes circulam pela cidade para verificar os estragos e traçar estratégias para atender os atingidos. Até o momento, não há informações sobre feridos, mas o poder público estima que mais de mil pessoas foram afetadas pela enchente e precisaram sair de suas casas por causa dos riscos de desabamento. A prefeitura disponibilizou locais para receber os desabrigados como a Escola Estadual, Creche Municipal, Secretaria de Educação e Auditório Municipal.

Em Itamaraju, após as chuvas que causaram a morte de três pessoas, a prefeitura da cidade decretou estado de calamidade pública. “Hoje, dia 08/12, por razão dos estragos causados pelas fortes chuvas e situação de alerta em locais e riscos de desabamento, alagamento e deslizamentos, o prefeito Marcelo Angenica decreta Estado de Calamidade. Pedimos a todos que se abriguem em locais seguros até que as equipes responsáveis averiguem toda situação. Pedimos também que tenhamos paciência e amor ao próximo, teremos muito trabalho pela frente! A união faz a força”, diz texto da prefeitura nas redes sociais. 

De acordo com moradores da região, no início da manhã de quarta (08), o Corpo de Bombeiros de Itamaraju resgatou dos escombros os corpos de uma menina de quatro anos, do irmão dela de oito anos, e de um tio. Todos dormiam em um dos quartos que foi coberto pela lama. Até o momento, não há identificação das vítimas. Os pais e um dos irmãos das crianças mortas sobreviveram à tragédia e estão sob cuidados médicos.

O bancário Carlos Coimbra, 50, afirma que esteve no local do desabamento e que a situação no local é crítica, com muito risco de mais deslizamentos. “Estive agora próximo a casa onde houve o desabamento, numa periferia, próximo ao centro. Tem uma igreja próxima aguardando a chegada dos corpos, que estão no IML, para fazer o velório. A cidade no momento tem muitos desabrigados, gente ainda em situação de risco por morar próximo a encostas”, disse o morador.

Ele explica que o impacto também se deve aos rios Gado Bravo e Jucuruçu, que encheram muito e isso resultou nos alagamentos, fazendo com que as pessoas que moravam por perto sofressem com deslizamentos e desabamentos. “Na cidade baixa, região de Baixa Fria, região histórica de alagamentos por ser próxima ao rio Jucuruçu, houve prejuízos em mercadinhos e açougues. Diversos outros bairros também estão impactados”. 

Segundo o bancário, choveu cerca de 14 horas seguidas na cidade, com uma chuva mais torrencial entre 23h e 9h desta quarta-feira. De acordo com a Polícia Militar, alguns trechos de saída e entrada da cidade estão parcialmente ou totalmente interditados.

Na BA-284, trecho Itamaraju x Jucuruçu, na entrada do distrito de São Paulino, a estrada cedeu e foi interditada. Também estão interditados o trecho Prado x Itamaraju, entre o distrito de Guarani e comunidade do Tombador, na BR-498, porque a rodovia cedeu. Na localidade do Furado a via está alagada e a Ponte na saída de Itamaraju-BA está sob risco de cair. Já a BA-290, trecho Teixeira x Alcobaça, nas proximidades do Canta Galo, foi parcialmente interditada por risco de deslizamento de barrancos e queda de árvores.   Pista se rompeu em Teixeira de Freitas (Foto: Divulgação) No último dia 29, Amélia Rodrigues, Ibicoara, Itaberaba, Mucugê, Mutuípe, Teolândia, Jaguaquara, Ruy Barbosa e Maragogipe, Eunápolis e Itacaré entraram em situação de emergência devido às fortes chuvas que ocorrem desde o início de novembro. Em Eunápolis, a Defesa Civil informou à população sobre o alerta emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) sobre a previsão de chuvas intensas e ventos fortes que podem atingir o município até o dia 15 de dezembro. De acordo com o comunicado, há possibilidade de chuvas de até 100 milímetros por dia e ventos de até 100 km/h. O temporal é resultado de um ciclone que se originou no Rio de Janeiro e seguiu em direção à costa baiana.

Outro fenômeno meteorológico chamado “La Niña” também é responsável pelas fortes chuvas no sul do estado e, até o momento, seis pessoas já morreram e uma segue desaparecida em toda Bahia.

Em Salvador, o Corpo de Bombeiros segue na busca do corpo de Railson Costa, afogado no rio Lucaia na tentativa de salvar um cachorro, nas imediações da Avenida Vasco da Gama. As fortes chuvas do último domingo (05) impulsionaram as águas do esgoto e resultaram na morte de Jonathan, sobrinho de Railson, que tentou também resgatar o animal. O corpo dele, arrastado pela correnteza, foi encontrado no mar, nas proximidades do Mercado do Peixe, no Rio Vermelho, ainda no domingo.

Nesta quarta-feira (08), com a ajuda de uma retroescavadeira cedida pela prefeitura de Salvador, os bombeiros percorreram pelo menos 700 metros de galeria na região da Avenida Vasco da Gama, mas não localizaram o corpo de Railson. Ao mesmo tempo, outra equipe do Corpo de Bombeiros percorria a faixa de areia das praias do Rio Vermelho, Ondina e Barra, enquanto outro grupo de profissionais dava apoio com drones para verificar as áreas mais difíceis. “O trabalho é bastante minucioso. As buscas serão retomadas nesta quinta-feira (9)”, informou a corporação, em nota.  Equipe do Corpo de Bombeiros busca o corpo de Railson Costa Foto: Paula Froés/CORREIO   Em Itaberaba, a chuva de 130mm registrada no último dia 27 deixou dois mortos e famílias desabrigadas no município. Na ocasião, testemunhas relataram que a água invadiu casas na Travessa João Aguiar e Silva, no bairro Barro Vermelho. Ao sair para buscar ajuda, uma laje desabou e Iara Carneiro Silva, de aproximadamente 40 anos, foi levada pelas águas. Um vizinho, identificado como Antônio Martins Silva de Santana, 45, tentou socorrê-la, mas, devido a correnteza, ambos foram arrastados por um rio de lama e detritos. 

Força-tarefa

O estado criou uma força-tarefa para auxiliar as cidades mais atingidas pelas chuvas no Extremo-Sul do estado. Entre as ações estão a decretação de situação de emergência dos municípios e a distribuição de insumos e socorro às famílias.

A logística inclui a distribuição de cestas básicas, colchões, lençóis, lonas, cobertores e outros itens, a partir das avaliações técnicas sobre a dimensão dos danos humanos, ambientais e materiais provocados pelas chuvas. 

Aeronaves do Grupamento Aéreo da Polícia Militar(GRAER) e da Casa Militar do Governo do Estado auxiliam no trabalho dos 40 agentes do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, lotados em Ilhéus, Porto Seguro e Teixeira de Freitas, que dão apoio às ações de socorro às famílias e animais afetados, especialmente nas cidades de Canavieiras, Itamaraju, Prado, Teixeira de Freitas e Jucuruçu. 

De acordo com informações do governo, a Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra) iniciou a ações de manutenção para garantir as condições de trafegabilidade em trechos da BA-284, na BA-290 e BR-489, na quarta-feira (8). Os equipamentos necessários, como caçambas e pás carregadeiras, estão sendo deslocados para realizar os serviços, a fim de permitir o tráfego de veículos em trechos das três rodovias.

La Niña  La Niña é o nome do resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico. Essa mudança é capaz de provocar uma série de distúrbios em todo o mundo, alterando os ciclos de chuva, ocorrência de secas e a distribuição de calor. “Quando estamos influenciados pelo fenômeno La Niña, ele causa chuvas intensas no Nordeste. Mas existem outros fatores que influenciam na formação de chuvas, como a frente fria, que é uma massa de ar mais fria no nível do solo que substitui uma massa de ar mais quente e fica dentro de uma depressão superficial pronunciada de baixa pressão, e a atuação da zona de convergência do Atlântico Sul, que causa nebulosidade de orientação noroeste/sudeste que se estende desde o sul da região amazônica até a região central do Atlântico Sul”, explica o meteorologista da Codesal, Giuliano Carlos Nascimento. 

No Brasil, o La Niña provoca estiagem nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e principalmente no Sul. No Nordeste e na Região Amazônica aumenta a intensidade das chuvas. Em Salvador, La Niña causa mais chuvas em março, abril, maio e junho. Segundo Carlos, além do fenômeno, um agravante que piora as chuvas é o cavado, sistema de baixa pressão que mexe com a circulação do vento e faz com que aumente a formação de nuvens, trazendo descargas elétricas e trovoadas. O meteorologista afirmou ainda que La Niña deve começar a enfraquecer a partir de fevereiro de 2022. 

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo