Cinco horas na estrada: cratera da BR-324 causa congestionamento e deixa motoristas estressados

Especialistas dizem que problema surgiu na drenagem; ainda não ha prazo para conclusão do reparo na pista, engolida por cratera de oito metros de profundidade

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  • Gil Santos

Publicado em 30 de abril de 2020 às 16:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

A estudante Juliana Oliveira, 26 anos, levou cerca de cinco horas para fazer uma viagem de carro de Salvador para Feira de Santana, um trajeto que é feito normalmente em duas horas. O motivo para as três horas de atraso - e castigo - foi um engarrafamento provocado por uma cratera que surgiu na BR-324, na altura do município de Candeias, na noite desta quarta-feira (29), por cnta das fortes chuvas na região.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizou um desvio para tentar fazer o trânsito fluir, mas não resolveu. A Via Bahia, concessionária responsável pela rodovia, não informou quando vai concluir o reparo na pista, mas já planeja construir um novo desvio nos próximos dias. A cratera toma boa parte da pista no sentido Feira de Santana e tem oito metros de profundidadade. A empresa não informou o comprimento, mas especialistas falam em 20 metros.

“Saímos de casa bem cedo, antes das 6h. A gente mora em Paripe, no Subúrbio Ferroviário. Minha mãe é idosa e por conta desses casos do novo coronavírus, ela pediu para a gente levar ela para ficar com minha avó que mora em Feira. Meu irmão pegou o carro e saímos cedo, justamente para evitar engarrafamento, mas não adiantou”, disse Juliana.

E ela não foi a única: Juliana contou que viu duas ambulâncias paradas no congestionamento e que os motoristas dos carros menores não sabiam se deixavam os vidros abertos ou fechados.“A gente queria abrir as janelas para o ar circular, mas ficava com medo de assalto, estava calor e toda hora parecia que ia chover”, contou.  Uma equipe do CORREIO também teve dificuldades para chegar ao local da cratera. O carro da reportagem passou pela praça de pedágio em Simões Filho às 8h21 e às 13h ainda não havia alcançado a região do incidente. A Via Bahia, que administra o trecho onde surgiu o buraco, disse que isso aconteceu na noite de quarta-feira e que as equipes estão trabalhando no local para concluir o quanto antes o que ainda será um reparo emergencial.

"Além disso, [a equipe] trabalha para construir um novo desvio nos próximos dias, mais fluido, para diminuir o impacto no tráfego até que seja feita a restauração da via principal", diz a concessionária, em nota. Por dia, passam cerca de 12 mil veículos na região afetada. Nesta quinta-feira (30), o congestionamento chegou a cerca de seis quilômetros, em média.

Por conta do incidente a pista no sentido Feira de Santana precisou ser interditada. O buraco engoliu o acostamento, as duas faixas da via e quase chegou ao canteiro central tornando impossível o tráfego de veículos.  Cratera surgiu na noite de quarta-feira (29), nas imediações de Candeias (Foto: Divulgação/ PRF) Causa e efeitos O engenheiro civil Especialista em Drenagem e Pavimentação e membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), Eneas Cardoso de Almeida Filho, analisou as imagens do local e acredita que a cratera foi provocada por problemas no sistema de drenagem da pista.“O mais provável é de que a galeria não tenha suportado a quantidade e a pressão da água da chuva, e isso fez com que a água extravasasse da manilha e molhasse o terreno. Com o tempo ela foi escoando de volta para a manilha levando o terreno diluído junto com ela e fazendo a pista desabar. É bastante provável, mas é uma suposição já que não estive no local”, disse.Ele identificou uma obra de terraplanagem sendo realizada nas imediações onde houve o incidente e contou que esse tipo de interferência no solo também pode impactar no sistema de drenagem da região. Para o engenheiro o problema poderia ter sido evitado se houvesse manutenção nas galerias para evitar a redução da capacidade desses espaços por conta do acumulo de lixo ou da interferência de obras. Ele contou que para reparar um dano como o que ocorreu em Candeias são necessários alguns dias de trabalho.

“Primeiro, é preciso saber qual é o tipo de drenagem feita naquele trecho. Depois, se for comprovado que houve uma diminuição da adesão nas galerias, eu abriria um canal, o que iria garantir o escoamento. Em seguida, faria a base, colocaria a galaria e faria os reparos devidos. Com as máquinas certas e trabalhando dia e noite, o problema seria resolvido em alguns dias”, contou.

A Via Bahia informou que os operários da empresa estão trabalhando no local desde a noite de quarta-feira, mas ainda não deu previsão para a conclusão da obra. Em nota, a empresa confirmou que a chuva abriu a cratera.

"Devido às fortes chuvas dos últimos dias ocorreu uma erosão de grande proporção na altura do KM 589 da BR-324 em Candeias. Conforme anunciado pela prefeitura de Candeias e pela imprensa, o município registrou precipitação de 275,5 mm de chuva em apenas 72 horas, ultrapassando a média histórica da região no mês de abril segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)", diz a Via Bahia, em nota. 

O engenheiro civil Especialista em Pavimentação e professor do curso de Engenharia da Rede UniFTC, Antônio Carlos Totti Júnior, também apontou a falta de manutenção como uma das causas da cratera.  “Todo pavimento tem como princípio ter um sistema de condução de água, seja águas que venham proveniente dos subterrâneos ou de precipitação. A água que precipita (chuva) tem que ter um sistema superficial de drenagem, como sarjeta, meio-fio, boca de lobo, caneletas e uma série de sistemas para evitar a infiltração no pavimento, e tudo isso precisa passar por manutenção para evitar que fiquem obstruídos”, disse.Ele apontou que, além desses recursos, são necessários drenos internos para evitar que a pista seja danificada pelas águas que correm por baixo da terra. “Quando não há esses sistemas, e a maioria das cidades não tem, a água vai procurar o caminho natural e vai infiltrar em pontos de patologia do pavimento, regiões que tem falha, e vai infiltrar por ali provocando danos. No caso da BR 324, se não foi uma tubulação que estourou, foi um problema de drenagem”, afirmou.

Enquanto as águas abrem caminho, os motoristas precisaram de paciência para suportar até 2h parados. E as notícias não são animadoras. A Via Bahia informou que avalia a necessidade de interditar também uma das faixas no sentido contrário para poder fazer os devidos reparos na pista.

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