Cine Glauber Rocha abre as portas para receber festival de cinema

17ª edição do Panorama Internacional Coisa de Cinema acontece entre os dias 1 e 8 de dezembro

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 1 de dezembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Safira Moreira
Frame do filme Como Respirar Fora D'Água, de Júlia Fávero e Victoria Negreiros por Foto: Giuliana Lanzoni

Cerca de 80 produções da Bahia, do Brasil e do mundo. Exibidas no cinema de rua mais antigo do estado, com público presencial pela primeira vez desde 2019. A 17ª edição do Panorama Internacional Coisa de Cinema tem uma série de elementos afetivos por trás da sua realização, que começa nesta quarta (1) e vai até o dia 8 de dezembro, no Cine Metha Glauber Rocha - que também irá reabrir após o processo de quase fechamento e que, no final das contas, encerrou com um novo patrocínio.

A abertura do festival será com exibição de um dos clássicos de Glauber Rocha (1939-1981), cineasta que dá nome ao espaço: Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), com acesso gratuito, assim como toda a programação - que também será exibida online no site www.panorama.coisadecinema.com.br.

Curador do festival e sócio do Cine Metha Glauber Rocha, Claudio Marques afirma que o Panorama deste ano reafirma a potência do cinema enquanto objeto de coletividade: a oportunidade de assistir a um filme junto com outras pessoas, com a qualidade de projeção e som de um cinema, além da possibilidade de discutir obras é um marco e mostra o poder do cinema como fenômeno social e de socialização.

“Hoje eu estava sozinho e pensei sobre isso, lembrando da noite de encerramento do panorama há 2 anos e a gente não imaginava o que ia acontecer logo a seguir. Amanhã vamos reencontrar esse público, foram dois anos de muitas perdas, muitas mortes, um tempo muito difícil para a sociedade no mundo todo, muitos cinemas fecharam, instituições culturais deixaram de existir, festivais acabaram. Pensamos que o Cine Glauber Rocha fosse acabar, como também o próprio Panorama talvez não pudesse ter continuidade”, reflete Cláudio. Cláudio Marques é um dos sócios do Cine Metha Glauber Rocha e coordenador do Panorama (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Sobre a escolha de Deus e o Diabo na Terra do Sol para abrir os trabalhos, a coordenadora do Panorama, Marília Hughes, afirma que o filme é “um símbolo do cinema brasileiro, de sua força e importância” e sua escolha foi em decorrência de ser um longa-metragem que fala sobre diversos tipos de opressão e evidencia o cinema como veículo e objeto de resistência.

retomada  Segundo Claudio Marques, a reforma do Glauber Rocha ainda não está completamente finalizada. Obras no sistema de ar-condicionado e em uma das salas ainda estão em andamento e devem ser finalizadas durante o festival. A reinauguração deve acontecer no dia 9 de dezembro. 

“Ficamos confinados, mas já está na hora de retomarmos, aos poucos, às nossas atividades pela cidade. Ir ao cinema, sobretudo a um cinema de rua, é se encontrar com a nossa cidade, ver o rosto das pessoas, conversar sobre filmes, sobre a vida”, reforça.

Diretor do filme A Matéria Noturna, o capixaba Bernard Lessa afirma que realizar o Panorama de maneira presencial é praticamente um ato político, já que os filmes exibidos dialogam com uma série de problemas cotidianos no Brasil e, com isso, pode ser um canal para que as pessoas se expressem e reflitam sobre suas próprias realidades.

“Estou muito animado e feliz com essa relação do filme. Será a primeira exibição presencial que estarei, e num festival da envergadura do Panorama. É como se fosse uma estreia, é bacana acompanhar com o público”, afirma Bernard.

“Ficamos confinados, mas já está na hora de retomarmos, aos poucos, as nossas atividades pela cidade. Ir ao cinema, sobretudo a um cinema de rua, é se encontrar com a nossa cidade, ver o rosto das pessoas, conversar sobre filmes, sobre a vida”, disse.Outro momento afetivo do Panorama será a homenagem ao centenário do sambista baiano Riachão, morto em março do ano passado. No encerramento, Jorge Alfredo apresenta o documentário Samba Riachão, dirigido por ele há 20 anos e seguido de bate-papo.

O encerramento também marca a primeira exibição em Salvador da comédia O Pai da Rita, novo longa do cineasta Joel Zito Araújo - que na última edição presencial apresentou o documentário Meu Amigo Fela. Na nova produção, dois compositores da velha guarda da Vai-Vai (escola de samba de São Paulo) têm a amizade estremecida pelo surgimento da filha de uma antiga paixão de ambos, a passista Rita. 

 Pelo segundo ano consecutivo, o festival realiza o Panorama Convida, que trará “Pela Janela”, de Caroline Leone, vencedor da categoria melhor filme no festival de 2017. A produção convidada pela diretora é “Baronesa”, de Juliana Antunes, contemplado com o prêmio Indie Lisboa na mesma edição. Os dois filmes não serão exibidos no cinema, somente no site.  

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Mostras competitivas

As obras selecionadas para o Panorama serão exibidas nas competitivas Nacional, Baiana e Internacional, em mostras paralelas e nas sessões de abertura e encerramento. Entre os longas que integram a Competitiva Nacional está A Matéria Noturna (RJ), de Bernard Lessa, premiado como obra em finalização no 52º Festival de Brasília. O filme explora as possibilidades geradas do encontro entre uma jovem de Vitória (ES) e um marinheiro moçambicano. 

O primeiro longa de Madiano Marcheti, Madalena (MT/ RJ), levou ao Festival de Roterdã os impactos do desaparecimento de Madalena na vida de três pessoas que não se conhecem. O novo documentário de Eryk Rocha é um dos destaques da mostra. Filmado em preto e branco, Edna (SP) apresenta a personagem homônima, uma testemunha do arruinamento das terras em torno da rodovia Transbrasiliana, na Amazônia brasileira. A competitiva traz também a produção baiana Receba!, de Pedro Perazzo e Rodrigo Luna, uma ficção que reúne tipos diversos na busca por uma bolsa com conteúdo ilegal e valioso. 

Fechando a lista de oito selecionados estão A Felicidade das Coisas (SP), de Thais Fujinaga; Mata (Brasil/Noruega), de Fábio Nascimento e Ingrid Fadnes; Os Ossos da Saudade”(MG), de Marcos Pimentel; e 5 Casas (RS), de Bruno Gularte Barreto. A mostra tem ainda dezessete curtas, que serão exibidos antes dos longas

Na Competitiva Baiana, 25 filmes de diferentes formatos, gêneros e estilos oferecem um cenário do cinema realizado nos últimos dois anos por aqui. A mostra é composta por 20 curtas e os longas Açucena (Isaac Donato), Àkàrà no Fogo da Intolerância (Claudia Chávez), Genocídio e Movimentos (Andreia Beatriz, Hamilton Borges dos Santos e Luis Carlos de Alencar), Nós (Letícia Simões) e Qual a Cor do Trem? (Rodrigo Carvalho e Deniere Rocha).

Fechando as competitivas, a Internacional, apenas on-line, reúne seis longas e 12 curtas de 26 países dos cinco continentes, trazendo a Salvador filmes inéditos de lugares como Nova Zelândia, Romênia, Burkina-Faso, Síria, Alemanha e Chile.  Premiado no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA), Esta Chuva Nunca vai Parar (This Rain Will Never Stop), coprodução Ucrânia/Iraque/Síria/Alemanha, dirigido por Alina Gorlova, estará na mostra.