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Da Redação
Publicado em 23 de abril de 2019 às 13:37
- Atualizado há 2 anos
Os ex-candidatos à Presidência da República Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) criticaram o PT e defenderam que a unidade da oposição não deve passar pelo partido que governou por 13 anos o País. Para eles, mesmo a votação expressiva do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad não é suficiente para a oposição voltar a "orbitar" em volta da legenda.>
Os dois participaram de um debate sobre os primeiros 100 dias do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) organizado pelo senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Cid Gomes no auditório da Interlegis, no Senado.>
"É um partido que não reconhece erros. Que diz que não houve corrupção, que não houve crimes. Nenhuma autocrítica aos erros gravíssimos. O PT foi uma espécie de chocadeira desse governo que está aí", afirmou Marina. "Quanto mais estrelas no céu, mais claro o caminho.">
Ciro também culpou o PT pelo fortalecimento da direita que, para ele, proporcionou a candidatura e eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Marina e Ciro avaliaram que as práticas dos governos petistas e da própria legenda levaram o País ao "extremismo" do "nós contra eles". O ex-ministro disse que uma aproximação com o PT agora está fora de cogitação. "Foi o que eu fiz no governo Dilma 1 e no governo Dilma 2. Repetir de novo, nunca mais", garantiu.>
O ex-candidato à Presidência defendeu o surgimento de uma unidade para construir uma nova agenda para o País deixando claro a crítica à postura do PT - partido o qual definiu como fechado à discussão política e preso na defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, detido e condenado na Lava Jato. "Ou a gente entende isso (que é necessária uma nova linha política) ou a gente vai continuar assim. Lula está na cadeia, babaca", disse Ciro, repetindo o bordão criado por seu irmão, o senador Cid Gomes (PDT-CE), nas eleições. Cid Gomes era um dos convidados da mesa, mas saiu no início do debate e sentou-se no espaço reservado à plateia.>
Os dois defenderam a construção de uma oposição propositiva a partir dos primeiros 100 dias de governo. "Estou propondo um outro caminho de oposição sem esse negócio de tchutchuca e tigrão. Optei por uma oposição propositiva", afirmou Ciro.>
Previdência No evento, os políticos criticaram o sigilo aos dados da reforma da Previdência decretados pela equipe econômica. Também defenderam uma reforma da Previdência, mas "não a apresentada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes".>
Ciro defendeu o modelo de capitalização e afirmou que a repartição do sistema é inviável. Já Marina afirmou que a reforma é necessária, mas desde que garanta critérios justos de transição e a garantia do bem estar social. Os ex-presidenciáveis criticaram ainda as ações do governo Bolsonaro e a censura à imprensa decreta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada.>
"A Previdência deve cumprir duas tarefas e não apenas uma. O primeiro indeclinável de garantir conforto e dignidade social. A segunda de levantar o nível da poupança do País para garantir a capacidade de financiamento", afirmou Ciro. Ele ainda criticou a falta de publicidade dos dados da Previdência: "Isso é um bando de picaretas".>
No debate da Previdência, a ex-senadora Marina Silva defendeu um "tripé" social. "Tem que ser sustentável, justa e inclusiva. O tripé tem que ser combinado.", disse. Candidata à Presidência nas últimas três eleições - 2010, 2014 e 2018 -, Marina defendeu mudanças no tempo mínimo de aposentadoria, mas com uma transição mais lenta do que atual proposta pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes.>
Um dos organizadores do debate, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também fez críticas ao governo. "A anarquia abre excesso para autoritarismo. Esse governo está sem autoridade e os demais Poderes se contaminam dessa anarquia. Esse inquérito é uma ilegalidade", afirmou.>
Os três classificaram o governo Bolsonaro como um "retrocesso" e criticaram os ataques às instituições promovidos pelo presidente da República e seus assessores. A ex-senadora Marina Silva afirmou com o "autoritarismo" do governo Bolsonaro vem na "sobreposição das instituições".>
"O autoritarismo do governo Bolsonaro vem do sobrepor as instituições, desrespeitando a natureza da democracia direta e democracia representativa achando eu vai governar de maneira direta sem dialogar com os demais Poderes", afirmou Marina.>
A ex-senadora disse ainda que vê similaridades entre os primeiros meses de governo Bolsonaro com o da presidente cassada Dilma Rousseff em seu primeiro mandado (2010-2014).>
"No quesito corrupção, o atual governo tem uma prática parecida com o da Dilma no seu primeiro mandato. Lembra da história da faxineira? Quando era pessoas de outros quintais, a faxina era imediata. Quando era do seu quintal, Dilma virou acumuladora. Bolsonaro, em outros quintais como no caso do (Gustavo) Bebbiano (ex-ministro de Governo) foi imediata, já no caso do ministro do Turismo não está sendo rápido assim", afirmou a ex-ministra.>
Ciro Gomes afirmou que o governo defende uma agenda de "negação" que coloca em xeque as instituições desviando de discussões essenciais como as reformas estruturantes. "A força política mais forte do País é para negar", afirmando que o governo abraça esse discurso por falta de propostas claras para o País.>
Os debatedores também discutiram os problemas no Ministério da Educação, que em quatro meses já teve um titular demitido e está ligado a apoiadores do professor Olavo de Carvalho. "Dos núcleos exóticos no governo foi na Educação foi se teve mais. E isso é uma tragédia nacional", afirmou Randolfe Rodrigues.>
Marina defendeu a atuação dos militares no governo e elogiou o vice-presidente, Hamilton Mourão, que classificou como um moderado no governo. Ciro se opôs à posição e Marina. Para a ex-candidata da Rede, é dos militares que parte a maior parte das "desautorizações" dentro do governo Bolsonaro. Ela cita o caso da Embaixada de Israel e as críticas a aproximação de uma saída bélica para resolver a questão da Venezuela.>
Crise Tanto Marina quanto Ciro veem o momento como de oportunidade. Ciro diz que não vê ainda saída para atual crise, que para ele tende se agravar, mas vê uma oportunidade.>
"O ideograma chinês para palavra crise é quase o mesmo para oportunidade com um rabinho de diferença. E eu vejo isto. Não podemos imaginar que está crise que estamos passando é uma crise trivial. Acho ela é fundadora. Acho que vamos passar por uma alto combustão. Vejo muita crise ainda. Acho que essa combustão seja necessária para queimar os ídolos e repor a política como um caminho de ideias", afirmou.>