Coisa de cinema: conheça o Moulin Rouge da vida real

Cabaré mais famoso do mundo apresenta há 18 anos o espetáculo Féerie

  • Foto do(a) author(a) Naiana Ribeiro
  • Naiana Ribeiro

Publicado em 19 de fevereiro de 2018 às 20:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Não tem Satine, nem Christian, muito menos garotas de programa. Na vida real, o Moulin Rouge, cabaré mais famoso do mundo, é completamente diferente do filme com Nicole Kidman e Ewan McGregor. Ainda assim, é uma visita memorável - capaz de tirar o fôlego até de quem nunca viu o longa ou sequer ouviu falar na casa de shows - e que deve ser incluída no roteiro de quem quer ter uma noite inesquecível em Paris, na França. 

O Moulin Rouge fica na 82, Boulevard de Clichy, em Montmartre, e transporta quem adentra à exuberância da belle époque parisiense de1889. Impressiona logo de fora pelo moinho vermelho e pela fachada com letreiros luminosos, aos quais se chega fácil pela parada Blanche do metrô. (Foto: Reprodução) Emoção de cinema São 20h15 de uma segunda-feira de Outono quando entro na casa de shows com meu melhor amigo. Assistimos ao filme juntos diversas vezes. Se as paredes falassem, ouviríamos histórias sobre as apresentações arrebatadoras das cantoras Jane Avril e Édith Piaf, dois dos grandes talentos que já se apresentaram na casa. Quadros e decoração em veludo vermelho chamam atenção e dão o clima para o espetáculo, que tem duas sessões por noite, e custa entre 77 e 420 euros por pessoa. A partir daí, tudo foi filme para mim.

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Cabaré ficou ainda mais famoso com o filme homônimo, de 2011 (Foto: Divulgação) Em vez da personagem principal interpretada por Nicole Kidman, a minha história teve como protagonista a dançarina e solista Jemma Beckett, 30 anos. Nos bastidores, os mais de 100 artistas - sendo 60 dançarinos, de 14 nacionalidades, que vestem 1000 fantasias e 800 pares de sapatos, todos feitos a mão - se preparavam para o Féerie, espetáculo em cartaz no local desde 1999. Em um dos camarins - que inclui dezenas de fantasias, espelhos e sofá - Jemma surge pronta para o show. Maquiagem e brilho não faltam; tudo para ressaltar sua beleza natural. 

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Australiana de Sydney, ela é filha de dançarinos profissionais e faz ballet desde os três anos. Fez ainda cursos em Londres e em Nova York. Em um bate-papo de 15 minutos, ela nos contou que sempre teve uma ligação com o Moulin Rouge. “Desde pequena eu ouvia falar muito sobre esse cabaret. Já tinha visto o moinho vermelho retratado em muitas obras. Além disso, amigos trabalharam aqui”, disse, com um sorriso largo no rosto, antes de acrescentar um pequeno detalhe: sua mãe ajudou a coreografar uma das cenas do inovador Moulin Rouge: Amor em Vermelho, obra-prima do australiano Baz Luhrmann. “Eu amo o musical. É tão lindo! O clima boêmio, as roupas, as coreografias, o amor… Como foi filmado em Sydney, muitos amigos participaram das cenas. Eu já estava conectada com a casa muito antes de trabalhar aqui”, revelou.  Dançarinas vestidas de vermelho, com grandes plumas na cabeça, em um palco com fundo (Foto: Divulgação) Jemma foi selecionada para entrar no elenco do Féerie em 2011, mas fechou o contrato com o cabaret em 2013, ano em que mudou-se para a cidade-luz. Desde então, ganhou cada vez mais destaque no show: “Apesar da dança francesa ser diferente do ballet clássico, a técnica do ballet me ajuda demais nos shows, pois temos que dar muitos pulinhos e chutes. Eu amo cada momento aqui: é um sonho que se tornou real. Essa é uma dessas incríveis oportunidades que temos na vida e não sabemos até quando vai durar. Mas quero continuar até quando puder. Sou muito grata e feliz de trabalhar com o que eu gosto e de fazer parte dessa história”. 

Assim como os outros dançarinos, Jemma trabalha seis dias por semana, das 19h30 às 1h30. Além dos 12 shows semanais, participa ainda de um ensaio geral por semana. “É bom porque temos o dia todo para fazer outras coisas. Moro em Montmartre, perto da Sacré-Cœur, então faço tudo andando. Amo dançar, mas também adoro arte. Amo ir a museus e galerias e sou apaixonada pela obra de Rodin e Monet”. Natural de Sydney, Jemma foi selecionada para entrar no elenco do Féerie em 2011 (Foto: Reprodução) Quem vê a estrela sem maquiagem, com cabelos loiros ralos e soltos, não imagina que ela seja uma das principais solistas do mais conhecido cabaret do mundo. Na maior parte do show, inclusive, ela e outras mulheres usam figurinos com os seios à mostra. “Paris me fez mais forte e independente. Temos que ser assim. No palco, sou forte, linda e sexy. É como se estivesse interpretando um personagem”, conta ela, garantindo não haver espaço para segundas intenções - como no filme.“Quem conhece a história do nosso show, sabe que mostramos o corpos como uma forma de reverenciar a beleza feminina.Fazemos tudo isso com elegância, sendo respeitosos. Tanto é que crianças a partir de 6 anos podem assistir ao show. Se você sabe o que é um tradicional cabaret, sabe que todos somos artistas e que há muita tradição. Se alguém tiver outras intenções, é só é descer a rua. O que fazemos aqui é arte”, argumenta a dançarina. Um espetáculo Tanto é que, exatamente às 21h, o salão principal vira praticamente um teatro. O ambiente, que recebe cerca de 600 mil pessoas a cada ano, segundos antes estava ao som de jazz e mais parecia um restaurante de luxo, com elementos banhados a ouro, lustres gigantescos e cartazes originais dos artistas que se apresentaram na casa nas paredes. Saboreando um vinho branco em uma cadeira aveludada, fiquei impressionada com as coreografias bem ensaiadas e cenários e figurinos com plumas e paetês brilhantes. Os números do Féerie são de cair o queixo: misturam música original, dança, canto, patinação e comédia. No espetáculo, cinco cenas retratam a história do local e perpassam por outras culturas. São essas: O Moulin Rouge, hoje e ontem; Os Piratas; No Circo; O Moulin Rouge, de 1900 a…; e Atrações internacionais.

As apresentações em grupo são excelentes. Mas o destaque vai para os impecáveis solos em dupla. Neles, artistas desafiam habilidades humanas como equilíbrio, força e precisão, além de esbanjarem muita coragem e fazem o coração do público acelerar e quase sair pela boca em poucos segundos. O esperado cancã também não falha.  (Foto: Divulgação) Incomodam e são descartáveis, porém, as cenas com animais. As cobras, que estavam em um tanque com água e rodeavam uma dançarina, pareciam extremamente estressados; já os pôneis, que participaram de um número inspirado no circo, pareciam tristes e foram praticamente arrastados pelo palco. No mais, os corpos masculinos poderiam estar tão à mostra quanto os femininos. Entrar no Moulin Rouge, conhecer os bastidores do local e ainda assistir ao espetáculo Féerie parece história de filme, mas foi ainda melhor porque é real. A visita fica cada vez mais emocionante por tudo o que o cabaret representa.