Com alta na confiança, varejo baiano deve crescer 5% este ano

Economistas projetam ano positivo para o comércio

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 20 de fevereiro de 2020 às 05:58

- Atualizado há um ano

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Há seis anos que a confiança do comerciante de Salvador não atingia um patamar tão alto no mês de fevereiro quanto o que foi registrado agora. O ICEC, índice da Federação do Comércio da Bahia (Fecomércio-BA), para medir as expectativas dos empresários do setor, atingiu 123,3 pontos, após a sétima alta mensal consecutiva. Na comparação com fevereiro de 2019, o ICEC apresentou uma alta de 3,6%. O bom humor do empresariado está entre as principais explicações da Fecomércio-Ba para  a expectativa de um crescimento de 5% no desempenho da atividade este ano. 

O principal destaque no índice que mede a confiança empresarial foi o que mede as condições atuais, que registrou um crescimento de 6,5% em um ano e retornou pela primeira vez em seis anos ao patamar que é considerado de otimismo. Entretanto, a confiança está em alta também no que diz respeito às condições a curto e médio prazo. “Quando se tem uma alta nas condições atuais, significa que as empresas estão faturando mais, que a melhoria já está sendo registrada e não apenas é esperada para o futuro”, explicou o assessor econômico da Fecomércio-Ba, Guilherme Dietze. 

Ontem, a entidade que representa o comércio baiano, o setor de serviços e o turismo reuniu a imprensa, diretores, presidentes de sindicatos e a imprensa para apresentar as expectativas para a economia baiana e brasileira em 2020. 

“Quando se registra uma melhoria nas expectativas o efeito esperado é o de um aumento nos investimentos em estoque e na contratação de pessoal”, avalia Dietze. O economista lembra que o país viveu três momentos distintos economicamente no ano passado. Primeiro houve uma euforia com a eleição de um novo governo, depois uma queda e, posteriormente, uma aceleração no segundo semestre do ano, após medidas que estimularam o consumo, como a liberação do FGTS, PIS/Cofins e a Semana Patriótica. Dietze lembrou ainda que os dois últimos meses de 2019 já registraram alta de 4% e 8% no comércio baiano. 

Uma demonstração da diferença entre o primeiro e o segundo semestre do ano passado pode ser percebida nos números do varejo. No primeiro semestre, a atividade registrou crescimento de 1%, enquanto no segundo semestre o resultado foi de uma alta de 3%. No varejo ampliado, que leva em conta as vendas de produtos automotivos e o comércio de materiais de construção, a diferença foi ainda maior, de -1% no primeiro semestre e um crescimento de 5% na segunda metade do ano. 

“A crise parece estar ficando cada vez mais para trás”, avalia, destacando a agenda de reformas do governo e medidas que estimulam a economia, como uma taxa básica de juros mais baixa e uma inflação sob controle. “Há um reflexo positivo no dia a dia do empresário e, por consequência, de sua confiança”, diz. 

Por outro lado, as pesquisas apontam também para um consumidor menos endividado e mais confiante para consumir, lembra. Em um ano, entre janeiro de 2019 e de 2020, caiu em 14,4 mil o número de famílias endividadas em Salvador. A inadimplência, quando o consumidor não consegue dar conta das suas dívidas, também caiu em 23,5 mil pessoas.    O aumento de 10% na concessão de crédito imobiliário na Bahia é outro sinal da retomada na atividade econômica. Os lançamentos de unidades registraram alta de 44%, com 6,9 mil unidades no ano passado, contra 4,7 mil unidades em 2018. 

Para o economista Fábio Bentes, assessor econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), as perspectivas para 2020 são positivas, mas o Brasil depende do avanço das reformas administrativa e tributária para que se possa pensar num ciclo duradouro de crescimento. “Destacaria neste processo a reforma administrativa, porque temos um estado deficitário”, explicou. 

Em 2020, o país deve desfrutar da “herança” acumulada em 2019. “Estamos com juros básicos em um patamar 68% menor do que tínhamos em 2014 e isso é bom, mas poderia ser melhor se essa redução chegasse ao consumidor”, avalia. 

Bentes acredita que o Brasil precisa corrigir os problemas no mercado de trabalho para crescer de maneira duradoura. “A gente tem o problema do desemprego, mas temos também a informalidade, que muitas vezes é uma subutilização da força de trabalho, e temos também a situação do desalento, que são pessoas em condições de trabalhar e, por falta de oportunidades deixam o mercado de trabalho”, destaca. 

Para o economista, a solução para o problema do desemprego passa pelo investimento na qualificação dos trabalhadores. “Vivemos um momento de mudanças, em que muita gente que sai do mercado de trabalho não consegue retornar por falta de qualificação”, afirma. Segundo Bentes, o cenário mostra a importância do Sistema S. “O governo está enxugando suas contas e não tem como bancar a formação de trabalhadores. As famílias sofrem com o desemprego. Precisamos de arranjos do setor produtivo para a formação de mão de obra. O Brasil precisa fortalecer os seus mecanismos de formação de mão de obra”, acredita. 

O presidente da Fecomércio-Ba, Carlos Andrade, também ressaltou a importância do trabalho de formação de mão de obra. “O Brasil precisa de mão de obra qualificada. Nós realizamos um trabalho de excelência aqui e um dos exemplos é a equipe que formamos nos restaurantes escola, que atendem todo o turismo baiano”, disse, acrescentando que o Senac oferece um total de 44 cursos de formação na Bahia. 

Carnaval Para que ninguém precise esperar até o final do ano em busca de uma boa notícia, a expectativa do setor de comércio e serviços para o Carnaval, que se inicia oficialmente hoje, também é positiva. A festa deverá gerar uma movimentação de R$ 2,2 bilhões este ano, sendo R$ 800 milhões destinados no comércio, o que deverá representar uma alta de 2% em comparação com o ano passado. 

O assessor econômico da Fecomércio-Ba, Guilherme Dietze, destaca o papel do dólar valorizado para as boas expectativas. “Com o dólar caro, torna-se mais interessante viajar pelo Brasil. E a Bahia é um forte destino nacional”, lembra, citando como exemplo o aumento na oferta de voos para o estado. “A Gol anunciou que ampliou a oferta de voos em relação ao Carnaval de 2019. A Latam ampliou em 36% a oferta de assentos”, disse. 

O economista Fábio Bentes, assessor da Confederação Nacional do Comércio (CNC), acredita que este Carnaval será o melhor dos últimos cinco anos no Brasil. “O turismo pode tirar proveito desse aumento na demanda com o dólar mais caro. Boa parte desse movimento deve ser direcionado para a Bahia, que é o terceiro destino nesta época”, afirma. Ele brinca, falando sobre a importância do período. “É o Natal do Turismo”, ri. 

Coronavírus Apesar da preocupação que o coronavírus desperta por todo o mundo, a falta de informações claras do governo chinês a respeito do surto impede uma análise precisa sobre os impactos do surto na economia brasileira. O assessor econômico da Fecomércio-Ba, Guilherme Dietze, lembra que ao mesmo tempo em que o governo do país asiático divulga dados que indicam um problema pequeno, reportagens indicam um “elevado número de mortes” ocasionadas pelo surto. “É muito cedo para um prognóstico, até porque as estatísticas chinesas não são confiáveis”, avalia o economista. 

Apesar disso, ele lembra que alguns setores da indústria já estão sofrendo com a falta de insumos de produção. Se o cenário de desabastecimento se confirmar, o risco será de um aumento nos preços de produtos cuja cadeia produtiva forem afetadas. 

“Geralmente, esse tipo de situação acaba ocasionando um aumento nos preços dos produtos”, lembra o assessor econômico da CNC, Fábio Bentes. Para ele, o setor automotivo está entre os que podem sofrer mais com a situação. “A China responde por 16% do PIB mundial e por 30% da produção automotiva. Este é um setor que pode sofrer”, avalia. 

Por outro lado, os economistas acreditam que o surto, somado à alta do dólar, pode ser um estímulo ao turismo interno e até mesmo externo.