Com antecipação do São João, baixa demanda por milho verde preocupa produtores

Presidente da Faeb estima que o consumo do cereal deve reduzir em torno de 80% no período das festas juninas

  • D
  • Da Redação

Publicado em 2 de junho de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Paulo César Bernardino

O São João seria comemorado em 24 de junho, mas a última terça-feira foi marcada por alguns fogos e festas juninas devido a antecipação do feriado na Bahia para conter a disseminação do novo coronavírus. A comemoração antes da data oficial preocupa os produtores de milho do estado, que haviam se programado para as vendas em junho.

O cultivo de milho é uma das fontes de renda do produtor rural Paulo César Bernardino, de Jaguaquara. Ele calcula que o prejuízo dos agricultores da região deve ser grande com a antecipação do feriado junino.“Não vai escoar a produção. Além do cancelamento das festas de São João, a antecipação também prejudicou porque as pessoas não vão viajar e se reunir na data. Com isso muitos vão deixar de consumir o milho”, afirma o produtor.De acordo com Bernardino, a procura pelo alimento começa por volta de 10 de junho e segue até os festejos de São Pedro. Também é nesse período que o preço do milho aumenta. O agricultor já sentiu a queda da procura: “Com a pandemia, muitas feiras livres estão fechadas. A procura já está muito baixa, nessa época já vendia bem. Em anos normais, o preço da saca de espiga de milho era cerca de R$ 20, mas agora já está em R$ 15”, diz.

Só ele deve deixar de vender 30 mil espigas para o São João. Como um todo, segundo ele, os produtores de milho da região de Jaguaquara devem deixar movimentar entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões na cidade com a quantidade milho que não será vendida.“Minha expectativa é não vender porque não sei quem vai comprar. Devo utilizar o milho para fazer silagem”, explica.

Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, os impactos econômicos da queda da demanda pelo milho no São João devem recair sobre os pequenos produtores. Ele estima que o consumo do cereal deve reduzir em torno de 80% no período. Apesar de conseguir analisar a redução no consumo, Miranda afirma ainda não ser possível calcular o valor que deve ser perdido. De acordo com o presidente, o uso do alimento nas comidas típicas juninas valorizam o preço da espiga cerca de 15 dias antes do São João. 

De acordo com o gerente de desenvolvimento da Superintendência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na Bahia, Marcelo Ribeiro, a impossibilidade de adiantar a colheita para atender o feriado antecipado deve resultar na queda do preço do milho na época do São João pela redução da demanda:“Existe a demanda pelo milho verde, a questão é o quanto a ausência do São João vai afetar o mercado. Dimensionar o impacto do cancelamento é difícil pois é algo muito novo que não tem precedente”.Mesmo com a queda da venda do milho em espiga no estado, o preço do cereal não deve ser afetado já que grande parte da produção é em grão que será utilizado para a produção de ração. “Do ponto de vista da valorização do milho em grão, o impacto da antecipação do São João é praticamente zero. O preço do milho sofre mais reflexo do câmbio internacional e de outros estados  como os Centro-Oeste”, explica Miranda.

Safra  As condições climáticas favoráveis fizeram com que a safra de 2020 de milho na Bahia fosse melhor que a do ano passado, de acordo com Ribeiro. Esse fato eleva a expectativa de produção do cereal neste ano, com estimativa de aumento de 19,2% em relação à safra do estado em 2019. 

De acordo com Ribeiro, a pandemia do novo coronavírus não impactou a produção de milho no estado. Apesar de manter a boa produção, os impactos do vírus na venda do cereal no estado da Bahia tendem a ser pouco significativos. “Não é possível garantir que a pandemia não teria impacto na comercialização da produção do grão", afirma.

Na Bahia, a produção do milho é dividida em duas safras: a primeira, semeada até dezembro, com maior expressão na região oeste do estado; e a segunda, cujo plantio começou em maio. Devido ao tempo entre as duas safras, parte da produção já está sendo colhida, enquanto outra cota ainda está no processo de semeadura. 

Até a semana passada, o milho da primeira safra já estava 92% colhido. Já o processo de plantio da segunda  safra estava 99% completo no mesmo período.

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco