Com apenas 65% da população imunizada, H3N2 preocupa em Salvador

Vírus gerou surto na capital em janeiro; vacinação começa em 4 abril

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  • Wendel de Novais

Publicado em 22 de março de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes

Os cinco grupos prioritários para a vacinação contra a gripe em Salvador estão com os índices de cobertura abaixo dos 80%, que é a recomendação mínima de eficácia para barrar o espalhamento de um vírus feita pelo Ministério da Saúde (MS). Com a chegada do outono, o Influenza (causador da gripe) e sua mais nova variante, H3N2, apelidada de Darwin, tende a circular mais facilmente, transmitida pelo ar. Ao todo, entre o final de 2021 e os primeiros meses de 2022, há um acúmulo de 408 casos deste subtipo na capital.

Por aqui, as crianças têm o melhor desempenho na vacinação contra a gripe, com 78% de cobertura; enquanto no outro extremo, os idosos estão entre os menos vacinados, com 51%, junto aos trabalhadores da saúde, com 48%. Gestantes, com 63%; e puérperas, com 69%; também integram os grupos de preocupação. Os dados são da Secretária Municipal da Saúde de Salvador (SMS), que iniciará campanha de vacinação contra a H3N2 a partir de 4 de abril. Segundo a pasta, a ação é necessária porque apenas 65% do público alvo já está vacinado.

Uma parte significativa dos 408 casos acumulados na cidade foi registrada nas duas primeiras semanas deste ano, quando Salvador apresentou um surto da variante da gripe, com 74 infectados. A proteção com a vacina é ainda mais necessária neste ano, reforça Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Ele explica que, em 2021, a cepa da H3N2 ainda não constava na atualização anual da vacina, o que deixou todo mundo mais vulnerável a Darwin, que teve origem na Austrália no ano passado.

"Não tinha essa cepa na formulação. Como essa variante não estava predominando na virada de 2020 para 2021, não foi incluída. Ela só ganhou força depois da vacina ter sido fechada. Sem sombra de dúvidas, essa campanha é mais fundamental por isso", salienta Gomes. 

Ou seja, quem tomar a vacina da gripe a partir de 4 de abril já estará também se protegendo contra a H3N2. A SMS ainda não tem detalhes da estratégia de vacinação durante a campanha e nem quais ou quantos postos funcionarão para atender a população. Em todo o Brasil, a vacinação contra a gripe também começa em abril.

Derrubados pelo vírus

A professora Lene Moreira, 50 anos, contraiu a variante H3N2 em dezembro passado. Ela diz que os sintomas a ‘derrubaram’. “Fiquei mais de uma semana acamada, fui para a emergência e peguei um atestado de sete dias. Nesse tempo, tive muita dor de cabeça, náusea, febre e dores no corpo. Mesmo depois do atestado, ainda senti dores na cabeça por um bom tempo”, lembra ela, que acabou contraindo o H3N2 outra vez no mês seguinte.

O vírus também chegou à casa de Pedro Lopes, 24, estudante de psicologia. Mesmo com cuidados, ele e a irmã se contaminaram. “Fiz o teste em 16 de dezembro. Tive sintomas pesados, com sensibilidade nos olhos, inflamação na garganta, dor no corpo, febre forte e tontura. Depois que curou, fiquei mais de um mês com a tosse de sequela”, relata. Lene pegou H3N2 duas vezes em dois meses (Foto: Acervo Pessoal) Também em dezembro, o H3N2 pegou a jornalista Naiade Bianchi, 40, e os sintomas a castigaram muito. "Foi horrível, considero que fiquei bem mal porque não sou de adoecer. Ainda mais do jeito que foi: tossindo muito, com dor de garganta. Só depois de ir no posto de saúde, consegui caminhar um pouco, mas estava me sentindo cansada", conta.

Variante agressiva

Os casos fortes de Naiade, Pedro e Lene não são coincidência. Médico infectologista da S.O.S Vida, Matheus Todt explica que os sintomas da variante H3N2 costumam ser mais agressivos que os da covid-19, por exemplo. 

"De forma geral, H1N1 e H3N2 têm, inicialmente, sintomas bem mais intensos que a covid-19. [...] O paciente fica mais prostrado, tem mais febre, obstrução e dor no corpo. Embora a chance de desenvolver formas graves e não resistir seja menor em relação a covid", compara.

Apesar da diferença citada pelo infectologista, discernir apenas pelos sintomas se está com covid-19 ou H3N2 é praticamente impossível. 

"São vírus de famílias distintas, mas ainda assim respiratórios. E, infelizmente, eles compartilham uma série de sintomas comuns. Os mais frequentes são similares. [...] Então, a forma mais precisa de saber de que se trata é o exame laboratorial", explica Marcelo Gomes, do Infogripe/Fiocruz.

O baixo índice de hospitalização e óbito pelo H3N2, no entanto, para Todt, tem como principal razão justamente a vacinação anual contra a gripe. "A baixa cobertura vacinal torna os grupos prioritários mais vulneráveis. Na pandemia, as pessoas viram a importância que tem uma vacinação contra doenças imunopreveníveis. Então, chama a atenção não estarem se protegendo. Se continuar assim, o lógico é ter mais casos graves e até mesmo óbitos com o passar do tempo", completa o infectologista. H3N2 é inicialmente mais agressivo que a covid-19 (Foto: Reprodução) Contágio

A H3N2, ou Darwin, tem sintomas que costumam surgir entre três e cinco dias após contato. A pessoa infectada pode transmitir o vírus nesse período ou após iniciar os sintomas. A indicação médica é de isolamento por três dias após os primeiros sinais da doença. 

Os sintomas normalmente são mais intensos nas primeiras 48 horas, sendo os principais: febre acima de 38ºC; dor de garganta; tosse; dor de cabeça; dor nas articulações; espirros, coriza e nariz entupido; calafrios; cansaço; náuseas e vômitos; mal-estar geral; irritação nos olhos e diarreia, principalmente em crianças.

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.