Com crise na Avianca, preços das passagens ficarão altos até setembro

Trecho entre Salvador e Rio de Janeiro teve maior alta do país

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  • Da Redação

Publicado em 3 de maio de 2019 às 05:07

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes

Com a redução da oferta de voos no país decorrente da crise da Avianca Brasil, os preços das passagens aéreas nas principais rotas da companhia já registram altas de até 140%. Um levantamento da Voopter, plataforma que faz comparação de valores dos tíquetes, mostra que o trecho entre os aeroportos de Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e Salvador, Bahia, foi o que teve a tarifa mais elevada entre as rotas analisadas. O valor médio da passagem passou de R$ 574,14, em abril de 2018, para R$ 1.377,32, no mesmo mês deste ano, um aumento de 139,89%. 

“A Avianca influenciou muito (a alta dos preços), porque a demanda não mudou e o número de assentos ofertados caiu. Essa demanda migrou para as outras companhias aéreas, que têm algoritmos que percebem isso”, diz a diretora-geral da Voopter, Juliana Vital. A estimativa é que as tarifas continuem pressionadas pelo menos  até que a venda dos ativos da Avianca seja concluída, segundo fontes do mercado.

Representantes do setor do turismo acreditam que os efeitos do cenário atual ainda serão sentidos pelos próximos meses - pelo menos até setembro. “É um problema sério que atingiu Salvador e a Bahia em grandes proporções. Esperamos que isso se recomponha em três ou quatro meses, mas pode ser que  perdure um pouco mais. Com certeza vai afetar a temporada, ocupação de hotéis, todo o maquinário turístico, mesmo em julho que é um bom mês para Salvador”, avalia Roberto Duran, presidente da Salvador Destination.

Para o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia (Abih-Ba), Glicério Lemos, ainda é cedo para mensurar o tamanho do impacto “De imediato os hotéis têm suportado alguns cancelamentos que turistas que desistem de vir, mas varia de hotel para hotel. Ainda não dá para quantificar o quanto seremos afetados”, disse.

Jorge Pinto, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem da Bahia (Abav-Ba) acredita que o cenário já deve começar a melhorar nos próximos dias, com o início da normalização nos preços das passagens. No próximo dia 07, a Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) redistribuirá emtre GOL e LATAM as rotas que deixaram de ser operadas pela Avianca “São duas empresas que têm equipamentos grandes e que vão conseguir se adaptar para absorver a demanda. Assim as coisas começam a se normalizar”, espera. 

Mês de perdas

O mês de abril está sendo considerado o pior dos últimos dois anos por representantes do turismo baiano. Ainda sem os dados fechados, a Federação Baiana de Hotéis e Alimentação (Febha) projeta o mês como o primeiro, desde junho do ano passado, sem aumento de ocupação, na comparação com o  mesmo mês do ano anterior.

A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) traduziu em números o tamanho do impacto da crise. A última quarta-feira, feriado do Dia do Trabalho, registou uma ocupação de 38,5%, o pior resultado diário desde o ano de 2018. 

Para o órgão municipal, um dos fatores que pode ter afetado a vinda de turistas para a cidade é o aumento crescente do valor das passagens aéreas nos trechos que conectam Salvador ao Rio de Janeiro e a São Paulo, principais cidades responsáveis por trazer turistas à capital baiana. 

“Verificamos que aumentos significativos no preço das passagens entre São Paulo e Salvador também ocorrem neste mesmo período. Isso atinge, portanto, os dois maiores mercados emissivos para Salvador, respectivamente, São Paulo e Rio de Janeiro”, destacou o órgão. 

Soluções 

Para Sílvio Pessoa, presidente da Febha o cenário é preocupante. “É perigoso cair em um oligopólio de apenas três companhias aéreas que tem muito pouco de capital nacional. Contudo, apesar da crise, não é possível culpar a Avianca como a única responsável pelo cenário”, ressaltou. 

Pessoa destaca duas medidas que podem ajudar a conter a crise: a abertura do setor a capitais internacionais e a redução do ICMS, imposto incidente sobre o combustível da aviação. “Queremos os céus abertos para que a concorrência seja promovida. A redução do imposto também é uma medida que já vem sendo tomada em outros estados e que pode ajudar muito”, explicou. Segundo Silvio, a medida já foi tomada em estados como São Paulo, Pernambuco, Ceará e Distrito Federal e é bastante significativa já que o combustível “representa até 40% do custo de uma viagem de avião”. 

Procurada, a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur) informou, em nota, que a redução no imposto já está em estudo e faz parte dos planos.

“A Secretaria do Turismo da Bahia atua em conjunto com a Sefaz e Casa Civil na elaboração de análise e perspectiva de medidas que minimizem os transtornos causados pela redução de voos da Avianca. Uma das estratégias deste plano de ação prevê incentivo fiscal no querosene de aviação, num processo que inclui a contrapartida no aumento do fluxo de passageiros e consumo de combustível”, diz a nota enviada pelo órgão estadual. 

A Setur citou, também, o projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional que prevê a abertura do setor para capital internacional. “No cenário nacional, a medida que prevê abertura do setor aéreo ao capital estrangeiro - em análise no Congresso - é aguardada por oferecer perspectiva de avanços no setor, com maior competitividade e a necessária redução dos preços das passagens aéreas”. 

Pedido de recuperação Em recuperação judicial desde dezembro, a companhia aérea deve cerca de R$ 700 milhões às arrendadoras de aviões e, após uma disputa na Justiça, se viu obrigada a devolver quase toda sua frota. Das 57 aeronaves que tinha em novembro do ano passado, sobraram cinco. Esse foi o maior movimento de retirada de jatos do mercado brasileiros dos últimos 15 anos, o que resultou na redução de oferta de voos mais brusca do período. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Avianca tem hoje uma média de 39 voos diários – eram 280 um ano atrás.

Os dados de inflação do IBGE - que incluem não apenas os preços das passagens das rotas operadas pela Avianca, mas de voos oferecidos por outras empresas - mostram que as tarifas começaram a responder a esse corte de oferta em marco, quando avançaram 7,29%. No mesmo mês de 2018, elas haviam recuado 15,42%. 

Procuradas, Azul, Gol e Latam informaram trabalhar com preços dinâmicos, que variam conforme antecipação da compra e sazonalidade, entre outros fatores. Destacaram também que as tarifas são influenciadas pela cotação do dólar e pelo preço do combustível. 

Além do impacto nos preços da passagem, a crise na companhia aérea provocou ainda a demissão de 80 funcionários que trabalhavam no aeroporto de Guarulhos ontem. Representantes dos trabalhadores dizem que foram cortados 30% da mão de obra no local e o temor é que a onda de cortes nos postos de trabalho se espalhe. Desde o início de abril, a Avianca cancelou mais de 2.000 voos pela falta de aviões, confiscados pela falta de pagamento do aluguel das aeronaves. Ministério Público cobra providências a favor de  clientes

O Ministério Público Federal (MPF) pediu informações à Avianca Brasil e à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre as providências que vêm sendo tomadas para minimizar os prejuízos causados aos clientes da Avianca em razão da crise instalada na empresa.

Em nota divulgada ontem, o MPF informa que a Câmara de Consumidor e Ordem Econômica do MPF (3CCR) instaurou Procedimento Administrativo para acompanhar o caso e garantir que os consumidores não tenham seus direitos violados. 

O objetivo da ação do MPF, diz a nota, é possibilitar o acompanhamento e a fiscalização das medidas adotadas em relação aos transtornos causados por causa de atrasos e cancelamentos de voos pela Avianca.

O MPF também questiona a atuação da Anac diante das notícias de descumprimento da Resolução Anac nº 400, que dispõe sobre as condições gerais de transporte aéreo.

Essa resolução da Anac prevê que o passageiro impactado por cancelamento pode optar pelo reembolso integral do valor pago pela passagem, pela reacomodação em outros voos da própria companhia ou de outra empresa que ofereça serviço equivalente para o mesmo destino.

A 3CCR solicita, no ofício enviado à Avianca, informações detalhadas sobre elaboração de plano de contingência adotado diante do cenário atual e a incerteza de que a empresa aérea irá cumprir regularmente os compromissos assumidos com os passageiros. 

Novas regras para despacho de bagagem de mão passam a valer a partir do dia 23 em Salvador Em meio à crise que invadiu os aeroportos do país por conta recuperação judicial da Avianca, os passageiros terão que se adaptar a mais uma mudança. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou ter iniciado no último dia 10 uma campanha de orientação aos passageiros em voos domésticos, sobre a utilização da bagagem de mão. Em Salvador, a campanha ocorrerá de 08 a 22 de maio. Com o fim do período de campanha educativa uma triagem será iniciada no dia 23.

Ao todo serão 15 aeroportos participando da iniciativa. Em cada unidade haverá um período de duas semanas com ações de cunho educativo para informar os passageiros das dimensões permitidas para bagagens de mão. Depois desse período, as bagagens fora do padrão precisarão ser despachadas nos balcões de check-in e estarão sujeitas à cobrança de acordo com  a companhia e a franquia de viagem contratada pelo passageiro. 

“As medidas da bagagem de mão (55 centímetros de altura x 35 centímetros de largura e 25 centímetros de profundidade) foram padronizadas pelas empresas para melhor acomodação, conforto e segurança”, segundo informações da Abrear 

* Com a supervisão do editor Donaldson Gomes