Com Pituba fechada, corredores migram e orla da Barra tem domingo movimentado

Bairro tinha gente correndo, caminhando, pedalando, andando de patins, passeando com os cachorros ou simplesmente conversando em grupos

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  • Bruno Wendel

Publicado em 17 de maio de 2020 às 14:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Com a interdição do calçadão da orla de Salvador que fica entre a Arena Aquática, na Pituba, e o novo Centro de Convenções, na Boca do Rio, moradores do entorno ficaram contidos em casa neste domingo (17), certo? Errado. Eles saíram de casa e resolveram esticar as pernas na orla da Barra, onde não há restrição.

A Pituba e a Boca do Rio estão em isolamento setorizado desde o início dessa semana. Os bairros apresentaram nível elevado de transmissão do novo coronavírus e, por isso, a prefeitura adotou medidas mais rígidas de isolamento. A Pituba ainda é o bairro com o maior número de pacientes com a covid-19 em Salvador e apenas serviços essenciais estão sendo permitidos.

A migração deixou a orla da Barra - entre o Cristo ao Porto - mais movimentada que nos finais de semana anteriores durante a pandemia. As pessoas corriam, caminhavam, pedalavam, andavam de patins, passeavam com os cachorros ou simplesmente conversavam em grupos em frente a pontos específicos, como o Farol da Barra. Em alguns casos – e não foram poucos – homens, mulheres, jovens e idosos não usavam máscaras, contribuindo para a proliferação da covid-19.  Máscara não foi usada pela maioria dos corredores (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Pouquíssimas pessoas aceitaram falar com o CORREIO, como foi o caso do policial militar André Luís Guimarães Santos, 43 anos, morador do bairro de Jardim de Alah. Ele trotava no Porto da Barra junto com a namorada, a universitária Micaela Trindade, 24, quando o casal foi abordado pelo CORREIO.  “Não sou contra o isolamento social, mas é preciso ter cautela. As pessoas não podem viver confinadas. Nós, que temos o hábito de fazer exercícios nos finais de semana, viemos para cá por que lá da Pituba não está podendo e muita gente acordou com mesma ideia. E sabe no que isso vai dar? Aglomeração de pessoas aqui. E a prefeitura vai interditar aqui também?”, indagou ele, que estava sem máscara. 

Perguntado do porquê de não usar a máscara, André respondeu que o acessório de proteção o impede de respirar durante a corrida."É difícil correr com isso (máscara). Sufoca um pouco, sem falar que fica úmida. Não uso também porque sou uma pessoal saudável, não tenho histórico de doença”, argumentou.Questionado novamente, mas desta vez sobre as mortes de pessoas que não fazem parte do grupo de risco – idosos, asmáticos, fumantes, diabéticos, por exemplo –, o PM respondeu: “Não conheço ninguém próximo a mim, do meu grupo de relação, que tenha sido contaminado pela covid-19”. 

Pouco depois, o CORREIO cruzou com a contadora Magali Andrade, 35, moradora da Pituba. Também sem máscara, ela explicou a sua presença ali. “Desde quando a pandemia começou, estou trabalhando de casa. Com exceção do mercado e farmácia, só saía de casa para correr lá na Pituba, onde moro, que agora nem pode. A gente, que trabalha muito, e por isso tem uma vida agitada, com criança o dia todo em casa, precisa se exercitar, até porque senão pira”, declarou. Em relação ao fato de estar sem a máscara, ela preferir dizer “prefiro não comentar” e continuou a correr.  Guarda Municipal acompanha movimento na orla da Barra (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Praia Se no calçadão a movimentação estava intensa, na praia do Porto da Barra os pombos eram os donos absolutos da areia. O vazio em nada lembrava a ferveção dos domingos, quando o espaço era disputado pelos banhistas e a turma que alugava cadeiras e sombreiros – o único barulho que se ouvia era o das ondas. 

Já na praia do Farol da Barra, os garis eram os únicos seres vistos a olho nu na areia. É obvio que o volume de trabalho diminuiu, mas eles confessam que preferiam trabalhar mais. “Essa tranquilidade é sinal que as coisas não estão bem. Tem muita gente morrendo, ficando doente ou desempregada por causa da pandemia”, disse o gari Luciano Filadélfia, 35, que, junto com o colega, Roberto da Silva Cato, 39, só tinham recolhido um saco de lixo. “Quando a praia estava bombando, eram mais de 15 sacos cheios”, relatou Roberto.