Com sinais de estupro, jovem é assassinada na frente do filho em Lauro de Freitas

Adolescente teria usado corda e peixeira para cometer crime

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  • Nilson Marinho

Publicado em 8 de agosto de 2018 às 17:19

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Quarto onde o corpo da vítima foi encontrado (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Mãe de um menino de dois anos, Michele da Hora de Melo, 23, foi assassinada, de acordo com relatos de parentes, após sofrer violência sexual do namorado, um adolescente de 17 anos, na tarde desta terça-feira (7). O crime aconteceu no quarto da casa onde ela morava com o rapaz e a criança, uma pequena construção de apenas dois vãos, localizada na Travessa Dois de Julho, no bairro de Areia Branca, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS).

O corpo franzino da vítima foi encontrado, segundo parentes, com sinais de enforcamento, abuso sexual e cortes feitos por uma arma branca. Segundo a polícia, o suspeito, que é procurado, teria usado uma corda para enforcar Michele e utilizado uma faca (tipo peixeira) para fazer as perfurações na cabeça e na altura do peito.

Os policiais também acreditam que a jovem tenha sofrido abuso sexual, tudo isso na frente da criança. Após parentes chegarem na casa, o garoto, assustado, teria dito aos algumas palavras. "Ele matou a minha mãe. Ele matou a minha mãe", lembra a dona de casa Rosileide da Hora de Melo, 25, irmã da vítima. Michele, 23 anos, foi achada morta por parentes na casa onde morava (Foto: CORREIO) Relacionamento Parentes de Michele disseram ao CORREIO que ela conheceu o suspeito pela internet e há cerca de dois meses o convidou para morar em sua casa, onde vivia com o filho, fruto de um outro relacionamento.

Os três dividiam o mesmo imóvel e o crime aconteceu em um cômodo usado como quarto pela mãe, o filho e o namorado. 

O suspeito de tirar a vida da jovem, ainda de acordo com a família de Michele, é natural de Serrinha, no Centro-Norte do estado. O rapaz completa 18 anos em dezembro deste ano. Embora estivesse junto, dividindo a mesma casa com Michele, a família dela sabia muito pouco sobre o suspeito. Rosileide, irmã da vítima, ainda encontrou suspeito na casa. Ele fugiu em seguida (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Cena do crime Era por volta das 16h quando um dos sobrinhos de Michele, de 8 anos, resolveu ir na casa da tia buscar uma pipa. Ao chegar no local, o garoto se deparou com o corpo da vítima no chão do quarto. Ela estava com uma corda em volta do pescoço e com dois cortes.

O garoto, assustado, foi tentar buscar ajuda chamando a mãe. Ao entrar na residência, Rosileide encontrou a irmã já sem vida. 

Ela conta que, assim que entrou, o suspeito saiu do interior da residência gritando, pedindo socorro e dizendo que a companheira estava passando mal. Logo em seguida, ele fugiu e não há informações sobre o seu paradeiro."Ele saiu de lá gritando e dizendo que a minha irmã estava passando mal. Eu estava tão desesperada que não reparei em mais nada, nem pra qual direção ele foi", conta Rosileide. Pistas A irmã lembra que Michele foi encontrada com a bermuda abaixo da cintura e sem calcinha. Ela também estava com o sutiã na altura das axilas e com os seios à mostra - evidências que levam a família a crer que a jovem teria mesmo sido estuprada. 

Mesmo atordoada, Rosileide diz conseguir lembrar de ter visto o cunhado correndo de bermuda e sem cueca.

A hipótese da jovem ter sido violentada antes ou depois da sua morte não foi descartada pela delegada Elaine Laranjeira, titular da 27ª Delegacia (Itinga), que investiga o caso. 

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De acordo com ela, a investigação teve acesso às fotos tiradas pela Polícia Técnica através das quais a versão da família pode ser comprovada. No entanto, é preciso ter a conclusão do laudo pericial, num prazo de 30 dias, para comprovar o abuso.

Ainda de acordo com a delegada, neste momento, com base em depoimentos colhidos com o pai e uma das irmãs da vítima, o que pode afirmar é que o suspeito foi visto, minutos antes do corpo ser encontrado, lavando uma faca - provavelmente a utilizada no crime - em uma pia que fica em frente à casa.

A arma branca, segundo a irmã, é do tipo peixeira. O material foi levado do local do crime por peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) ainda na tarde desta terça, quando o corpo de Michele foi encaminhado para o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), em Salvador.

Filho e ciúmes De acordo com depoimento de familiares, Michele não trabalhava e vivia com o auxílio do Bolsa Família, além da pensão do ex-companheiro que é pai do menino. Ele fazia visitas frequentes à casa para ver a criança, o que, segundo Rosileide, despertava ciúmes no suspeito. "Um dia peguei ele dizendo para minha irmã que era para ela parar de vê-lo. Disse que minha irmã não pensava mais nele e que o tempo todo pensava no 'outro'. Ela, coitada, era muito boba, só ria, não tinha maldade, levava na brincadeira", lembra Rosileide.A jovem não havia relatado à família que sofria agressões e ameaças, mas, há alguns dias, tinha pedido ajuda aos parentes para conseguir dinheiro para comprar uma passagem de ida para Serrinha. Ela pretendia terminar o relacionamento com o adolescente, mas ele estava se recusando em viajar.

"Ela pediu essa ajuda e nós estávamos juntando dinheiro para mandar ele embora. Eu pedi para minha irmã não trazer esse 'menino' para dentro de casa. Também não me dava muito bem com ele. Eu sentia que não era do bem", contou a irmã.

Por meio de nota, a PM informou que policiais da 81ª CIPM (Itinga) foram acionados para atender a uma ocorrência de homicídio no bairro de Areia Branca. Ao chegar no local, guarnição isolou a área e acionou o Serviço de Investigação em Local de Crime (Silc) para remoção do corpo e realização de perícia. Também foi feito rondas na área, mas o suspeito não foi localizado.

O corpo de Michele será sepultado às 11h desta quinta (9), no Cemitério de Portão, em Lauro de Freitas.

Denuncie A titular da 27ª Delegacia lembra da importância das mulheres e pessoas próximas às vítimas denunciarem casos de agressões e ameaças.

"Apesar de estar tendo problemas, ela não veio à delegacia registrar. Talvez se ela tivesse denunciado o caso, a gente teria entrado com uma medida protetiva e, talvez, o suspeito teria saído de casa e sem culminar na morte da jovem. Então, é importante que as pessoas que estão sendo vítimas da violência doméstica venha até a delegacia denunciar o caso", recomenda a delegada Elaine Laranjeira. 

Uma das tias, a dona de casa Marli Pereira, 54, também lamentou que a situação tenha chegado aonde chegou. "Estamos muito abalados porque ele tirou um pedaço da gente, né? Queremos justiça, ninguém se conforma com isso. Tirou a vida de uma mãe de família, jovem, muito jovem", concluiu. Marli, tia de Michele, conta que família está inconsolável após assassinato (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Veja onde buscar ajuda em casos de violência doméstica: Cedap (Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa) – Atendimento médico, odontológico, farmacêutico e psicossocial a pessoas vivendo com HIV/AIDS. Endereço: Rua Comendador José Alves Ferreira, nº240 – Fazenda Garcia. Telefone: 3116-8888. 

Cedeca (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan) – Oferece atendimento jurídico e psicossocial a crianças e adolescentes vítimas de violência. Endereço: Rua Gregório de Matos, nº 51, 2º andar – Pelourinho. Telefone: 3321-1543/5196. 

Cras (Centro de Referência de Assistência Social) – Atende famílias em situação de vulnerabilidade social. Telefone: 3115-9917 (Coordenação estadual) e 3202-2300 (Coordenação municipal) 

Creas (Centro de Referência Especializada de Assistência Social) – Atende pessoas em situação de violência ou de violação de direitos. Telefone: 3115-1568 (Coordenação Estadual) e 3176-4754 (Coordenação Municipal) 

Creasi (Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso) – Oferece atendimento psicoterapêutico e de reabilitação a idosos. Endereço: Avenida ACM, s/n, Centro de Atenção à Saúde (Cas), Edifício Professor Doutor José Maria de Magalhães Neto – Iguatemi. Telefone: 3270-5730/5750. 

CRLV (Centro de Referência Loreta Valadares) – Promove atenção à mulher em situação de violenta, com atendimento jurídico, psicológico e social. Endereço: Praça Almirante Coelho Neto, nº1 – Barris, em frente a Delegacia do Idoso. Telefone: 3235-4268. 

Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) – Em Salvador, são duas: uma em Brotas, outra em Periperi. São delegacias que recebem denúncias de violência contra a mulher, a partir da Lei Marinha da Penha. 

Deam Brotas – Rua Padre José Filgueiras, s/n – Engenho Velho de Brotas. Telefone: 3116-7000. 

Deam Periperi – Rua Doutor José de Almeida, Praça do Sol, s/n – Periperi. Telefone: 3117-8217. 

Deati (Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso) – Responsável por apurar denúncias de violência contra pessoas idosas. Endereço: Rua do Salete, nº 19 – Barris. Telefone: 3117-6080. 

Derca (Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente) Endereço: Rua Agripino Dórea, nº26 – Pitangueiras de Brotas. Telefone: 3116-2153. 

Delegacias Territoriais – São as delegacias de cada Área Integrada de Segurança Pública. Segundo a Polícia Civil, os estupros que não são cometidos em contextos domésticos devem ser registrados nessas unidades. Em Salvador, existem 16 (http://www.policiacivil.ba.gov.br/capital.html). 

Disque Denúncia – Serviços de denúncia que funcionam 24 horas por dia. No caso de crianças e adolescentes, o Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos oferece o Disque 100. Já as mulheres são atendidas pelo Disque 180, da Secretaria de Políticas Para Mulheres da Presidência da República. Fundação Cidade Mãe – Órgão municipal, presta assistência a crianças em situação de risco. Endereço: Rua Prof. Aloísio de Carvalho – Engenho Velho de Brotas. 

Gedem (Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do Ministério Público do Estado da Bahia) – Atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres em situação de violência doméstica, familiar e de gênero. Endereço: Avenida Joana Angélica, nº 1312, sala 309 – Nazaré. Telefone: 3103-6407/6406/6424. 

Iperba (Instituto de Perinatologia da Bahia) – Maternidade localizada em Salvador que é referência no serviço de aborto legal no estado. Endereço: Rua Teixeira Barros, nº 72 – Brotas. Telefone: 3116-5215/5216. 

Nudem (Núcleo Especializado na Defesa das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar da Defensoria Pública do Estado) – Atendimento especializado para orientação jurídica, interposição e acompanhamento de medidas de proteção à mulher. Endereço: Rua Pedro Lessa, nº123 – Canela. Telefone: 3117-6935. 

Secretaria Estadual de Políticas Para Mulheres Endereço: Alameda dos Eucaliptos, nº 137 – Caminho das Árvores. Telefone: 3117-2815/2816. 

SPM (Superintendência Especial de Políticas para as Mulheres de Salvador) – Endereço: Avenida Sete de Setembro, Edifício Adolpho Basbaum, nº 202, 4º andar, Ladeira de São Bento. Telefone: 2108-7300. 

Serviço Viver – Serviço de atenção a pessoas em situação de violência sexual. Oferece atendimento social, médico, psicológico e acompanhamento jurídico às vítimas de violência sexual e às famílias. Endereço: Avenida Centenário, s/n, térreo do prédio do Instituto Médico Legal (IML) Telefone: 3117-6700. 

1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar – Unidade judiciária especializada no julgamento dos processos envolvendo situações de violência doméstica e familiar contra a mulher, de acordo com a Lei Maria da Penha. Endereço: Rua Conselheiro Spínola, nº 77 – Barris. Telefone: 3328-1195/3329-5038.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier