Combate ao tráfico e ao crime organizado está ameaçado após delegados entregarem cargos

Segundo o sindicato, 99% da categoria no DHPP e Draco aderiu ao movimento; a Polícia Civil nega

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  • Bruno Wendel

Publicado em 23 de março de 2022 às 21:15

. Crédito: Divulgação/ Ascom Adpeb

As operações da Polícia Civil podem estagnar por um bom período. Isso porque as ações de combate ao tráfico de drogas e ao crime organizado, além das interceptações telefônicas, estão comprometidas a partir de agora com a entrega de 99% dos cargos de chefia dos delegados de dois departamento estratégicos ligados diretamente ao enfrentamento da violência na Bahia.  Segundo o Sindicato de Delegados da Polícia Civil do Estado (Adpeb), os delegados do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) e do Departamento de Repressão e Combate  ao Crime Organizado (Draco) colocaram seus cargos à disposição, através da assinatura de um documento que será encaminhado ao governo do estado. Os delegados que não possuem cargos comissionados também assinaram uma declaração se comprometendo em não assumir as funções que ficarão vagas.  "Isso significa que não haverá operações, diligências, gestão das unidades. Os delegados que abriram mão dos seus cargos comissionados (titularidade, coordenação, vice-diretoria e diretoria) vão trabalhar, mas não desempenharão as funções de chefia. Logo, o direcionamento das investigações, o planejamento das operações e ações, por exemplo, não serão realizadas", declarou o presidente do Adpeb, delegado Fábio Lordello.  No dia 14 deste mês, a categoria já havia decidido entregar os cargos de chefia e paralisar as atividades por 30 dias durante uma reunião que contou com 300 delegados. O sindicato informou que a decisão foi motivada pelo aumento de 4% concedido pelo governo do estado - considerado insuficiente - e a ausência de diálogo por parte da administração, além da falta de investimentos na instituição, em estrutura e na contratação de pessoal.

Investigações O DHPP tem como objetivo reduzir o número de homicídios e aumentar a elucidação de crimes no estado, com investigação, cumprimento de mandados de prisão e busca apreensão, reconstituição, operações e outras atividades. O departamento tem delegacias especializadas, entre elas a da Região Metropolitana de Salvador (RMS), de Investigação de Homicídios Múltiplos (DHM), quando envolver chacina e extermínio, e de Proteção à Pessoa (DPP),  que tem como função cuidar dos casos relacionados a pessoas desaparecidas e proteção a testemunhas. A estrutura ainda conta com equipes do Serviço de Investigação de Local de Crime (Silc). Já o Draco atua nos crimes de corrupção, lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, contra a administração pública e contra a ordem tributária, além de planejamento, coordenação e avaliação das investigações e das operações na sua competência. Faz parte também do Draco a Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE) de Salvador.  De acordo com a Polícia Civil, são 790 delegados na Bahia, sendo 301 na capital. Questionada sobre o que tem a dizer em relação aos 99% dos delegados que colocaram seus cargos comissionados à disposição e como irá fazer para que as atividades de chefia não sejam paralisadas, levando e consideração que os delegados que não possuem cargos não vão ocupar as funções vagas, a PC respondeu: "O funcionamento das unidades especializadas da Polícia Civil (Draco e DHPP) segue normalmente". 

Próximos passos  Nesta quarta-feira (23), a Adpeb foi ao interior do estado para recolher a assinatura dos delegados de cargos comissionados nas Coordenadorias do Interior (Corpin). "Estamos catando as assinaturas e adesão em massa está acontecendo. Numa unidade de 18 delegados, apenas dois recusaram. Já em Senhor do Bonfim (19° Corpin), a adesão foi 100%", garantiu Lordello. “Estamos muito felizes com o posicionamento firme dos delegados de polícia, na verdade, não esperávamos outra postura dos nossos pares que têm mostrado bastante coragem e lucidez diante da atual situação”, emendou. 

Segundo ele, os próximos passos da Adpeb incluem também outros dois departamentos, dos quais poderão afetar ainda mais a prestação de serviço à população. O Departamento de Policia Metropolitana (Depom), que coordena as 30 delegacias na capital e região metropolitana, além das delegacias de Mata de São João, Pojuca, São Sebastião do Passé, Salinas da Margarida, Praia do Forte e as especializadas: Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam de Brotas, Periperi, Camaçari e Candeias), Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI), Delegacia Especial de Repressão aos Crimes contra a Criança e o Adolescente (Derrca), Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso (Deat) e Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur). 

O Adpeb irá em busca de adesão também no Departamento de Crimes contra o Patrimônio (DCCP), que coordena a Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos (DRFR), ao Estelionato e Outras Fraudes (Dreof), a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV), Grupo Especial de Repressão na Roubos em Coletivos (Gerrc) e Delegacia de Defesa do Consumidor (Decon).

Ainda de acordo com o sindicato, as assinaturas recolhidas dos delegados que abriram mão dos seus cargos comissionados serão entregues na semana que vem ao governo do estado.