Comércio ganha circuito de arte contemporânea a céu aberto

Trabalhos de oito artistas vão ficar em exposição permanente no bairro

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  • Gil Santos

Publicado em 8 de janeiro de 2021 às 14:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

No romance O retrato de Dorian Gray, o pintor Basil Hallward abusou das cores para pintar a imagem do jovem modelo. Segundo o escritor inglês Oscar Wilde, autor do livro, a arte é sempre mais abstrata do que a imaginamos. E foi justamente usando das cores que artistas plásticos criaram peças contemporâneas para uma galeria a céu aberto que foi inaugurada em Salvador, nesta sexta-feira (8).

O bairro do Comércio recebeu intervenções de oito artistas, sete deles homenagearam sete personalidades das artes, e o oitavo interligou as obras com pinturas e grafite. O caminho para acompanhar a exposição montada a céu aberto é simples, basta segui as cores no chão. Para facilitar o passeio, a Fundação Gregório de Mattos (FGM), responsável pelo projeto Roteiro Urbano da Arte (RUA), construiu um caminho colorido que direciona uma obra à outra. Mobiiário urbano também foi alvo de grafite (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) O passeio começa na parte superior do Plano Inclinado Gonçalves, com dois painéis de Bel Borba que homenageiam ao argentino radicado na Bahia Carybé (1911-1997). Na saída do equipamento, no bairro do Comércio, uma escultura de Ayrson Heráclito faz uma homenagem a Mestre Didi (1917-2013).

A obra remete a um totem ou coluna com emblemas sagrados, e o público considerou a peça curiosa. A promotora de vendas Isabel Silva, 28 anos, arriscou um palpite. “A parte superior tem uma referência religiosa que lembra alguma coisa ligada ao universo afro”, disse. Juntó é o nome da obra e se refere ao orixá adjunto responsável pelo equilíbrio de cada pessoa.

No quarteirão seguinte fica Laroyê, uma obra de Ray Viana, construída para homenagear Mário Cravo Júnior (1923-2018). A pintura acrílica sob fibra de vidro em cores que lembram o vermelho e o preto fizeram o estudante Gabriel Vieira, 25, associar o trabalho com o clube do coração. "Podem dizer o que quiserem, mas pra mim é uma homenagem ao Vitória", brincou. A obra é uma referência direta a Exu, orixá mensageiro entre o céu e a terra, e responsável por abrir os caminhos. Peça faz referência ao orixá Exu (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Mais público O prefeito Bruno Reis disse que o objetivo do projeto é incentivar as pessoas a frequentarem mais o bairro, além de aproximar o cidadão da produção artística e da cena cultural da cidade. A exposição é permanente.

“Nossa preocupação com o Centro Histórico é de ocupar o Centro Histórico, trazer as pessoas para o Comércio, principalmente, aos finais de semana e a noite. Já temos outros projetos sendo desenvolvidos aqui, a exemplo do Vem Pro Centro, e agora está lançando mais um projeto com objetivo de ocupar os espaços públicos de forma cultural, fortalecendo a cultura da nossa cidade através da oferta de arte”, afirmou. Prefeito durante inauguração do circuito de arte (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Seguindo pelo caminho das cores a próxima parada é no Jardim para alguns silêncios. Uma obra feita por Lanussi Pasquall para homenagear Joãozito (1966-2017). Em seguida, o grafite que estava no chão toma conta dos postes e de outros mobiliários urbanos, em uma intervenção do artista plástico Bigord.

O caminho tem peças também de Iêda Oliveira em homenagem a MBO (1930-2017), e de Zuarte em referência a Eckenberg (1938-2017). As cinco estátuas da Praça da Inglaterra se destacaram na multidão na manhã desta sexta-feira. “Chamou minha atenção porque passo sempre por aqui e nunca tinha visto, e elas são diferentes”, contou uma mulher enquanto corria para se abrigar da chuva. Chão foi pintado para orientar os visitantes (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Potencial Segundo o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, o bairro do Comércio foi escolhido porque já tinha potencial para abrigar o RUA. O investimento foi de R$ 1,2 milhão, e a intenção é ampliar o projeto com obras também de fotografia e com mais artistas.

“O Comércio já tem uma tendência a se transformar em uma galeria a céu aberto por conta de todos os grafites que ele tem no Terminal da França, e é um bairro que está muito charmoso. Então, surgiu a ideia dentro do #Vemprocentro da gente fazer um circuito de arte. Ele começa no Plano Inclinado e segue até as Docas”, disse.

As Lágrimas de Vinicius S.A. foram colocadas na Rua da Grécia para homenagear Rubem Valentin (1922-1991). Elas prometem ser um dos pontos mais visitados. Durante a inauguração já havia gente fazendo fotos no local. O curador da exposição, Daniel Rangel, contou que a proposta é justamente essa, retirar peças que geralmente são vistas apenas nos museus e levar para a rua, aproximando mais a arte contemporânea da população em geral.

Enquanto no romance de Wilde o jovem Dorian Gray escondeu no sótão o retrato que o pintor fez dele, a intenção da exposição em Salvador é servir de inspiração para outras cidades. Segundo os organizadores, um produtor de São Paulo manifestou interesse em levar a ideia do projeto para uma ação similar.