Comércio vai demorar dois anos para voltar a tamanho que tinha

Setor de serviços voltou a gerar empregos, mas em volume abaixo do necessário

Publicado em 15 de outubro de 2021 às 06:00

- Atualizado há 10 meses

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Mesmo com a pandemia ainda como uma realidade, o comércio baiano se prepara um final de ano com vendas aquecidas, avalia o empresário Carlos Andradre, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo da Bahia (Fecomércio-Ba). Segundo ele, o ritmo de recuperação poderia ser melhor não fossem as altas nas taxas de desemprego, juros e inflação, além de dificuldades no acesso ao crédito. “O comércio pode demorar até dois anos para retornar ao tamanho que tinha em 2019, porque 2020 foi perdido e 2021 está dando sinais de recuperação agora”, estima. 

Carlos Andrade lembrou que os números recentes do mercado de trabalho nos últimos meses apontam para uma retomada na geração de empregos, o que acontece, entretanto, em um volume insuficiente para compensar as perdas nos momentos mais difíceis da pandemia. “Estamos caminhando para 15 milhões de pessoas desempregadas, a pandemia assolou o país”, destacou durante a participação no programa Política & Economia, apresentado pelo jornalista Donaldson Gomes, no Instagram do CORREO (@correio24horas). 

“Estamos voltando a contratar, com a proximidade do Natal, estamos otimistas em relação ao retorno das contratações agora em outubro, segundo pelos meses de novembro e de dezembro”, acredita. “Não vamos nos enganar, o setor de comércio e serviços não vai se recuperar de uma outra para outra, principalmente no caso das atividades relacionadas ao turismo”, aponta.  Setores como o supermercadista e de farmácias não enfrentaram grandes dificuldades com a crise causada pela pandemia, lembra Andrade. Situação que se repetiu na venda de combustíveis. Entretanto, atividades ligadas ao turismo, como hospedagem, alimentação, eventos e lazer devem enfrentar um longo caminho até a recuperação, acredita. “O turismo viveu um verdadeiro colapso, está voltando com uma certa lentidão porque existem algumas restrições que ainda atrapalham a atividade”, diz. 

Carlos Andrade lembra que os shoppings, que chegaram a passar alguns períodos fechados, ou funcionando com restrições, voltaram com muita força nos últimos meses. “Os donos de lojas, principalmente os que atuam nas vendas de calçados, roupas e moda, sofreram muito. Se as pessoas estavam em casa, não saiam, muitos com dificuldades financeiras, não tinham porquê comprar, ou mesmo como comprar”, pondera. Apenas mais recentemente as vendas começaram a se recuperar, lembra. 

Preocupações Em meio ao cenário de retomada que vem se desenhando, Carlos Andrade diz que há uma grande preocupação com questões relacionadas à alta dos juros, bem como aos aumentos nos custos de vida. Em relação aos juros, ele lembra que a Selic, taxa básica da economia brasileira, já subiu para os atuais 6,25% e existe uma expectativa de novos aumentos nos próximos meses. 

A alta da taxa de juros, descrita entre os especialistas no campo econômico como um “remédio amargo” precisa ser ministrada numa dose que não leve o paciente ao óbito, destaca Carlos Andrade. “O medicamento pode ser ruim às vezes, mas precisar ser dado numa dosagem para curar. Nós estamos buscando tentar diminuir essas doses”, compara. 

Ele lembra ainda as dificuldades ocasionadas pela carga tributária no país. “Se a gente pagasse a quantidade de impostos que pagamos por uma contrapartida em serviços compatível, tudo bem. Mas não é o caso, pagamos muito e não temos bons serviços públicos, como saúde e educação”.  

“São coisas que prejudicam bastante a economia, fazem o custo do dinheiro se tornar muito alto. Para nós do comércio  e para o consumidor, não é bom”, afirma. Ele lembra que a alta da inflação, por outro lado, prejudica não apenas a macroeconomia, mas a vida de todos. “Nós estamos vendo o preço do botijão de gás custando até R$ 120 e isso não é bom para ninguém”.  Em meio a este contexto, o presidente da Fecomércio-Ba lembra do drama causado pelo desemprego. “Sem o emprego, o cidadão não consome, ou consome menos. Este é um fator que se reflete no comércio”. 

Expectativa “Dezembro está chegando e precisamos pensar positivo”, avalia o presidente da Fecomércio-Ba. Segundo Carlos Andrade, o comercio baiano está começando a se recuperar. “Nós estamos em outubro e as perspectivas são de melhoras contínuas”, diz. O empresário pede atenção para a manutenção da pandemia sob controle. “Ainda precisamos ter cuidado com distanciamento, uso de álcool em gel e máscara, mas podemos ser otimistas também. Os números que estão sendo divulgados são positivos e indicam que estamos nos aproximando do final da pandemia”, avalia. 

“Essa covid não foi fácil. É lamentável que tenhamos tido 600 mil vidas perdidas, com certeza é a maior perda de que poderemos falar. Mas também é lamentável a quantidade de empresas que fecharam as suas portas ou estão em dificuldades”, afirma. “Temos que lamentar as perdas de CPFs, mas dos CNPJs também. Nós fomos duplamente penalizados”.