Como serão as salas de aula em 2030?

Pesquisa aponta principais mudanças nas escolas do Brasil e exterior

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  • Vanessa Brunt

Publicado em 21 de agosto de 2018 às 06:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Microsoft/Divulgação

Nada de cadeiras enfileiradas e nem mesmo em um semicírculo. As salas de aula do futuro vão desconstruir todo o padrão estético do que ainda pode ser encontrado nas instituições atuais. Em 2030, com cadeiras opcionais espalhadas para os estudantes, os alunos estarão sempre divididos em grupos e circulando pelo ambiente de ensino enquanto interagem com máquinas e com outros colegas.  

Ao menos, esta é a visão de escola do futuro indicada pela Microsoft, que apresentou a nova pesquisa, intitulada The Class of 2030 and Life-Ready Learning (A Turma de 2030 e o Aprendizado para a Vida, em tradução livre), na Bienal do Livro de São Paulo, no início deste mês. O espaço de tempo estudado, que soma 12 anos, foi escolhido pelos pesquisadores para que as novidades já tenham sido implantadas no Brasil. As aulas vão contar com mais tempo de momentos práticos do que com falas fixas do professor (Foto: Vanessa Brunt/CORREIO) “Teremos um espaço de sociabilidade. O aluno vai escolher se quer aprender sentado ou pé, circulando no ambiente. Tudo será personalizado, com foco na interação dos estudantes: não só entre eles, mas também com a tecnologia – mesmo quando eles estiverem respondendo atividades”, define Daniel Maia, gerente de programas acadêmicos da Microsoft Brasil, que tem dado foco à tecnologia como processo de aprendizado, ensino e leitura.A pesquisa analisou as habilidades que as crianças da nova geração vão precisar, como os professores podem prepará-las melhor em sua jornada educacional e o papel que a tecnologia vai ter nessa nova caminhada. Conduzida em colaboração com a prática educacional da McKinsey & Company, o projeto envolveu dois mil alunos e dois mil professores nos EUA, Reino Unido, Canadá e Singapura. O processo ainda contou com análise de 150 pesquisas existentes e entrevistou 70 líderes. A iniciativa levou à conclusão da importância da Inteligência Artificial (AI) para acelerar o aprendizado dos alunos da nova geração. “Todas as instituições precisam, com urgência, estimular habilidades importantes como a criatividade e a colaboração dos discentes”, pontua Maia. A Inteligência Artificial é um dos temas em discussão no Fórum Agenda Bahia 2018. Professores vão passar mais tempo andando pela sala e interagindo com diferentes alunos do que em um único local na frente de todos (Foto: Microsoft/Divulgação) O PROBLEMA É MESMO FALTA DE ATENÇÃO?

O crescimento, no Brasil e no mundo, do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) tem chamado a atenção de especialistas, que alertam para a falta de conexão entre a forma tradicional de ensino e os costumes das novas gerações. A psicopedagoga soteropolitana Rita Rocha afirma que os casos subiram para mais de 10% no seu consultório.

“O problema, porém, é que muitos casos são equivocados. O número de crianças ansiosas e dispersas têm aumentado bastante e muitos confundem isso com o transtorno: que ainda precisa de estudos mais aprofundados, mas é fundamentalmente genético”, pontua. “Isso não quer dizer que pessoas sem o déficit não possam ter dificuldades grandes de aprendizado. Se um jovem se sente sufocado e inibido demais, um bloqueio psicológico para além do seu controle pode sim ocorrer e atrapalhar todo o processo. E é isso o que mais tem ocorrido”, explica Rita.“Uma criança que pode ser super atenciosa e dedicada pode acabar se desleixando pela grande falta de interesse e pelos bloqueios de interação maior geradas nesse modelo antigo de educação” (Rita Rocha)A profissional afirma que o novo formato de salas de aulas poderia ajudar tanto no tratamento de jovens com TDAH como no processo de cura para a ansiedade dos jovens: “A geração atual já não se encaixa nisso de ficar de boca fechada por quase uma hora assistindo um monólogo e levantando a mão vez ou outra pra se comunicar. As crianças estão muito mais proativas. Esse formato tradicional, que obriga uma quietude gera o oposto nos jovens. Existe uma linha tênue. O professor precisa ser respeitado, mas não pode ser mais visto como centro de todas as informações”, pondera a especialista.

“Chega um momento em que o aluno quer produzir e se sente tão impossibilitado ao ponto de ir travando sua liberdade de expressão e se sentindo com uma bola de neve em si”, detalha Rita.

“A interação com máquinas pode aprofundar a proximidade com outros seres humanos. Basta que isso seja utilizado da maneira correta, incluindo muito do olho no olho também. Se as escolas colarem isso no dia a dia, a consciência para utilizar a tecnologia de maneira saudável, vai passar a invadir a casa desses jovens”, conclui. Os audiobooks, que estão sendo cada vez mais utilizados, vão ganhar mais espaço. Os alunos poderão utilizar fones para os momentos de leitura em sala (Foto: Microsoft/Divulgação) A ATUALIDADE QUE NÃO SE ENCAIXA

Desafios da atualidade também foram apontados pela pesquisa. Ela constata, por exemplo, que 58% dos empregadores não estão satisfeitos com a falta de habilidades dos contratados. Foram apontadas por eles lacunas em torno de habilidades sociais e tecnológicas. Espera-se que esse déficit aumente, uma vez que 40% dos novos empregos vão exigir novas habilidades sociais e tecnológicas de todos os contratados.

A turma de 2030 vai estar imersa em um universo ainda mais veloz, que exigirá uma variedade de habilidades tecnológicas, sociais e emocionais para prosperar tanto no trabalho como na vida pessoal. Assistentes de literatura, que respondem perguntas sobre livros diversos, já estão sendo utilizados por algumas escolas (Foto: Microsoft/Divulgação) A pesquisa da Microsoft descobriu que cerca de 375 milhões de pessoas em todo o mundo precisam aprender novas competências para atender às demandas do local de trabalho. A apuração aponta para um momento crucial nos processos educacionais. As abordagens das escolas terão a necessidade de sair de um formato que vai ‘de cima para baixo’, centrada no local de ensino, para uma abordagem centrada no aluno. As telas de toque vão estar presentes nas salas de aula assim como os cadernos são necessários atualmente (Foto: Microsoft/Divulgação) AS NOVIDADES DA SALA DE AULA DE 2030:

1. CÂMERAS TÉRMICAS As salas de aula do futuro vão contar com aparatos como as câmeras térmicas, que podem, por exemplo, identificar se um aluno está com febre. Esses aparelhos ainda farão as chamadas automaticamente. “Esta é uma ferramenta útil para que as presenças sejam realmente computadas”, ilustra Daniel Maia, gerente de programas acadêmicos da Microsoft Brasil.2. INCLUSÃO PELO DIGITAL A ferramenta Immersive Reader foi projetada para ajudar estudantes com dislexia e disgrafia. O aparelho tem um estilo que promete ser essencial nas instituições. Os audiobooks, que estão sendo cada vez mais utilizados, vão ganhar ainda mais espaço. A nova ferramenta indicada, por exemplo, inclui o estilo e faz as leituras de textos em voz alta. Os alunos poderão utilizar fones para os momentos de leitura em sala (com os audiobooks).3. ASSISTENTE LITERÁRIO Na Bienal do Livro deste ano, a Microsoft apresentou um Assistente Literário Inteligente, que interage e responde perguntas sobre obras literárias. O mecanismo traz curiosidades como, por exemplo, informações sobre os autores, principais temas e termos curiosos. A ideia é que as escolas tenham tecnologias semelhantes nos próximos 12 anos, podendo tirar dúvidas de alunos mesmo sem estarem em horários de aula.4. JOGO QUE ERA DE CASA O jogo Minecraft, querido por alunos, ganhou uma edição especial para educação (Education Edition) na demonstração da Microsoft na Bienal do Livro. A marca mostrou como os videogames e as redes sociais serão utilizadas nas salas, que vão gerar adaptações nos acessos dos alunos para que joguem focados em aprender o ponto desejado.

5. SENTAR E CALAR? NÃO! As salas de aula de 2030 terão ‘várias aulas dentro de uma só’. Minutos fragmentados serão destinados para explicações do professor, enquanto a maior parte das aulas dividirá a turma em grupos que vão circulando por atividades com interações digitais que mostrem, na prática, como acontece aquilo que o professor acabou de explicar.

6. CANETAS DIGITAIS As telas de toque vão estar presentes nas salas de aula assim como os cadernos são necessários atualmente. A pesquisa apontou que a incorporação de canetas digitais, envolvendo cores diferentes com mais agilidade, causa o aumento na retenção de informação dos estudantes. Os alunos poderão ilustrar e fazer anotações extras com mais agilidade.7. INTERAÇÃO HUMANA O ensino é uma das ocupações que terão o maior crescimento de vagas em 2030 – entre 3% e 9%, de acordo com a pesquisa – sendo uma das funções menos expostas ao risco de automação. Com a utilidade da tecnologia, os alunos vão poder interagir com os colegas em chats que estarão abertos integralmente, bem como com os professores, que vão ajudar a direcionar as relações de conexão humano-humano enquanto os alunos produzem para as matérias.8. FILMES E SÉRIES A Netflix e o cinema em geral, que muito fazem parte de discussões em mesas de salas de aula dos jovens da nova geração, também estarão presentes nas salas de aula de 2030; mas não apenas como já estão atualmente. Além de assistirem a vídeos e outras produções para debates diversos, os alunos vão poder aproveitar outras criações baseadas no que já assistem de casa. Os filmes e séries serão adaptados para programas virtuais e educacionais a serem liberados por grandes marcas, como a própria Microsoft.9. REALIDADE VIRTUAL A pesquisa das salas de 2030 mostrou que a tecnologia 3D também pode melhorar a aprendizagem e a retenção entre estudantes, sendo um dos pontos mais visados pelas reformas institucionais. No futuro, os sistemas do corpo humano, por exemplo, podem saltar dos livros, indo diretamente para os óculos de realidade virtual, que vão detalhar funcionamentos.10. SAIBA MAIS: ACESSE A pesquisa veio acompanhada de um link que disponibiliza, gratuitamente, 12 planos de aula que unem teoria e prática em sala de aula. A ideia é construir, com baixo custo, robôs, protótipos e sensores que ajudem a trabalhar temas como oceanos, sismologia, força ou velocidade. É possível acessar os planos através do link: education.microsoft.com. Grande parte do site ainda está disponível apenas em inglês.*A jornalista Vanessa Brunt esteve na Bienal do Livro, em São Paulo para conferir todas as novidades de perto, no estande da Microsoft.