Competitiva Nacional traz diversidade ao Panorama Coisa de Cinema

Filme sobre o caso Geovane, revelado pelo CORREIO, será lançado no evento

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  • Roberto Midlej

Publicado em 27 de outubro de 2018 às 08:00

- Atualizado há um ano

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Azougue Nazaré, de Tiago Melo

Um dos momentos mais esperados pelos cinéfilos baianos está chegando: de 11 a  21 de novembro acontece o XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema, o maior festival de cinema que acontece regularmente na capital baiana e na cidade de Cachoeira

Dentro do evento, há diversas mostras, como as competitivas de curtas e longas nacionais e internacionais, além de homenagens como ao cineasta sueco Ingmar Bergman. Na Competitiva Nacional, concorrem oito produções, incluindo duas baianas: a ficção A Ilha, de Glenda Nicácio e Ary Rosa, e o documentário Sem Descanso, de Bernard Attal.

Também concorrem A Sombra do Pai (SP), da baiana Gabriela Amaral Almeida; Azougue Nazaré (PE), de Tiago Melo; Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos (Brasil/Portugal), de João Salaviza e Renée Nader; Deslembro (RJ), de Flávia Castro; Luna (MG), de Cris Azzi, e Tinta Bruta (RS), de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon. 

Como acontece desde o ano passado, a curadoria tem privilegiado cineastas em início de carreira. Todos os diretores concorrentes na Competitiva Nacional estão, no máximo, em seu terceiro filme. Os realizadores mais experientes têm espaço em outra mostra paralela, o Panorama Brasil. Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, de João Salaviza e Renée Nader (Foto: divulgação) Caso Geovane

O longa Sem Descanso é um documentário investigativo sobre o caso do jovem baiano Geovane Mascarenhas de Santana, assassinado por policiais militares em agosto de 2014. A investigação teve início a partir de uma reportagem exclusiva realizada pelo repórter Bruno Wendel, do CORREIO. A reportagem foi finalista do Prêmio Esso de Jornalismo de 2015 e venceu o Prêmio OAB de Jornalismo Barbosa Lima Sobrinho naquele ano.

Geovane, que era morador da periferia de Salvador, foi sequestrado por uma viatura da Polícia Militar. Depois de uma investigação conduzida pelo pai do rapaz e divulgada pelo jornal, o corpo foi encontrado esquartejado. A narrativa, de caráter investigativo, costura a trama e problematiza as relações entre o drama e a passividade da sociedade diante da violência.

Uma das curadoras do Panorama, Marilia Hughes faz uma avaliação do filme: “É muito importante o cinema se voltar para essas questões que o jornalismo diário da TV não aborda. O filme vai além do factual e se aprofunda, porque no jornalismo diário um caso como o de Giovane perde espaço pra outra notícia no dia seguinte”. 

Ilha

A outra produção baiana concorrente, Ilha, é dirigida pela mesma dupla de Café com Canela, longa que concorreu no ano passado na Competitiva Nacional, mas perdeu para Pela Janela. No entanto, o filme ficou com o Prêmio Especial do Júri. Já no Festival de Brasília, ganhou  três troféus.

Em Ilha, Emerson, um jovem da periferia, quer fazer um filme sobre a sua história. Pra isso, ele sequestra Henrique, um premiado cineasta. Em Brasília, Aldri Anunciação ficou com o prêmio de melhor ator e o roteiro de Ary Rosa e Glenda Nicácio também foi premiado. “Assim como Café com Canela, Ilha é um filme sobre um encontro e, a partir disso, é estabelecido um jogo entre os personagens. Há ainda um jogo entre os personagens e o espectador”, diz a mineira Glenda, que realizou o filme com uma equipe local, no Recôncavo.

O filme A Sombra do Pai também tem ligação com a Bahia: a produção, embora seja paulista, é dirigida pela baiana Gabriela Amaral Almeida, que tem se firmado como realizadora de longas de terror. Seu primeiro filme,  O Animal Cordial, com Murilo Benício, era um representante do gênero.

Há também um realizador português entre os concorrentes: João Salaviza, 34 anos. Seu filme, Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos, conta a história de Ihjãc, um jovem índio Krahô, que, após um encontro com o espírito do seu falecido pai, se vê obrigado a realizar sua festa de fim de luto. O filme venceu o Prêmio Especial do Júri na mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes.

João diz que não consegue categorizar seu filme como documentário ou ficção: “Adotamos procedimentos cinematográficos diversos durante a rodagem. Há sequências que são pura observação, como o registro de rituais e festas da tribo. Ali, há uma câmera observando sem grande interferência”. 

Mas, segundo o cineasta, há também momentos de ficção, com “mise-en-scène”. “Mas é tudo de um jeito meio ‘doméstico’”, diz João. Ele e a codiretora Renée optaram por filmar em 16 mm, algo muito raro num momento em que o cinema digital se firma. “Filmar em negativo exige disciplina, porque há um estoque disponível, ao contrário do digital. Então, filmar com o negativo é uma certa sacralização”, diz.

Curtas também concorrem a prêmio Ilha, de Glenda Nicácio e Ary Rosa (Foto: divulgação)