Conexões Negras: 'Uso de drogas faz parte da história da humanidade', diz pesquisador

Live discutiu drogas, racismo e os impactos da criminalização da pobreza para a população negra

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 5 de novembro de 2020 às 22:50

- Atualizado há um ano

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O historiador e co-fundador da Iniciativa Negra por Uma Nova Política sobre Drogas, Dudu Ribeiro, foi o convidado do programa de lives Conexões Negras, do CORREIO, apresentado pela colunista Midiã Noelle. O pesquisador contou que, ao longo da história da humanidade, o uso de substâncias psicoativas sempre esteve presente. “No entanto, a partir do período colonial, começaram a olhar para essas substâncias como uma forma de cercear a cidadania para a população negra”, denunciou.  

Especialista em gestão estratégica de políticas públicas e mestrando em história pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Dudu defendeu que a criminalização das drogas tem um impacto na vida da juventude negra, seja usuária ou não. “Quando o poder público faz uma opção em investir na repressão, na lógica de guerra, ao invés de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, muita gente é impactada”, disse.   

Midiã também comentou o assunto, lembrando que existe uma parcela da população que consome ou até traficam drogas e não são afetadas pela “lógica de guerra” existente. “São pessoas que consomem em paz qualquer tipo de substância. E vão continuar em paz”, disse, se referindo ao racismo que existe no processo de criminalização das drogas.  

A transmissão ao vivo aconteceu no Instagram do CORREIO e teve a interação com os seguidores do jornal, que reagiam ao tema debatido. No início da live, momento em que se tornou público a morte do humorista Jotinha, algumas pessoas comentaram o falecimento, o que chamou a atenção de Midiã. “Nossa, gente. Que pena, muito triste”, disse a colunista.  

Também durante a live, Dudu fez uso de cigarro, uma droga cujo consumo é permitido. “Tenho o maior cuidado de não usar quando o meu filho está próximo”, explicou. Ele lembrou a decisão dos eleitores do estado americano Oregon em votar por descriminalizar o porte de pequenas quantidades de drogas pesadas, como cocaína, heroína, LSD e metanfetamina. O estado se tornou o primeiro do país americano em adotar tal medida.  “Essa foi uma experiência que Portugal fez em 2001. E é importante mostrar que trata de uma descriminalização: deixa de ser crime, mas pode ainda ser punida de outra maneira mais leve”, explicou o pesquisador.  Essas experiências vividas fora do Brasil refletem em formas de se lidar com a política de drogas. Dudu defende que três grandes temas sejam discutidos no nosso país: restituição da verdade histórica, ao se pensar o que foi a guerra as drogas e responsabilizar algozes; fazer medidas reparatórias para as pessoas que foram afetadas pelo processo de criminalização; e construção de políticas afirmativas para dar condições iguais de participação das pessoas no mercado regulado.  

* Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier