Confusão nos números: matemática é a matéria que baianos têm maior dificuldade 

Apesar de não ser a menor média, a disciplina rende no Enem menos pontos aos baianos do que a média nacional

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 2 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/ CORREIO

Os números estão deixando os baianos de cabelo em pé. Na comparação com a média nacional, é na matemática que o desempenho dos alunos do estado fica mais baixo. Enquanto a nota média brasileira na disciplina é de 523 pontos, os baianos alcançam 500 pontos do máximo de mil permitidos pelo sistema de avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Apesar de não ser a matéria com a média mais baixa da Bahia, posto ocupado pela prova de ciências da natureza com média de 464 pontos, a prova de matemática deixa os alunos na dianteira em relação ao resto do país. Colocando lado a lado as notas, a diferença entre Bahia e Brasil é de 23 pontos, uma diferença maior inclusive do que a encontrada nas provas de ciências da natureza, onde as médias do estado e do país ficam em 464 e 477, respectivamente.

Para entender o porquê dessa diferença e da dificuldade dos baianos com a matemática, o CORREIO conversou com professores da área que apontam o que pode levar a uma dificuldade maior com os números e também dão dicas para enfrentá-los.

Com mais de 20 anos de sala de aula e experiência nos ensinos público e privado, a professora Elvira Cavalcanti explica que  um dos principais motivos por trás das dificuldades está nos anos anteriores aos preparatórios para o Enem. Segundo a profissional, é preciso investir na base. “Muitas vezes, o aluno já chega achando que matemática é aquele bicho de sete cabeças e que ele não vai conseguir. E trava. Na verdade, falta base para que o aluno comece desde cedo a desenvolver o raciocínio, a forma de pensar”, diz a professora dos colégios estaduais Manoel Devoto e Evaristo da Veiga.

A base da matemática é justamente um dos pontos-chave da prova, que desta vez será aplicada no dia 21 de janeiro. “Apesar de ser exame para o ensino médio, o Enem cobra muito a matemática do ensino fundamental, que a gente costuma chamar de matemática básica. É ela que mais cai na prova. Então, o aluno precisa se debruçar nessa base, que inclui regra de três, razão, proporção e porcentagem. Um outro assunto muito cobrado é a geometria. Os outros assuntos acabam sendo abordados em menor proporção”, diz o professor Adriano Caribé, que ensina no Colégio Anchieta e no curso preparatório PontoMed.

Para os mestres, um bom preparo nos anos que antecedem o ensino médio e a preparação de fato voltada para os vestibulares faz toda a diferença. “Sempre digo para os alunos que muita coisa do Enem é resolvida com assuntos de ensino fundamental. Só que é muito difícil pegar um aluno mais novo que já tenha maturidade ou que tenha enfrentado os anos anteriores de forma a criar uma base”, comenta  Bruno Gustavo Reis, especialista em  Matemática e Novas Tecnologias e professor do Instituto Dom de Educar (Rede UniFTC).

O estudante Guilherme Queiroz, 16 anos, está no segundo ano e já pensa nas provas de vestibular. “No caso específico da matemática, pra mim depende um pouco do assunto. Tem assuntos que eu acho incríveis e adoro estudar, resolver as questões. Tem outros que já não me dou tão bem”, conta o jovem, que quer estudar Medicina e já vai fazer as principais provas de vestibular para treinar.

“Todo assunto que não é muito direto e depende muito de interpretação da questão, que tem muitas possibilidades de caminhos para resolver eu fico confuso”, conta ele, que reserva pelo menos três vezes por semana para resolver as questões da matéria.

Estratégias A estratégia de Guilherme é a principal arma para aqueles alunos que têm dificuldade. Segundo os professores, não adianta fugir. É preciso treinar. “Matemática te exige encarar a prática. Muitas vezes, o aluno quer parar, desistir na primeira barreira, no primeiro obstáculo e não pode. É preciso treinar”, ensina a professora Elvira.

O treino, segundo os educadores, não coloca os alunos em contato apenas com os assuntos, mas com a maneira que cada tema é abordado nas provas. Outra habilidade que acaba sendo desenvolvida é de leitura e interpretação. 

“Uma boa leitura da questão é mais da metade do caminho andado para uma boa resolução. Mas os alunos querem se livrar da questão, fazer uma leitura super dinâmica, rápida, e acaba sendo uma leitura muito superficial, que deixa passar detalhes que prejudicam o aluno depois”, destaca Bruno, da UniFTC.

Ele lembra ainda que as questões mais imperativas, com comandos diretos como resolva, desenhe, encontre o valor, não é o estilo da prova. “Então, a habilidade de interpretação é fundamental. Uma leitura rápida não significa uma leitura eficaz. Não posso de fato perder muito tempo na leitura, mas preciso ser cirúrgico para identificar o que a questão quer”, diz. 

Foi essa a habilidade que a estudante Mariana Lima, 17 anos, precisou desenvolver no último ano de escola. “Eu sempre tive muita dificuldade em matemática porque eu ficava procurando um caminho decorado pra fazer as coisas e aí não conseguia entender. Queria decorar e, na hora da prova, era difícil saber o que fazer, o que a questão queria. Este ano acabei fazendo uma matéria isolada de matemática além da escola, para poder me dedicar mais’, conta ela. “Agora já consigo entender mais, ter calma para identificar os pontos da questão, me sinto mais segura”, diz a futura estudante de Letras.

Outra estratégia que pode ajudar quem tem dificuldades é usar a matemática em outros contextos. “É muito bom incentivar o olhar do aluno para a matemática nas coisas do dia a dia, em situações cotidianas como ir à feira, ou um jogo de cartas. Assim, ele vai se familiarizando, criando intimidade. Incentivar o raciocínio lógico é sempre muito positivo”, destaca Elvira, dando o exemplo do quebra-cabeça numérico Sudoku como um bom exercício.

“Na hora da prova é focar, não levar tanta coisa para sala, tanta comida, doce, coisas que possam te distrair, e saber também a hora de dar aquela respirada, alongar, ir ao banheiro”, completa Bruno sobre a maratona. 

Inep cria novas medidas para a prova por conta da pandemia

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação do Enem, divulgou, no fim de novembro, medidas que serão adotadas nesta versão do exame para evitar aglomerações e risco de contágio pelo novo coronavírus.

Uma das principais diferenças está já nos locais de prova. Diferentemente dos anos anteriores, a ocupação nesta edição deve ser de, aproximadamente, 50% da capacidade original das salas de prova. Estima-se, para esta edição, 205 mil salas, em 14 mil pontos de aplicação. Em 2019, o Enem foi aplicado em 145 mil salas de aplicação, em cerca de 10 mil locais de prova. As providências fazem parte do conjunto de medidas preventivas contra a covid-19.

Além da redução do número de pessoas por sala, um local especial, com ocupação de até 12 pessoas, será destinado aos participantes que são mais vulneráveis à doença, o chamado grupo de risco. Outras medidas de segurança que serão adotadas durante a aplicação do exame incluem a disponibilização de álcool em gel aos participantes e a obrigatoriedade do uso de proteção facial durante a prova.

O participante poderá levar mais de uma máscara para troca ao longo do dia. As máscaras serão verificadas pelos fiscais para evitar possíveis infrações, respeitando a distância recomendada. Profissionais que irão trabalhar nos dias de prova, entre aplicadores, fiscais e demais colaboradores, também estão sendo capacitados por meio de cursos a distância, para se adequarem às medidas de segurança sanitária.

CORREIO traz fascículos para revisão

O CORREIO publica até o dia 13 de janeiro 17 fascículos especiais do 14º projeto Revisão Enem 2020. Na semana passada, o tema foi Ciências Humanas e suas Tecnologias. Nesta semana, o caderno traz questões de Matemática e suas Tecnologias. O Revisão Enem 2020 é uma realização do CORREIO, com o patrocínio da UniFTC e o apoio da SAS.

Com simulados on-line, que são disponibilizados no site do jornal (correio24horas.com.br), os conteúdos contam com uma série de questões objetivas, realizadas pelo SAS Educação, para os estudantes testarem os seus conhecimentos. 

“É um projeto pensado para facilitar a vida do estudante nessa reta final. Os conteúdos são desenvolvidos para abranger todas as 120 habilidades cobradas no Enem e os assuntos mais recorrentes nas provas, para que o aluno descubra uma forma de se aproximar mais da realidade do exame, além de disponibilizar as videoaulas com as resoluções para que o aluno também aprenda o conteúdo que ainda não sabe”, diz o professor Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais no SAS Plataforma de Educação.

Sempre às quartas-feiras, o site do CORREIO oferece videoaulas que podem ser acessadas na íntegra no canal l www.correio24horas.com.br/revisao. “Reunimos em um só lugar materiais inéditos de estudo que serão atualizados semanalmente e ficarão disponíveis para serem consultados sem sair de casa, a qualquer momento, de qualquer lugar, computador ou celular. Toda quarta-feira o estudante poderá ler conteúdos especiais, assistir videoaula e realizar simulados para testar os seus conhecimentos nas mais diversas áreas”, diz Vanessa Araújo, coordenadora de projetos do jornal.

Além do conteúdo de revisão disponibilizado no site do CORREIO, a UniFTC oferece, gratuitamente, a Mega Revisão Enem UniFTC com professores renomados de grandes escolas. No primeiro dia de exibição, que aconteceu na segunda, a Mega Revisão reuniu mais de 1,5 mil estudantes no ambiente virtual. Para se inscrever no projeto gratuito basta acessar o site http://bit.ly/MegaRevisãoEnemUniFTC2020. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro