Conheça a história da baiana eleita uma das empreendedoras mais bem sucedidas do país

Criadora da plataforma Wakanda Educação, Karine Oliveira, de 27 anos, chegou ao reality Shark Tank Brasil e foi reconhecida pela Revista Forbes

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 11 de janeiro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Tiago Caldas/CORREIO

Ela já vendeu coxinha, teve marca de roupas, trabalhou com reforço escolar, foi servidora pública e, depois de tantos corres, chegou ao topo: tornou-se uma das personalidades do meio empresarial mais bem sucedidas antes dos 30 anos, reconhecida pela Revista Forbes. Criada na periferia soteropolitana, Karine Oliveira, 27, é dona da Wakanda Comunicação — empresa que traduz conteúdos de negócios para quem empreende por necessidade — e ganhou ainda mais destaque no cenário nacional ao participar do Shark Tank Brasil, reality de empreendedorismo da Sony Channel.

Após a participação, Karine virou sócia de uma das maiores investidoras-anjo do país, a empresária carioca Camila Farani e viu os números da sua empresa saltar de 3 mil para 13 mil nas redes sociais da noite para o dia.

Farani contou que quando a conheceu ficou absolutamente encantada, e se perguntava: “Que energia é essa? De onde você vem?”. Vestida com uma bata africana com adornos vermelhos até o joelho e um cabelo xadrez a la loiro pivete, Karine chegou ao Shark Tank como uma guerreira, de cabeça erguida e exalando poder. 

A história dela começa no bairro do Engenho Velho da Federação, uma das comunidades com maior concentração de terreiros de religiões de matriz africana da capital baiana e com um vivo comércio no fim de linha de ônibus. Filha de pedreiro e de uma professora informal, ela viu os pais se separarem quando ainda tinha por volta de seis anos. Como as aulas de reforço escolar não eram suficientes para pagar as contas, a mãe, agora solteira, precisou se desenrolar no mundo das vendas e Karine virou sua assistente no comércio de coxinhas.

“Minha mãe sempre foi uma referência em tudo para mim. Brinco que meu primeiro estágio remunerado foi com ela. Minha mãe sempre teve esse espírito empreendedor, alfabetizando pessoas, mas nunca se reconheceu assim”, conta a filha. A empreendedora cursou todo o ensino básico em escolas públicas e, atualmente, concilia a corrida vida de empresária com a de graduanda em Serviço Social. Já a mãe, virou funcionária pública e é graduada em Marketing e Propaganda.

Hoje, levar educação empresarial para as pessoas é o projeto de vida de Karine, que já impactou 600 microempreendedores desde que a Wakanda foi fundada, há apenas dois anos. Com ajuda da nova sócia, ela está trabalhando em projetos ainda sob segredo, apostando em cursos exclusivamente virtuais enquanto a vacina contra a covid-19 não vem.

Embora trabalhasse com economia solidária desde a adolescência, empreendedorismo foi um termo que só chegou ao conhecimento de Karine em 2016, por meio de um curso no católico Centro de Estudos e Assessoria Pedagógica (Ceap). Foi o primeiro choque dela.“Eu tinha uma bagagem de 24 anos de trabalho com isso, tinha feito muita coisa na vida, e fiquei chateada porque era um mundo de palavras em inglês como brainstorm, call, pitching. Eu ficava: ‘Mas, rapaz, a gente num tá em Salvador? Por que a gente não fala português?’ Aí eu vinha e metia um ‘apois traduz aí para mim’. Sempre parecia que a gente não estaria trabalhando com empreendedorismo se não estivéssemos na Bolsa de Valores, não é assim. Você vai dizer que nossa Deusa Cira do Acarajé não é uma empreendedora? É uma bobagem reverenciar só o que vem de fora”, refuta.Foi carregada por essa indignação que decidiu fundar sua empresa, que capacita desde vendedores ambulantes de ônibus até donos de pequenas lojas. E praticamente tudo o que a empreendedora social consome é de autoria dos alunos de seus cursos, para ampliar a visibilidade do black money. “A força do lobo não está nas garras e nem na velocidade, está na alcateia. E é por isso que a Wakanda sempre vai atuar em rede”, afirma ela.

A estilista Alice Sales, proprietária da marca de roupas étnicas Tons da Terra, inclusive, é a autora da peça que Karine usou para ir ao Shark Tank e que agora está em praticamente todas as fotos de divulgação que estampam o rosto da poderosa na mídia. 

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Quando Alice conheceu a Wakanda, ela estava com dificuldades de gerenciar as finanças do seu negócio, cheia de dúvidas sobre como administrar o estoque de tecidos. Através das aulas, aprendeu a controlar o fluxo de caixa, precificar melhor suas roupas, conhecer o seu público, usar as redes sociais para divulgar o negócio e apostar no seu forte — a confecção de peças personalizadas sob encomenda. 

Quando foi desenhar a bata que Karine vestiu, usou o filme Pantera Negra como referência. “Eu pensei no que ela gosta, que é conforto, e levei em conta as vestimentas da maioria das guerreiras, que têm roupas com moldura, que descem até o joelho. Pensei numa armadura, numa mulher empoderada. É como eu a vejo”, detalha ela que, após os cursos, passou a vender em lojas colaborativas no Shopping Center Lapa, Ribeira e no próprio bairro.

Xibiu de Mainha

A costureira Maria Eunice, de 61 anos, estava participando de uma feira de rua, em 2018, testando as vendas de uma receita que, até então, era pura resenha de família, um bolinho apelidado de Xibiu. Naquele dia, Karine estava presente como palestrante e foi convidada a conhecer o produto que andava provocando gargalhadas entre os clientes. Quando viu, não teve dúvidas: o quitute era único, tinha a cara de Salvador e muito potencial para ser um sucesso.  (Foto: Tiago Caldas/CORREIO) Naquela conversa, Priscila Monique, 29, filha de dona Eunice, decidiu que se matricularia em uma mentoria da Wakanda para profissionalizar o sonho da mãe. Dali em diante, surgia uma empresa com identidade, o Xibiu de Mainha, um negócio de família. Nas feiras, antes da pandemia, o negócio chegava a gerar R$ 1 mil por fim de semana. Há dois meses, elas têm apostado nas plataformas de delivery, buscando aprender sobre o funcionamento.

“A gente tem um produto com um nome original, uma brincadeira que causa estranhamento, um produto forte feito pelas mãos de mainha. Os cursos mudaram a nossa postura, de ver o bolinho como um produto mesmo, de encarar como negócio, aprendendo sobre a gestão financeira. Os cursos nos deram a confiança de seguir, Karine levantou nossa autoestima. Ela nos mostrou que esse não é um salgado qualquer que você põe na mesa. É uma coisa que as pessoas vão falar e brincar, com várias piadas”, conta Priscila.

Em sua trajetória, Karine levou seus alunos a trabalharem em parcerias com marcas como a gigante alimentícia Pepsico, a construtora multinacional Camargo Correa, a escola paulistana de negócios Empreende Aí, a filantrópica latino-americana Fundación Avina e a ONG Parque Social, sediada em Salvador. Em parceria com a CCR Metrô, a Wakanda colocará no ar, em breve, uma formação inicialmente gratuita chamada Acelerando Seu Corre, com aulas através de desafios pelo WhatsApp para o desenvolvimento de habilidades como gestão financeira, marketing digital, planejamento e vendas.