Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Felipe Aguiar
Publicado em 22 de março de 2021 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
As praias de Salvador estavam vazias um dia depois do fim oficial do Verão, mas o motivo não foi o mau tempo ou o encerramento das férias. Devido às medidas restritivas do combate ao novo coronavírus, esses espaços estão fechados aos banhistas que tradicionalmente lotam a orla nos finais de semana. Responsáveis por fiscalizar o cumprimento das regras e, um momento de aumento de casos e mortes por covid-19 e da lotação das unidades de saúde da cidade, a Guarda Civil Municipal (GCM) percorre as praias em busca dos ‘furões’ do isolamento social. Neste domingo, 21, a reportagem do CORREIO acompanhou essa tarefa no trecho da orla que vai de Patamares até Itapuã.>
Na maior parte da orla havia poucos pescadores e pessoas realizando atividades esportivas marítimas, que estão liberadas conforme as regras municipais. Usando máscaras de proteção, os agentes se deslocam de carro e quadriciclo ou percorrem as distâncias a pé. A operação consiste na observação e retirada de qualquer pessoa que esteja infringindo as restrições. As rondas, que se dividem entre duas equipes, passam o dia de praia em praia. >
Pedidos de banhistas Na sua rotina, os guardas lidam com as tentativas de negociação dos banhistas que não invadem a praia de imediato, mas decidem pedir licença aos agentes para burlar as regras ‘só um pouquinho’. “Todo dia alguém pede para dar ‘só um mergulho’. E eles são insistentes”, conta o guarda Telles.>
Ao avistar um ‘furão’ na praia, os agentes descem dos veículos e, do calçadão, chamam a atenção dos banhistas infratores, com acenos e apitos. Quando alguém insiste em não sair da água, os guardas precisam descer até a areia para conversar com a pessoa e, se necessário, escoltá-la em direção à saída da praia. “Na quinta-feira tivemos que levar uma pessoa até a delegacia porque ela não queria sair e nem colocar a máscara. É um trabalho desgastante, mas necessário”, acrescenta Telles. Agentes da GCM descem para a areia e orientam banhistas a sairem da praia (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Isaias Souza está todo dia na orla de Jaguaribe tirando fotos como passatempo. Ao ser perguntado sobre o que tem visto nos últimos dias, afirma que vê com frequência pessoas furando o bloqueio e indo até a praia. “Tem menos pessoas na praia, mas sempre vejo alguém sendo retirado pelos guardas”, revela Isaias.>
Já Maira Calmon, que havia parado de pedalar na orla como era seu costume, agora está voltando ao hábito e diz que percebeu que o número de pessoas se exercitando cresceu. Em contrapartida, a ciclista afirma que “a diferença na praia é notável” devido a fiscalização.>
Herança de Sísifo A definição do guarda Reis sobre a tarefa para manter as praias vazias dá a ideia da dificuldade do trabalho e lembra o personagem Sísifo, da mitologia, que rola uma pedra morro acima só para vê-la cair de novo. “É como enxugar gelo”, afirma. “É isso todo dia. A gente desce nas praias e tira as pessoas. Mas elas sempre voltam”. Pesca é uma das atividades que está permitida nas praias (Foto: Paula Fróes/CORREIO) O comandante Dalforno acrescenta que as pessoas resistem a obedecer e burlam as proibições. “Elas estão erradas, quebrando as normas e ainda querem discutir”, observa o agente. Na sua ronda junto com a guarda, a equipe do CORREIO presenciou o momento em que um banhista insistiu em ficar no mar e o comandante e sua equipe precisaram escoltá-lo para fora.>
Balanço Apesar de alguns furões, o movimento do final de semana foi considerado tranquilo pela coordenação da Guarda Municipal. “Tivemos um número bem menor de infrações em relação a outros finais de semana. Mas houve um caso inusitado de pessoas que foram retiradas enquanto davam banho em um cavalo, na praia da Pituba. Houve a intensificação da atuação em Praia do Flamengo e em Stella Maris, contudo com o número bem reduzido de pessoas nesses locais”, afirmou a corporação, em nota.>
*Com a supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro>