Conheça as 14 macrotendências que devem definir o que está por vir

Líder na América Latina do Copenhagen Institute for Futures Studies, Peter Kronstrom, apresentou durante o Agenda Bahia as principais tendências do futuro

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

Por mais que se imagine que o reflexo mais claro do futuro está nas telas dos celulares, em óculos de realidade aumentada, ou em outros apetrechos hi-tech, o desenvolvimento tecnológico é apenas uma das 14 macrotendências que devem definir o que ainda está por vir. Futurista assumido, Peter  Kronstrom, líder na América Latina do Copenhagen Institute for Futures Studies, acredita inclusive que fatores como a chegada dos transportes autônomos, o aumento da longevidade e, principalmente, a mudança do papel da mulher na sociedade, terão influência muito maior do mundo do amanhã que a própria tecnologia. 

O esboço do futuro passa pela compreensão de que metade dos bebês nascidos na atualidade vai passar dos 100 anos de vida. Que o empoderamento feminino vai mexer mais com a sociedade que qualquer tecnologia nos próximos 30 anos. As pessoas vão passar cada vez mais tempo dentro de veículos, entretanto a automatização do transporte vai tornar o período de deslocamento cada vez mais produtivo. “Com os carros autônomos, o tempo de deslocamento deixará de ser perdido. Vai ser local de trabalho, estudo, vai ser central de entretenimento... Vai ser tudo, menos tempo perdido”, aponta Kronstrom. 

Com a expansão da indústria 4.0 e suas impressoras 3D, cada vez mais grandes polos industriais devem dar lugar a pequenas unidades de produção pulverizadas. O comércio também será cada vez mais automatizado. “A Amazon (empresa de e-commerce) já está investindo em mineração de dados. No futuro, é assim que iremos comprar: as máquinas vão conversar entre si e vão comprar o que nós precisarmos”, projeta. 

Claro que isso só vai funcionar com grandes mudanças em relação ao direito à intimidade, avalia Kronstrom. “Para deixarmos as empresas entrarem em nossa esfera íntima, temos que ter confiança nelas”, diz. 

Foco no hoje O líder na América Latina do Copenhagen Institute for Futures Studies explica que o melhor modo de imaginar o amanhã está numa análise do hoje. É com o presente que se deve tentar entender o futuro. 

“Nós do Copenhagen Institute falamos que o amanhã não existe, ele está sendo criado agora”, explicou. Num alento para aqueles que temem pelo que está por vir, o futurista lembrou de visões catastróficas em relação ao futuro em séculos passados e ressaltou a responsabilidade de todos na construção daquilo que ainda virá. “Temos na palma da mão a oportunidade de criar o futuro. E temos a responsabilidade de criar o futuro que a gente quer”, avisou. Ao alcance dos dedos temos telas supertecnológicas, que podem ajudar a reescrever aquelas histórias que ainda nem foram contadas. 

Peter Kronstrom explica que pensar no futuro é algo que o ser humano faz em 80% de seu tempo. “O seu cérebro passa a maior parte do dia refletindo sobre coisas que irão acontecer no curto e no médio prazo”, disse. As pessoas já acordam pensando no que irão comer após deixarem a cama, o que irão vestir antes de sair e que caminhos irão tomar para chegar aos seus destinos, entre outras coisas. 

“Agora, em um evento como o Agenda Bahia, nós temos a possibilidade de pensar em algo a longo prazo”, diferencia.  Kronstrom lembra a necessidade de se estudar rápido as grandes mudanças futuras para que a humanidade faça as correções de rumo necessárias o quanto antes. 

Mas como seria possível criar um cenário diferente do que as mentes apocalípticas já previram? “O futuro não existe sem imaginação”, responde Kronston à sua própria linha de pensamento. Ele lembra uma célebre frase do ex-presidente cubado Fidel Castro sobre a relação entre a ilha comunista e o governo norte-americano: “Estados Unidos vão dialogar com Cuba quando tiverem um presidente negro e o Papa for latino-americano”, respondeu a um grupo de jornalistas em 1973. Foi um futurista? “Não, falou com pessimismo, como algo que jamais iria acontecer”, afirma Peter Kronstrom. Reforçando a ideia de que o amanhã precisa de muita imaginação para ser visualizado, ele complementou: “O futuro, quando chega, é sempre mais maluco do que a gente imaginou lá atrás”. 

Isso acontece porque sempre vão surgir as wild cards (cartas coringas), ou os cisnes negros – situações que são difíceis de prever e que modificam todo o cenário. É até possível que algum futurista tenha previsto aparelhos de comunicação móvel, tipo os atuais smartphones, mas dificilmente algum deles imaginou que os equipamentos iriam ocupar o papel que exercem na vida das pessoas. “Nunca houve tantos cisnes negros ao mesmo tempo na história da humanidade”, diz. 

E alguns destes cisnes são bem feinhos. “Ninguém poderia imaginar que as fake news ganhariam a importância que elas passaram a ter no cenário nos últimos anos. Elas transformaram a verdade em um debate. Isso é um problema. Vivemos em um mundo em que as pessoas não se importam com a palavra de governos ou de empresas. Vale mais o que dizem as celebridades”, afirma.

O Fórum Agenda Bahia 2019 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Sotero Ambiental, apoio institucional da Prefeitura de Salvador, Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia e apoio da Braskem e DD Education.

AS 14 MACRO TENDÊNCIAS

Desenvolvimento demográfico   As pessoas estão vivendo por mais tempo e se concentrando em centros urbanos.  O fluxo migratório de regiões mais pobres para mais ricas se intensificou.

Crescimento econômico   Apesar do momento de instabilidade global, a tendência segue sendo de crescimento das economias, embora menos acelerado.  Mudanças nas lideranças econômicas (países e organizações) devem acontecer. A preocupação com a diversidade da força de trabalho e a sustentabilidade do desenvolvimento se acentua.

Sustentabilidade   A urbanização e o crescimento econômico demandam maior consumo de recursos naturais e cresce a preocupação com a preservação do planeta. Energia renovável, conservação da natureza e consumo consciente fazem parta da pauta. 

Desenvolvimento tecnológico  Após um período de acelerado desenvolvimento de novas tecnologias, observaremos a implicação de sua implementação na sociedade e a democratização do acesso. Proteção de dados individuais e Inteligência Artificial aplicada a solução de grandes desafios sociais são temas de interesse. 

Foco na saúde  Qualidade de vida e bem-estar ganham importância num contexto de maior longevidade, vida urbana e jornadas estressantes.  A prevenção ganha espaço sobre o tratamento, tanto na perspectiva individual (auto responsabilização) como no ecossistema de negócios (economia para os planos de saúde).   

Comercialização (monetização)  Tudo tem seu valor e seu preço. Estamos dispostos a pagar pelo conforto, uso de bens, tratamento diferenciado, aconselhamento, informação e conhecimento. Na economia informal, todo tipo de serviço pode ser oferecido em pequena escala. A megatendência acentua-se em momentos de crise, quando as pessoas buscam alternativas criativas para ganhar dinheiro.

Globalização  O mundo está cada vez mais conectado.  A interdependência econômica entre as nações é acompanhada pela interação entre povos, com impactos culturais e políticos.  A tribalização não é mais geográfica e conecta pessoas com interesses comuns em diferentes pontos do planeta.  Cresce a consciência de pertencimento à coletividade global.

Individualização   Exigimos, cada vez mais, o reconhecimento e o respeito à nossa individualidade.  Rótulos e caracterizações coletivas, mesmo quando associadas a causas, não são mais satisfatórias. Buscamos o desenvolvimento pessoal e a liberdade de ser. Valorizamos o tratamento individualizado e a exclusividade.

Sociedade em rede  Cresce a percepção de importância de nossas conexões.  As Redes Sociais transformam as relações e possibilitam a comunicação direta (desintermediada) entre pessoas e organizações. A rede de contatos é considerada um ativo cada vez mais valioso para apoiar nossos planos pessoais e viabilizar os coletivos. 

Democratização    Sociedades cada vez mais participativas, aperfeiçoamento dos direitos humanos e das liberdades e responsabilidades individuais e coletivas permeiam a sociedade.  A diversidade é reconhecida e estimulada. A transparência das instituições, públicas e privadas, é exigida.  Acreditamos no direito de voto e veto para tudo aquilo que nos afeta.

Polarização  No contexto socioeconômico, aumenta a distância entre os extremos e desaparecem as posições intermediárias. A classe média e os partidos políticos de centro são impactados.  Diminui o espaço para opiniões conciliadoras e crescem os conflitos ideológicos. A economia é definida por grandes corporações e pequenos negócios, sem espaço para empresas médias.

Imaterialidade  Cresce a consciência de que pagar pelo uso é mais interessante do que pela posse. A experiência de consumo vale mais do que o produto. Conhecimento, influência, acesso, exclusividade e outros valores intangíveis são os novos sinais de riqueza.  

Sociedade do conhecimento  Revolução da Informação se sobrepõe à Industrial e transforma o conhecimento em um bem de alto valor.  Saber vale mais do que ter. O desenvolvimento tecnológico acelerado e seu impacto socioeconômico criam a necessidade de constante atualização e perenizam a condição de aprendiz. 

Aceleração e complexidade  A percepção generalizada é a de que tudo acontece com maior rapidez e a realidade se torna mais complexa.  A renovação e a inovação acontecem em todas as partes.  Organizações incorporam novas tecnologias e transformam sua oferta para promover a satisfação de consumidores cada vez mais exigentes, em busca da gratificação instantânea.

Elaboração: Peter Kronstrom e Flávio Ferrari