Conheça capitão da PM que tem 13 negociações no currículo em situações com refém

O capitão Luiz Henrique Guedes Pires participou de três negociações somente neste ano

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  • Bruno Wendel

Publicado em 19 de abril de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Capitão Luiz, ontem, ao lado da mãe do suspeito negociando a rendição dele - Foto: Divulgação/SSP-BA

Em quase quatro anos, o currículo já acumula 13 negociações, das quais três somente neste ano. A mais recente aconteceu nesta quinta-feira (18). O capitão Luiz Henrique Guedes Pires, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar, usou a experiência de negociador e mais uma vez logrou êxito. Ele conseguiu a rendição de uma das lideranças da facção Comando Paz, Marcos Vinícius Santos Longo, o King, de 21 anos, que fazia refém uma mulher dentro de uma casa, em Portão, bairro de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador.

King tinha dois mandados de prisão em aberto. O local foi cercado pelos policiais, e a negociação começou.“Inicialmente, ele queria a mãe, a imprensa e o advogado dentro da casa, mas disse a ele que isso era impossível, que foge dos padrões”, contou o capitão.Para convencer King a se entregar, não houve “passe de mágica”. “Usei a tática que aplicamos sempre. Mostrei empatia, segurança no que estava falando, que ele seria revistado e levado para a delegacia. A segurança e a tranquilidade de que tudo que foi dito seria cumprido”, declarou.

O capitão Luiz Henrique entrou no Bope em 2013, quando ainda era Companhia de Operações Especiais (COE) da PM – em 2015 a unidade mudou para Bope. Dos 80 policiais que compõem o Batalhão, ele e um outro PM são especializados em negociação. Foram cursos específicos para operações especiais, gerenciamento de crise, além de intercâmbios com unidades policiais de outros estados. “Além disso, procuro me inteirar do que acontece no mundo. Estudo muito, para evitar o evento morte”, contou. Capitão (direita) explica que prefere ficar longe dos holofotes em nome da preservação do seu trabalho Foto: Divulgação/SSP-BA Outros casos Além de Portão, o capitão Luiz Henrique atuou na negociação de outros dois casos de repercussão em Salvador neste ano. O primeiro foi quando em, 28 de janeiro, um adolescente invadiu a casa da avó e fez a namorada refém no bairro do Lobato. O sequestro durou pouco mais de 2h30. O adolescente estava com um bando e foi seguido por policiais, invadiu a casa da avó, onde a namorada estava e, com uma submetralhadora 9 milímetros, a fez refém. No dia, o capitão conseguiu convencer o jovem a libertar a namorada. Ninguém se feriu.

Em abril, uma família viveu momentos de terror, quando seis homens fugiram de uma abordagem policial, invadiram uma casa e fizeram três pessoas reféns, incluindo uma criança de dois anos. O caso aconteceu na região conhecida como Serra Verde, no Vale das Pedrinhas. Estavam no imóvel uma mulher de 34 anos e seus dois filhos, sendo um deles um menino de dois anos, além de uma adolescente de 15 anos. A negociação durou pouco mais de três horas – os criminosos libertaram os reféns e foram presos em seguida.

Mas foi em Porto de Sauípe, em maio de 2016, que o capitão Luiz Henrique considera até hoje a situação mais tensa. Na ocasião, a jovem Daíza Daiane Batista de Matos, 20 anos, foi feita refém pelo próprio namorado, Juarez Nascimento dos Santos Júnior, 29, conhecido como Cipan, que era procurado há mais de dois anos pela Força-Tarefa da SSP por cometer diversos crimes contra instituições bancárias, tráfico de drogas e assassinato de policiais.

“Foi muito tenso. Ele resistia a se entregar, ainda mais que era procurado também por matar policiais. Ele estava com medo. Inicialmente, nada o fazia se entregar, até que fui ganhando tempo, fui conquistando a empatia dele, até que ele aceitou e se entregou”, relatou.

Alerta Ser um negociador é dedicação total, inclusive nos dias de folga. “Tem que estar em alerta sempre, mesmo não estando no serviço. Por isso mesmo, quando estou com a família, não bebo, não fumo. Quando vou em alguma festa, não demoro muito, pois preciso dormir cedo. Tenho que estar apto a todo instante”, disse ele.

Quanto não está no Bope, o capitão está estudando e fazendo curso de especialização em Segurança Pública. “Estou trabalhando para futuramente ser promovido a major. Quero continuar crescendo na carreira militar”, disse. Perguntado se a sua ascensão militar é chegar ao comando-geral, ele respondeu sorrindo: “Quem sabe”.