Conheça cidades fora da rota tradicional que estão bombando no turismo na Bahia

Veja o que as cidades elevadas de categoria têm de melhor para os visitantes

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 6 de março de 2018 às 07:54

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação
Mucugê por Divulgação

Adustina, Sento Sé, Formosa do Rio Preto, entre outras cidades, não são comuns em pacotes turísticos para uma viagem de férias na Bahia. Mas o que a maioria dos viajantes não sabe é o que elas têm: belezas naturais, sítios arqueológicos, eventos religiosos, culturais, vaquejadas, festivais de gastronomia, literatura, forró, chorinho e até desfile de tratores são apenas alguns dos atrativos de 17 cidades da Bahia que subiram de categoria no mais recente Mapa do Turismo. 

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A classificação mais recente divulgada pelo Ministério do Turismo, cuja categorização vai de A até E, pode ser acessada online. No Mapa há 150 cidades da Bahia, sendo quatro na categoria A, 19 na B, 31 na C, 85 na D e 11 na E.

O principal objetivo do Mapa do Turismo é diagnosticar o desenvolvimento econômico do turismo no Brasil, e por meio dele montar estratégias de investimento no setor.

Na Bahia, os municípios que evoluíram estavam nas categorias E, D e C. Adustina, Aratuípe, Gentio do Ouro, Pindobaçu, Planaltino e Sento Sé mudaram de E para D.Leia também: Camamu perde posição no Mapa do Turismo; estrada local recebeu R$ 37 mi em 2009

Esplanada, Formosa do Rio Preto, Ibicoara, Ibotirama, Mucugê, Palmeiras e Uruçuca de D para C e Lauro de Freitas, Santa Cruz Cabrália e Teixeira de Freitas de C para B.

Nessas cidades, o Ministério do Turismo registrou melhora significativa no número de empregos do turismo, de estabelecimentos de hospedagem e do fluxo de turistas.

Com a atualização do Mapa, destaca o ministério, “é possível perceber que alguns municípios estão se estruturando em regiões e fortalecendo a economia do turismo”. Na prática, para os municípios, a mudança de categoria significa direito a pedir mais verba para eventos ao Ministério do Turismo. 

Cidades das categorias A, B podem pedir R$ 800 mil, R$ 500 mil e R$ 400 mil, respectivamente. E as da categoria D, R$ 150 mil para um único evento.

Pegando carona Dona do local onde os portugueses estiveram pela primeira vez quando descobriram o Brasil, em 22 de abril de 1500, a cidade de Santa Cruz Cabrália, no Extremo Sul da Bahia, busca se beneficiar dos cerca de 1,5 milhão de turistas que desembarcam todo ano no aeroporto internacional da vizinha Porto Seguro.

Cerca de 25% dos turistas de Porto vão para lá, de acordo com a Secretaria Municipal de Turismo de Cabrália. As duas cidades estão separadas por 28 km, via BR-367, que leva os turistas a Santa Cruz Cabrália pela orla norte de Porto Seguro, onde estão as mais badaladas praias da cidade.

Com 45 mil leitos e a economia baseada no turismo, Porto é uma das quatro cidades da Bahia com categoria A no Mapa do Turismo. As demais são Salvador, Cairu e Mata de São João.“Buscamos atrair cada vez mais o público que chega a Porto Seguro. Sabemos que a maior parte dos hóspedes fica em Porto, mas temos visitas diárias, sobretudo em Coroa Vermelha”, disse o secretário de Turismo de Santa Cruz Cabrália, George Augusto Silva Jones, empresário do turismo e que já ocupou o mesmo cargo em Porto.Turismo religioso Ainda no Extremo Sul, a cidade de Itanhém, que subiu de E para D, fortaleceu o setor por meio do turismo religioso, segundo a Secretaria Municipal de Turismo. O local de visitação é o Santuário Jesus Misericordioso/Cruzeiro Santo, que oferece eventos o ano todo.

Outros potenciais turísticos do município de 20 mil habitantes são as cachoeiras, morros, florestas, jazidas de pedras preciosas, turismo rural, ecoturismo, turismo de aventura, gastronomia e festas culturais.

No Nordeste da Bahia, a cidade de Adustina, que também saiu da E para D, faz a mesma aposta em eventos religiosos. Por lá, a romaria para a Ponta da Serra costuma reunir cerca de mil pessoas na cidade de 17 mil moradores.

O município, por enquanto, tem apenas cinco meios de hospedagem, com cerca de 40 leitos. Mas a ideia é estimular a abertura de novos estabelecimentos, informa a prefeitura local.

Até mesmo porque eventos maiores, como o Adustina Fest, reúnem cerca de 20 mil pessoas, e a Festa dos Tratoristas, a mais tradicional, realizada há 32 anos, durante os quais as casas de moradores viram hotéis improvisados.“Vem gente de toda a região para a Festa dos Tratoristas. São cerca de 120 tratores desfilando na cidade”, declarou o secretário Paulo Santos. Desfile de tratores em Adustina (Foto: Divulgação) Atrações do campo No Extremo Oeste da Bahia, o que movimenta a cidade de Formosa do Rio Preto, de 22 mil habitantes, é a vaquejada, este ano em sua 34ª edição. O evento realizado em maio reúne cerca de 20 mil pessoas e possui atrações nacionais da música sertaneja. Além disso, a cidade atrai viajantes dos estados vizinhos de Tocantins e Piauí pelas belezas do Rio Preto, que ao contrário do que o nome indica, é de águas cristalinas.

“Nos últimos anos, demos uma crescida na construção de pousadas e hotéis, estamos com 14 a 16, e cerca de 400 empregos diretos e indiretos. Vamos criar este ano o Conselho Municipal de Turismo e fazer um inventário turístico da cidade”, disse a secretária municipal da pasta, Luciana Rocha Bispo Lisboa.

Mucugê evolui com hotéis e pousadas formalizados A chegada de Mucugê, cidade da Chapada Diamantina onde moram 10 mil pessoas, à categoria C no Mapa do Turismo, onde estão outras 31 cidades da Bahia, não foi à toa. Uma das primeiras ações foi identificar a rede de estabelecimentos que compõem o setor na cidade, e logo foi descoberto que muitos atuavam na informalidade.

Com auxílio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), dezenas de informais ganharam registro de microempreendedor individual (MEI). E quem já estava formalizado, passou a registrar em carteira de trabalho os funcionários, o que também contribuiu para profissionalizar o setor. Com isso, o turismo da cidade passou a ser mais visto por órgãos do governo federal, como Ministério do Trabalho, Receita Federal e próprio Ministério do Turismo.

O resultado é que de nove estabelecimentos de hospedagem registrados em 2014, quando foi feito o primeiro Mapa do Turismo, a cidade foi para 28, com 915 leitos.

Aliado a essa formalização, a prefeitura de Mucugê criou um calendário de evento turístico que movimenta a cidade o ano todo.

Começa com o Terno de Reis em janeiro, depois Carnaval, Semana Santa, aniversário da cidade, festival gastronômico, festival de corais, festival literário, desafio de mountain bike, festival de forró, corrida de rua e termina com Natal e Réveillon. (Foto: Divulgação/Prefeitura de Mucugê) A cidade não para Vinte eventos já estão programados para este ano. Entre as novidades, estão um evento evangélico dia 24 e 25 deste mês, um encontro de Amarok entre o final de março e início de abril e a Festa do Morango, em agosto. A cidade ainda conta com belezas naturais diversas, como cachoeiras e corredeiras. Um dos mais visitados são o Poço Azul, o Poço Encantado e o Vale do Pati.

“Para uma cidade que o Ministério do Turismo achava que nem tinha turismo, está muito bom. Mais de 30 mil pessoas passaram por aqui ano passado”, comentou o secretário municipal de Turismo, Euvaldo Ribeiro Júnior. Nas contas do secretário, o setor gera cerca de 200 empregos diretos.

O turismo em Mucugê responde por cerca de 20% da economia local. Um dos eventos no calendário é o Festival de Gastronomia, que em 2017 recebeu 2.500 visitantes em quatro dias.

Missão categoria A A Prefeitura de Mucugê e empresários locais buscam aliar o turismo também ao setor do agronegócio, que responde por mais de 60% da economia do município, de acordo com informações da Administração local.

Os principais produtos são os cafés de alta qualidade, alguns dos quais, como o Latitude 13, produzido na Fazenda Progresso, já serviram até o Papa Francisco.

Na fazenda de 20 mil hectares, mais da metade com mata nativa ainda preservada, são produzidas frutas e legumes diversos tipos para exportação. O café, por exemplo, vai para Estados Unidos, Europa e Ásia.

É na Fazenda Progresso que desde 2012 vem sendo desenvolvido um projeto de produção de uva para vinhos finos, que servirá também para a prática de enoturismo. A previsão é construir na fazenda um hotel e restaurante cinco estrelas e um aeroporto exclusivo para hóspedes. O valor do projeto, já definido, está sob sigilo.“Fizemos o teste com a produção de uvas e conseguimos um vinho muito bom. Ele não tem nome ainda, é uma criação nossa. E planejamos lançá-lo em 2020”, disse Fabiano Borré, gerente de negócios da Fazenda Progresso.O ano de 2020 é o que a Prefeitura de Mucugê espera poder alcançar a categoria A no Mapa do Turismo.

Sento Sé aposta em visitas aos sítios arqueológicos No Extremo Norte da Bahia, a cidade de Sento Sé, cuja economia é baseada na criação de caprinos e ovinos e na lavoura irrigada ao longo do Vale do São Francisco, surge com um tipo de turismo raro na Bahia: o arqueológico. Segundo pesquisadores, estima-se que haja cerca de 3.000 sítios, muitos dos quais já vêm sendo usados por guias como roteiros de visitas de turistas nacionais e estrangeiros. “Meu filho mesmo, é um desses guias. Todo final de semana, ele leva umas 20 pessoas para os sítios”, disse o pesquisador Celito Kestering.

“Acho isso meio desastroso porque turista não é orientado. Já teve caso de que um resolveu pintar também a rocha onde tem as pinturas rupestres”. Doutor em Arqueologia na área de pinturas rupestres, Kestering pesquisa os sítios arqueológicos desde 1993. “Já encontrei peças que remontam a habitação humana  há mais de 16 mil anos no Vale do São Francisco”. Ele diz não ser contra o turismo, mas acha que tem de ser controlado e os guias capacitados. “Além disso, é preciso investimento público”.

A Secretaria Municipal de Turismo de Sento Sé informou que a ideia é buscar recursos com governos para poder criar meios de organizar as visitas aos sítios. “Temos um potencial grande para isto e queremos aproveitar, mas com cuidado”, comentou a chefe do Departamento de Turismo, Mariluze Amaral. A ideia é promover o ecoturismo em trilhas, além de escaladas, trecking, banhos de cachoeira e em águas termais.

A ideia é proporcionar aventuras com o ecoturismo em trilhas pré-históricas/históricas dos circuitos arqueológicos da tradição São Francisco e Nordeste, com passagens de Kadiueu, estrada da velha Joana e os caminhos percorridos por Romão Gramacho, Lampião e a Coluna de Carlos Prestes. Escaladas, trecking, banhos de cachoeira e águas geladas nos tanques/cânions, grotas e serras e águas quentes nas termais em Limoeiro Brejo da Brásida também são atrativos.

As belezas naturais do bioma Caatinga também estão na mira do turismo da cidade, conta Mariluze: “Recentemente, foram catalogadas 97 novas espécies do Bioma Caatinga e temos recebido a visita de pessoas de fora que vêm para pesquisar. Estamos num estágio inicial, mas é algo que podemos planejar e buscar recursos para fazer com que vire uma grande atração turística para a cidade. Potencial não falta”.