Conheça cinco mulheres que botaram pra lenhar em 2020

Seja na saúde, ciência, direito, ativismo ou no empreendedorismo, elas se tornaram referência

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  • Monique Lobo

Publicado em 7 de março de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

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A filósofa francesa Simone de Beauvoir já havia nos alertado que basta uma crise para que os direitos das mulheres sejam questionados. Quando enfrentamos a maior crise sanitária da história recente do nosso planeta, fica ainda mais fácil entender essas  palavras.

Mas, nada fez tanto sentido em um momento tão difícil como esse que a pandemia do novo coronavírus nos trouxe, do que ver os inúmeros exemplos de mulheres que superaram as adversidades e não só fizeram a diferença como abriram caminho para que tantas outras pudessem passar.

Mulheres Retadas com ‘r’ maiúsculo. Exemplos de conhecimento, força, ativismo, inovação, empatia e cuidado que fazem a diferença em suas áreas de atuação. Algumas delas  serão homenageadas na quarta edição do projeto Retada, realizado pelo CORREIO, que celebra, durante o mês de março, mulheres baianas - ou que vivem na Bahia - que se destacaram neste último ano. 

Neste sábado (6), trazemos cinco perfis de profissionais que ganharam evidência por sua contribuição seja na ciência, na saúde, no empreendedorismo, no ativismo ou no direito. O projeto ainda conta com outras ações que ocorrem ao longo do mês como as três transmissões do QuantA ao Vivo: a palavra é dela, apresentado pela colunista Flavia Azevedo, que vai abordar a cada segunda-feira os temas tecnologia, saúde mental e educação. Além disso, vídeos e cards das homenageadas serão publicados nas redes sociais do @correio24horas.

A ciência feminina na luta contra a covid-19 Quando ninguém sabia muito bem como era aquela doença que se espalhava pelo mundo, a biomédica e pesquisadora baiana Jaqueline Góes de Jesus, junto com uma equipe liderada pela pesquisadora Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Universidade de São Paulo (USP), conseguiu sequenciar o primeiro genoma do vírus SARS-CoV-2 apenas 48 horas depois do primeiro caso de covid-19 ter sido confirmado no Brasil. (Foto: Acervo pessoal) Para se ter uma ideia do tamanho do feito, em outros países, pesquisadores chegaram a demorar 15 dias. Desde então, o nome de Jaqueline ganhou atenção mundial. Em dezembro de 2020, faturou o Prêmio Capes de Tese em Medicina II com o trabalho ‘Vigilância genômica em tempo real de arbovírus emergentes e reemergentes’. Em sua pesquisa, Jaqueline estudou  casos desses vírus no Brasil, na tentativa de prever a ocorrência de novos surtos.“A partir do momento que você sequencia o genoma de um determinado vírus, você consegue ter informações necessárias para entender e enfrentar novas epidemias”, revelou em entrevista ao CORREIO no ano passado.Ex moradora da Vasco da Gama, onde os pais moram até hoje, a biomédica, mestre pela Fundação Oswaldo Cruz  e doutora pela Universidade Federal da Bahia, agora faz o pós-doutorado no IMT da USP.

Educadora que ensina periferia a empreender Criada no Engenho Velho da Federação, Karine Oliveira foi uma das representantes baianas na lista das personalidades do meio empresarial mais bem sucedidas antes dos 30 anos da Revista Forbes, na edição de 2020. A filha de um pedreiro e de uma professora informal é, hoje, CEO da Wakanda Educação Empreendedora. O negócio leva educação empresarial para pessoas da periferia. O projeto, fundado há dois anos, já impactou mais de 600 microempreendedores. (Foto: Tiago Caldas/Arquivo CORREIO) Antes de se tornar uma executiva e também estudante de Serviço Social, teve uma marca de roupas, trabalhou com reforço escolar, como servidora pública e até vendeu coxinhas com a mãe.  No entanto, o termo empreendedorismo só entrou em sua vida em 2016, quando fez um curso.“Quando conheci o empreendedorismo, foi um incômodo com essa quantidade de palavras em inglês, com os exemplos que só vinham de fora e com essa falta de acessibilidade. Comecei a perceber que minha mãe, meu pai, eram empreendedores. Só que não se sentiam assim porque a ideia de empreendedor é daquele cara que fatura milhões”, conta Karine.No final do ano passado, Karine participou da quinta temporada do Shark Tank Brasil,  um reality de empreendedorismo da Sony Channel. Seu passe foi disputado por quatro dos cinco grandes investidores do programa. Depois de muita negociação, ela se tornou sócia de uma das maiores investidoras-anjo do país, a empresária carioca Camila Farani.

Infectologista  é referência em cuidado na pandemia Desde o início da pandemia de covid-19, a infectologista baiana e diretora do Instituto de Infectologia da Bahia, Nilse Querino, é um dos nomes de destaque na conscientização da população. (Foto: Reprodução) Formada em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, mestre em doenças infecciosas e parasitárias pela Universidade Federal de São Paulo e doutora em Medicina pela Freie Universität de Berlim, na Alemanha, ela se tornou uma referência nas orientações em relação ao vírus.“Nós estamos aprendendo tanto com essa pandemia”, refletiu a médica em live feita pelo CORREIO.Quando muitos desconfiavam das vacinas anunciadas, ela foi enfática: “se vacinar é uma questão comunitária”. Para ela, tendo resultados de testes que funcionaram, não há motivos para se preocupar com o imunizante. Ela ainda alertou sobre a importância de se tomar a segunda dose para gerar um resultado completo de imunização.

A infectologista, que também é professora da Ufba e da Unime, explicou que a vacina não vai representar o fim da pandemia. “Precisamos ver a resposta imune”, disse. No entanto, ela busca se manter positiva sobre o futuro. “Eu quero ser otimista”, afirmou na live.

Ativista em busca de espaços para todas Com quatro anos, Millena Passos perdeu a mãe. Antes dos 13, perdeu o pai. Morou com familiares, mas com o tempo uma questão começou a gerar conflito: sua identidade de gênero. Millena nasceu com o gênero biológico masculino. Depois de passar por alguns lugares, precisou morar na rua e virar profissional do sexo. Sua vida daria um filme, mas não pense que sua personagem seria pautada no sofrimento. “Eu não gosto de ser chamada de vítima”, afirma. (Foto: Ane Novo/Divulgação) Foi na época em que morou na rua que conheceu o Grupo Gay da Bahia (GGB). Logo se destacou com uma voz de liderança. “Um dia Luiz Mott [fundador do GGB] me parou e falou: você vai longe”.  E foi. 

Millena se tornou uma referência no movimento LGBTQIA+ e recebeu o convite da então secretária de Política para as Mulheres da Bahia, Olívia Santana, para integrar a equipe da pasta. Ao aceitar, Millena se tornou a primeira mulher trans do país a assumir um cargo em uma secretaria como essa. Hoje, ela é secretária executiva do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher.“Avançamos, mas ainda quero mais. Quero entrar no mercado e ver uma trans caixa, quero ir no shopping e ver uma trans lá, quero ver trans aeromoça. Quero em todos os espaços. Se para as mulheres cis a desigualdade é muito grande, imagine para as mulheres trans ”, completa.  Direito e feminismo caminham de mãos dadas Um caso mudou a carreira da advogada baiana, especialista em Direito da Família, Mariana Régis. Ela representou um homem que se recusava a pagar pensão no valor devido à filha. Foi nesse momento que ela percebeu que estava usando o próprio conhecimento para reforçar o machismo.  (Foto: Divulgação) “Esse caso me fez perceber que eu não poderia ser mais uma pessoa nessa engrenagem que prejudica mulher, que eu não poderia usar o meu saber para prejudicar mulheres”, revela.

Depois dessa experiência, ela resolveu nunca mais advogar para homens em disputa contra mulheres. Em 2013, foi para a Argentina fazer a sua especialização na Universidad de Buenos Aires. Três anos depois, voltou ao Brasil e abraçou o feminismo como marca na sua atuação.“A gente aprende na faculdade que advogado não deve ter posicionamento ideológico. A minha sensação de inadequação com o direito, quando eu passei a fazer uma advocacia para mulheres, se transmutou em minha potência. Porque, hoje em dia, eu sou buscada por fazer essa advocacia alinhada com meus valores políticos”, destaca Mariana.Na internet, ela encontrou um novo campo para ajudar as mulheres. Através do seu blog e dos seus perfis nas redes sociais (@marianaregisadvogada)  Mariana passou a  produzir conteúdos sobre assuntos como pensão alimentícia, alienação parental etc. Atualmente, reúne mais de 16 mil seguidores.