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Fernanda Santana
Publicado em 12 de maio de 2019 às 05:18
- Atualizado há 2 anos
O aparelho metálico, estranho às vistas desacostumadas, é o maior companheiro de Crispim nos tempos de chuva, principalmente durante as madrugadas. Ali, pelo pluviômetro, consegue medir o quanto de água caiu sobre Planalto Real, no Subúrbio de Salvador, uma das localidades mais chuvosas da cidade. A depender da reposta, troca a noite de sono por subidas à laje de casa e idas à rua, onde verifica se a terra está encharcada. “Eu vou, de madrugada, de capa de chuva, olho”. Tal qual um guardião das chuvas, Crispim não tem medo de se molhar.>
Desde 2013, saem da casa onde Crispim vive com esposa e dois filhos as informações que ou tranquilizam ou mobilizam os moradores do bairro. É Crispim, apelido de Ariosvaldo Costa, 48, quem traduz os milímetros para a vida real. Logo ele, morador da região há 35 anos e testemunha de tragédias do passado.“Na nossa comunidade não tinha nada. Quando a chuva vinha, levava tudo que vinha pela frente. Aí, agora, vejo quanto tá caindo, chamo a Defesa Civil”, explica.Desde 2004, é voluntário do órgão, que organiza capacitação e treinamentos para provocar acidentes, por exemplo. Crispim e o pluviômetro, seu companheiro nas madrugadas (Foto: Marina Silva/CORREIO) O agente do carro fumacê e líder comunitário decidiu acumular a função de informante do bairro. Hoje, já sabe um pouquinho de quase tudo: desastres ambientais, acidentes com gás, barrancos. Em maio de 2014, por exemplo, enquanto a tempestade caía violentamente, Crispim saía para contar o que ninguém podia ver. “Até antes do pluviômetro, eu já saía para ajudar”, conta.>
A família acha normal a dedicação de Crispim com os fenômenos do tempo, tanto quanto seu amor pela música, o violão e as composições. No ano de 2016, a laje de Crispim recebeu o segundo pluviômetro. A ideia era substituir o semi-digital pelo digital. “Eu pedi para ele deixar o manual, para eu saber as informações também. Para eu não ficar sem informação”, lembra.>
Pergunto se Crispim, de tanta proximidade com a chuva, prefere o tempo nublado que os dias de sol. “Rapaz... olhe bem, tudo no seu tempo. A chuva, no tempo, ela é ótima. Mas a tempestade, a gente que mora perto de encosta fica preocupado”, pondera. E agora, que maio começou, haja idas à laje. >
*Com orientação da editora Mariana Rios>