Conheça o Jota, o site que, na crise, conseguiu crescer com a cobertura do Judiciário

Experiência do Jota será abordada no seminário O Futuro do Jornalismo, promovido pelo CORREIO, nesta sexta-feira (26)

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  • Thais Borges

Publicado em 24 de julho de 2019 às 05:10

- Atualizado há um ano

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À primeira vista, era um modelo que parecia difícil de dar certo. O contexto não ajudava: nos últimos anos, com a chegada da internet, redações jornalísticas de todo o mundo enfrentam uma crise severa. Mas, mesmo contra todas as possibilidades, um site brasileiro criado bem no meio desse cenário de incertezas vem crescendo tanto a ponto ter sido escolhida a melhor startup jornalística do mundo. 

Criado em 2014, o Jota tem foco na cobertura do Judiciário e um modelo de negócios considerado inovador por especialistas. Com a proposta de unir tecnologia e jornalismo especializado, o site tem até mesmo um robozinho que faz as vezes de repórter: Rui (@ruibarbot) monitora processos parados no Supremo Tribunal Federal (STF) e publica em seu perfil no Twitter. 

Não foi à toa que, em junho, o Jota venceu o World Digital Media Awards 2019 na categoria melhor startup de informação digital. Até mesmo o fato de o site se identificar como startup tem a ver com uma cultura de tecnologia dentro da redação. “A gente usa a tecnologia para tudo que a gente faz. Ela faz parte das nossas entregas para nossos assinantes, mas também de como a gente se organiza como empresa”, explica a diretora de produto e operação do Jota, Paty Gomes. Ela é uma das palestrantes do Seminário O Futuro do Jornalismo, que acontece nesta sexta-feira (26), das 8h às 12h30, no Hotel Quality, no Stiep. Promovido pelo CORREIO, o evento vai debater os próximos caminhos do jornalismo através da ciência de dados e das inteligências artificiais.

No seminário, serão apresentados os exemplos de como três organizações brasileiras têm utilizado a tecnologia transformar a maneira como se faz jornalismo e controle social no Brasil. Além do Jota, o evento ainda vai contar com as participações do Nexo Jornal e sa Operação Serenata de Amor. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo bit.ly/jornalismodefuturo. Diretora de produto do Jota, Paty Gomes é uma das palestrantes do seminário O Futuro do Jornalismo (Foto: Divulgação) Demanda O Jota nasceu do nicho: dois repórteres da Folha de S. Paulo e do Estado de S. Paulo, que já cobriam o Judiciário, perceberam que, naquela área, existia uma demanda maior por informações jornalísticas. 

O lançamento do Jota não poderia ter acontecido de forma mais tecnológica. Na verdade, o site fez sua estreia no Twitter, no dia em que foi divulgada a primeira lista do então Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Em março de 2015, Janot requereu a abertura de 28 inquéritos contra 49 deputados e senadores. 

O Jota fez uma cobertura diferente naquele dia. Enquanto todos os veículos de comunicação aguardavam a divulgação da lista completa para publicar suas reportagens, o Jota divulgava cada nome liberado pelo procurador. Assim, na linguagem jornalística, deu o 'furo' - publicou antes de todos. “A gente foi dando nome a nome. Nossas redes, desde o nascimento, são fortes. No Twitter, a gente chegou a muita gente”, diz Paty. 

Desde aquela época, os fundadores do Jota sabiam que ele precisava de sustentabilidade financeira. Para ter os melhores profissionais em seu quadro, tinham que ter um negócio forte. 

Por isso, há diferentes planos para assinatura. O Jota oferece desde a assinatura geral do site, que custa a partir de R$ 9,90 por mês, até conteúdos temáticos, como o Jota Tributário, o Jota Poder e o Jota Saúde. Os planos têm entregas que incluem Newsletter e Whatsapp. “A gente pensou alguns produtos, como Jota Tributário, que existe desde o início. O que a gente faz é cobrir julgamentos do STF e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e publicar periodicamente. A gente entrega por newsletter coisas que, de fato, não tem ninguém cobrindo”, explica. Personalizar Hoje, o site caminha também para cobrir mais do que o universo jurídico, produzindo reportagens também sobre os outros poderes. Isso porque, segundo a diretora de produto, não há como falar de Judiciário sem falar dos outros poderes da República. 

Mesmo os temas que poderiam estar em outros veículos são abordados de forma diferente no Jota. É o caso da cobertura de saúde, por exemplo, que trabalha com pautas relacionadas à regulamentação de medicamentos, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 

No Jota Poder, que abrange o noticiário de política, é possível trabalhar também com a ciência de dados. Pouco antes da votação da Reforma da Previdência, em primeiro turno, o Jota lançou uma ferramenta que calculava como cada deputado federal votaria a matéria. Esse cálculo foi feito com base em algoritmo próprio que levava em conta tanto o histórico de votação dos parlamentares quanto raspagem de dados publicados em redes sociais. “Agora, a gente está personalizando. Ainda estamos muito longe de onde queremos chegar, mas a ideia é ter uma plataforma muito mais personalizada. A gente tem a compreensão de que as pessoas usam a tecnologia para tudo na vida e a indústria de conteúdo ainda se movimenta devagar dentro dessas inovações”, opina. Investimento Ao todo, a empresa tem cerca de 50 pessoas – a maior parte é jornalista. A equipe de conteúdo, que é o time mais numeroso, fica entre Brasília e São Paulo. No entanto, há outros núcleos: a de ciência de dados, a de produtos e uma equipe externa de desenvolvedores. Essa equipe fica ‘externa’ por enquanto: o plano é de trazer todos os profissionais para dentro de casa. 

Esse será um dos focos de um investimento que a startup recebeu em maio, após uma rodada de captação. Foram levantados cerca de R$ 6,8 milhões, que terão como objetivo justamente reforçar as equipes de tecnologia e de produto, além da ampliação do laboratório do Jota Labs, seu laboratório de ciência de dados. 

Segundo a diretora de produto, o Jota é uma empresa como qualquer outra. Ou seja: entre os funcionários, há quem tenha mais ou menos aptidão para tecnologia. Entre os colaboradores do site, por exemplo, está Luiz Orlando Carneiro, que trabalhou por anos como editor do Jornal do Brasil. “Ele é uma joia rara para o jornalismo brasileiro, que tem 80 anos e não usa nem Whatsapp. Mas, no geral, nossa operação acontece dependendo de tecnologia. Tem muitas coisas que a gente faz, dependendo do uso da planilha, até quem não é de dados mexe lá com sua planilha”, afirma. A proximidade com os setores levou até a mudanças nos órgãos que são acompanhados pelo site. No início da cobertura de saúde, por exemplo, as sessões da Anvisa eram fechadas. Depois de algumas solicitações, os jornalistas passaram a ter autorização para acompanhar as reuniões. “Elas não eram abertas porque ninguém nunca tinha pedido”, explica Paty. 

Robô jornalista Uma das grandes inovações do Jota é o fato de ter criado sua própria inteligência artificial. O robô Rui foi criado há cerca de dois anos e batizado em alusão a Rui Barbosa e sua célebre frase: "Justiça tardia não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta". 

Para que ele conseguisse monitorar os processos – e, dessa forma, identificar há quanto tempo estavam parados – a equipe do Jota fez uma triagem de milhares de processos relevantes. Rui passou, assim, a acompanhar todos os aniversários e ‘não-andamento’.  (Foto: Twitter/Reprodução) “Se você está confiando na Justiça e ela começa a demorar, é pior do que a injustiça que foi cometida. Então, esse robozinho acompanha os andamentos e os aniversários são de seis em seis meses. Tem muita coisa parada e a gente vai tuitando de forma automática", explica a diretora de produto. Na verdade, Rui substitui – em uma escala muito maior – o que qualquer pessoa poderia fazer manualmente, já que o STF tem um sistema que permite o acompanhamento processual. Com um código criado pela equipe de cientistas de dados, os dados de andamento são capturados automaticamente. 

“Quando o dado está aberto, é relativamente fácil fazer isso. Agora, eu não preciso mais que um repórter vá lá olhar e falar que está parado, já que o não andamento já era uma pauta dos nossos repórteres”. 

O projeto Correio 40 Anos tem oferecimento do Bradesco, patrocínio do Hapvida e Sotero Ambiental, apoio institucional Prefeitura de Salvador, e apoio de Vinci Airports, Senai, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova, Sebrae e Santa Casa da Bahia.

Seminário será realizado nesta sexta-feira (26); inscrições são gratuitas O seminário O Futuro do Jornalismo, que discutirá os novos rumos e perspectivas do setor, faz parte das ações comemorativas dos 40 anos do CORREIO. Promovido pelo jornal, o evento ocorre nesta sexta-feira (26),  8h às 12h30, no Hotel Quality (Rua Dr. José Peroba, 244 – Stiep). 

As inscrições, que são gratuitas, podem ser feitas pelo bit.ly/jornalismodefuturo. O evento contará com apresentação de representantes de três iniciativas inovadoras que se tornaram referência mundial pela maneira como combinam comunicação, design e tecnologia: o co-fundador e editor-chefe do Nexo, Conrado Corsalette; a diretora de produto do Jota, Paty Gomes, e o líder técnico da Operação Serenata de Amor, Mário Sérgio. 

Conheça os palestrantes: 

Conrado Corsalette, cofundador e editor-chefe do Nexo, jornal digital que coleciona prêmios internacionais de jornalismo e design, entre eles um Malofiej e dois ÑH.

Patrícia Gomes, diretora de produto do Jota, site focado em cobertura do Judiciário, que acaba de ser eleito a melhor startup de jornalismo do mundo, pela Associação Mundial de Jornais e Editores (WAN-IFRA).

Mário Sérgio, líder técnico da Operação Serenata de Amor, projeto de inteligência artificial (IA) focado na investigação de gastos públicos e responsável pelo desenvolvimento da Rosie (@RosieDaSerenata), uma robô que monitora e divulga gastos suspeitos de deputados federais. Mário é também presidente da Associação Python Brasil (APyB) e gerente do programa de Inovação Cívica da Open Knowledge Brasil.

Correio 40 anos O projeto Correio 40 Anos tem oferecimento do Bradesco, patrocínio do Hapvida e Sotero Ambiental, apoio institucional Prefeitura de Salvador, e apoio de Vinci Airports, Senai, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova, Sebrae e Santa Casa da Bahia.