Conheça o revolucionário da moda que levou sua marca para 140 países

Pierre Cardin influenciou os Beatles, Jean-Paul Gaultier e criou figurino de A Bela e A Fera

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  • Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marco Bertorello/AFP

Quando tinha apenas dois anos, Pietro fugiu com os pais agricultores do fascismo que dominava a Itália. A família migrou para a França, onde o pequeno rapaz que nasceu perto de Veneza fez história, transformando-se no ícone da moda Pierre Cardin. Pietro virou Pierre, estilista vanguardista, pioneiro das coleções exclusivamente masculinas que popularizou o estilo unissex e revitalizou o “prêt-à-porter”.    A expressão significa “pronto para usar”, uma referência às produções de roupa em larga escala. Primeiro estilista a oferecer peças para uma loja de departamento, nos anos 1960, e um dos responsáveis pela retomada da alta costura na França pós-guerra, Cardin morreu nesta terça-feira (29), aos 98 anos, de causa não informada, deixando um patrimônio único na moda. Futurista, tem nas formas geométricas sua marca.    Entre suas peças mais famosas está o “vestido bolha”, lançado em 1954, em sua primeira coleção de alta costura. “Temos orgulho da sua ambição tenaz e ousadia que demonstrou ao longo da vida. Homem moderno de muitos talentos e energia inesgotável, ele aderiu cedo ao fluxo da globalização de bens e das trocas comerciais”, disse a família de Pierre, em nota, sobre o “grande costureiro que atravessou o século”.    Em entrevista à CNN, a consultora de moda e empresária Costanza Pascolato falou sobre a importância de Pierre. “Ele era italiano da terra do meu pai, naturalizado francês, e tinha uma energia extraordinária. Tive a sorte e o privilégio de encontrá-lo nos anos 70. Nessa época ele já tinha feito a revolução, ou seja, ele já tinha entendido que o mundo não ia viver da alta-costura, da roupa feita sob medida”, destacou.    Hotelaria, perfumaria e restaurantes eram alguns dos negócios que Pierre fazia questão de administrar, além da própria grife sediada na França e muito popular na Ásia e nos Estados Unidos. Estilista que criou os ternos sem colarinho popularizados pelos Beatles, Pierre viajou ao Japão em 1957 e organizou desfiles na China, a partir de 1979. São mais de 900 licenciamentos de sua marca em 140 países. 

Em janeiro deste ano, sua vida e trajetória na moda viraram tema do documentário “House of Cardin”, que mostra o estilista quase centenário plenamente ativo. Responsável por vestir nomes como Elizabeth Taylor, Brigitte Bardot e Jacqueline Kennedy, Pierre diz em uma das cenas do filme: “Não sou do tipo que se contenta com o que já foi feito e aceito. Eu estou feliz com o presente, mas nunca dou meu trabalho como terminado”.

Futurista Sua história na moda e na costura começou aos 14 anos, quando virou alfaiate na cidade de Saint-Etienne. Em 1944, ingressou na casa Paquin, em Paris, da renomada estilista Jeanne Paquin, período em que criou os figurinos de A Bela e a Fera, filme original de Jean Cocteau (1946). Em 1947, se tornou o primeiro funcionário de Christian Dior e anos depois virou mentor de estilistas como Jean-Paul Gaultier.    Pierre fundou o próprio ateliê em 1950, com um estilo revolucionário nas formas – esculturais e abstratas – e no tecido, com peças feitas de vinil e peles falsas. O icônico estilista também brincou com as formas geométricas na criação de sua mansão: inspirou-se no formato arredondado das cavernas habitadas pelo homem primitivo e nas lúdicas bolhas de sabão para erguer o “Palácio das Bolhas”, no sul da França.    Irreverente, visitou a Nasa nos anos 1970 e dali saiu com novas ideias depois de experimentar o traje de astronauta usado por Neil Armstrong na viagem à Lua. Pierre chegou a desenhar uma nova versão do traje espacial para a agência americana e incorporou noções da ficção científica e da viagem espacial em suas coleções. A estética futurista o inspirou na criação de trajes unissex “cosmocorps”.    “O trabalho da moda não é apenas fazer ternos ou vestidos bonitos, mas mudar a face do mundo, por o corte e a linha. É tornar evidente outro aspecto dos homens”, disse Pierre, na época em que virou o primeiro civil a provar um dos trajes usados por astronautas na Apollo 11. Estilista visionário, ele acreditava que “a moda é a transmissão da civilização” e sabia seu lugar no mundo: “Sou um líder, não um seguidor”.

[[galeria]]“Ele era italiano da terra do meu pai, naturalizado francês, e tinha uma energia extraordinária. Tive a sorte e o privilégio de encontrá-lo nos anos 70. Nessa época ele já tinha feito a revolução, ou seja, ele já tinha entendido que o mundo não ia viver da alta-costura, de roupa pronta, feita sob medida. (...) Ele era tão revolucionário que inventou as licenças de grande escala para difundir a roupa” – Constanza Pascolato, em entrevista à CNN“E 2020 leva consigo mais um gênio. Pietro, Pierre Cardin. O primeiro estilista reconhecido artista, ao ingressar na Academia Francesa de Belas Artes. O primeiro a ‘furar’ a Cortina de Ferro. O homem que sonhava em vestir o futuro, e acabou convidado pela Nasa a criar uma roupa de astronauta. O democrata do luxo que anteviu a força do prêt-à-porter e colocou sua grife em sabões, carros, colchões sem perder o panache da alta-costura. Um titã, um pioneiro. Bravo, Monsieur Cardin – Bruno Astuto, jornalista