Consumo consciente é o maior aliado na luta contra aquecimento global

Medidas simples ajudam a melhorar a temperatura do planeta, evitando uma série de catástrofes globais

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 5 de junho de 2019 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: reprodução/shutterstock

No último Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, órgão das Nações Unidas para assunto) ficou claro que, para manter o aquecimento global limitado em até 2 graus Celsius, evitando a elevação do nível do mar e inúmeras catástrofes que colocariam em risco a vida na Terra, serão necessárias mudanças drásticas para cortar em 20% as emissões de gases que geram o efeito estufa até 2030. Ou seja, é preciso que as pessoas se mobilizem de modo muito organizado nos próximos 11 anos!

Usar menos papel, não deixar a torneira aberta enquanto escova os dentes, faz a barba ou lava a louça; não deixar luzes ligadas desnecessariamente; substituir o ar condicionado pelo ventilador; cuidar da manutenção do veículo e calibrar os pneus a cada 15 dias. Mais que medidas de economia, essas ações - repetidas pelo maior número de pessoas -  podem impactar de modo significativo na redução da emissão de gases causadores do efeito estufa que, por sua vez, contribui com a redução do aumento da temperatura no planeta. 

Super estufa O pesquisador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, George Magalhães, salienta que os deslocamentos humanos ainda são, dentro dos hábitos cotidianos, o que mais colabora para o aquecimento global, em virtude das emissões de poluentes. “Se não há alternativa para o uso do carro, por exemplo, uma boa alternativa seria apostar no uso do etanol. Derivado da cana de açúcar ou até mesmo do milho, esse combustível já realiza a captura de carbono durante o crescimento da planta que captura CO2 para se desenvolver e ainda tem uma queima menos impactante para o meio ambiente”, esclarece.

O engenheiro ambiental e professor universitário Nilton César Pinto salienta que o aquecimento global é uma realidade e tem afetado, principalmente, a sustentabilidade num futuro bem próximo. “Nossos hábitos cotidianos consomem muita energia, especialmente da queima de combustíveis fósseis através da remissão dos nossos veículos, em especial o avião. A frota, de um modo em geral, ainda é arcaica e o atual modelo industrial ainda se utiliza de fontes de energia não renováveis, fato que aumenta muito as emissões de dióxido de carbono (CO2) e gás metano(CH4)”, esclarece, salientando que o metano é, em média, 22 vezes mais prejudicial para o efeito estufa que o CO2.

Apesar de não parecer, hábitos simples são fundamentais para ajudar a manter a temperatura planetária sob controle.

“A utilização de carona solidária, andar de bicicleta, usar transportes públicos...tudo isso facilitará a redução das emissões. Numa escala mais macro econômica, serão necessárias políticas públicas que incentivem as indústrias obterem mais eficiência nos seus processos de produção”, complementa o professor.

Para se ter uma ideia da importância desse controle, vale salientar que mais calor favorecerá o avanço de doenças tropicais causadas por insetos em regiões de clima mais ameno, com impacto direto na saúde pública. Os insetos, fundamentais para a polinização correrão duas vezes mais riscos de perderem seus habitats com o mundo 2 graus Celsius mais quente em relação ao aquecimento de 1,5 grau Celsius. Isso representa maior impacto na agricultura, colocando a segurança alimentar em risco.“Limitar o aquecimento em 1,5 grau Celsius é possível dentro das leis da química e da física, mas isso requer mudanças sem precedentes”, alertou Jim Skea, um dos 91 pesquisadores de 40 países que assinam o relatório do IPCC.“Cada pequeno acréscimo no aquecimento importa, especialmente porque superar 1,5 grau Celsius aumenta os riscos associados de mudanças de longo prazo ou irreversíveis, como a perda de alguns ecossistemas”, esclareceu Hans-Otto Pörtner, coautor do relatório da ONU. George Magalhães pontua ainda que o uso da tecnologia pode ser uma saída bastante viável para reduzir os deslocamentos humanos, assim, ao invés de viajar para participar de uma reunião, ele sugere o uso de teleconferências com todas as possibilidades oferecidas atualmente.

Efeito global A organização não governamental Iniciativa Verde lista como principais atividades geradoras de  gases-estufa o uso de energia elétrica nos aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos e nos processos industriais. Outro polo gerador de poluentes diz respeito ao não aproveitamento de materiais e produtos, fato que obrigaria uma nova exploração de matéria-prima bruta na natureza e, obviamente, um novo processo fabril, bem como novo transporte e comercialização. 

O engenheiro ambiental e secretário municipal de Cidades Sustentáveis e Inovação (Secis), André Fraga, lembra que, naturalmente, os seres vivos produzem dióxido de carbono (CO2) e gás metano(CH4), o problema é o volume produzido na atualidade, aliado a outros gases poluentes. “Quanto menos responsável é o nosso consumo – que é um ato político – maior é o impacto na emissão de gases poluentes e de efeito estufa, que impacta no aumento da temperatura, o derretimento das calotas polares, a acidificação dos oceanos, na saúde das pessoas, por exemplo”, completa. 

Por isso mesmo, André Fraga defende que o consumo consciente é uma chave importante para que cada indivíduo possa contribuir de modo decisivo para conter o aumento da temperatura do planeta. “O consumo tem um impacto no mundo e na sociedade e pode integrar um rol de ações globais”, reforça.

Quando o assunto é consumo, vale salientar que a reciclagem e o reaproveitamento também é um fator importantíssimo na geração de gases poluentes. George Magalhães salienta que todo o lixo orgânico que vai parar nos aterros sanitários se transforma em metano, afetando de modo muito importante o aquecimento global. “A perspectiva de ter composteiras caseiras para uso em pequenas hortas e a separação de material que possa ser reciclado são atitudes que são fundamentais para a redução do lixo nos centros urbanos”, diz o pesquisador.

Compensações verdes No que diz respeito às questões que envolvem o chamado crédito de carbono, o professor Nilton César diz que existem duas visões sobre o tema.  “A emissão de crédito de carbono é uma concessão através de acordos, quando países desenvolvidos – que historicamente e pelo atual processo de industrialização têm muitos poluentes - enviam recursos que possibilitem realizar o reflorestamento de áreas, numa perspectiva de compensar a emissão de poluentes”, esclarece. Ele lembra que o processo também pode e deve ser feito por indivíduos que se proponham a compensar a própria geração de poluente por árvores. 

A ong Iniciativa Verde, por exemplo, afirma que cada pessoa, em média, precisaria plantar dez árvores para compensar a emissão de poluentes. A contagem aumenta se forem computadas as viagens aéreas. 

Eles apontam que se um indivíduo viajou da capital mineira à paulista e retornou, que dá, aproximadamente, 980km, emitiu 0,17 tonelada de carbono. A compensação exigiria o plantio de uma árvore em compensação. Quem viaja todo mês nesse trajeto, ao longo de um ano, terá contribuído para o aquecimento global com 2,07 toneladas de gases-estufa e terá a tarefa de plantar 13 árvores. Se a esse consumo se somar o uso de energia elétrica, gás e de um carro pequeno, chegará ao final do ano com 3,67 toneladas de carbono jogados na atmosfera. Essa conta exigiria o plantio de 23 árvores. 

Nilton César ressalta que, quando essas pequenas ações se somam numa população como a Salvador, por exemplo, se tem a real dimensão do impacto das pequenas ações. “Seriam 3 milhões de habitantes trabalhando em favor da sustentabilidade e isso faria muita diferença. Pense isso sendo feito nas grandes metrópoles de um país com as dimensões do Brasil”, finaliza César. O plantio de espécies nativas ajudam a conter o avanço de poluentes que ampliam os impactos do efeito estuda e suas consequências (Imagem: shutterstock) Faça sua parte:

Reduza em 10% a utilização de veículos automotores.  Prefira veículos movidos a álcool ou biocombustíveis.  Mantenha a manutenção do veículo em dia . Realize a calibragem dos pneus a cada 15 dias Troque os modelos de freezer ou geladeira mais antigos pelos com melhor eficiência energética. Substitua as lâmpadas por modelos que gastam menos energia.  Cuide e separe materiais recicláveis. Substitua o ar condicionado por ventilador; Desligue luzes e equipamentos quando não estiverem sendo utilizados.  Use o mínimo necessário de papel.