Conta de luz fica 21,35% mais cara na Bahia a partir de sexta

Três dias após o fim da bandeira tarifária de escassez hídrica, Aneel anuncia novo reajuste

Publicado em 20 de abril de 2022 às 06:00

. Crédito: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Sabe aquele ditado que diz “era muito bom para ser verdade”? Então, ele representa bem a sensação dos baianos com relação ao preço da conta de luz. Três dias após o fim da cobrança da bandeira tarifária de escassez hídrica, o que impactou em uma redução de 20%, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou um reajuste de 21,35% nas contas de energia na Bahia. A medida passa a valer a partir de sexta-feira (22).

A depender da classe de consumo dos clientes, o reajuste será sentido de maneira diferente. Para quem consome, em média, baixa tensão o acréscimo será de 21,35%. No caso dos consumidores de alta tensão, como indústrias e comércio de grande porte, o reajuste passa a ser de 20,54%. O efeito médio para a população deverá ser de 21,13%, segundo a Agência. Cerca de 6,3 milhões de pessoas serão afetadas no estado.

 Segundo a Aneel, o reajuste aprovado pela diretoria na terça-feira (19) é justificado por encargos setoriais e custos de distribuição e aquisição de energia. A escassez hídrica do ano passado reduziu o nível de água nos reservatórios, o que fez com que usinas termelétricas de reserva fossem acionadas. Elas possuem um custo mais elevado de operação.  

João Lins, gerente comercial da Elétron Energy, empresa de geração de energia com sede no Recife, explica que os reajustes são feitos anualmente para recompor o custo de operação da distribuição de energia. “Possuem diversas variáveis nessa conta, tendo desde o custo de compra de energia, como os custos com a gestão térmica ocorrida durante a crise hídrica que passamos recentemente”, diz. Segundo João, os custos com as termelétricas ultrapassam os R$17 bilhões.  

A depender da classe de consumo dos clientes, o reajuste será sentido de maneira diferente. Para quem consome, em média, baixa tensão o acréscimo será de 21,35%. No caso dos consumidores de alta tensão, como indústrias e comércio de grande porte, o reajuste passa a ser de 20,54%. O efeito médio para a população deverá ser de 21,13%, segundo a Agência. Cerca de 6,3 milhões de pessoas serão afetadas no estado.

Apesar do acréscimo, a Aneel e a Coelba defendem que com o fim da bandeira tarifária escassez hídrica, o cliente residencial convencional perceberá uma redução média de 1,6% na conta de energia. A bandeira que foi acionada por conta da falta de água nos reservatórios estabelecia uma cobrança extra de R$14,20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh).  

No entanto, as bandeiras tarifárias entram em ação somente quando há uma necessidade externa, enquanto que o reajuste tarifário que incide sobre o consumo vem para ficar, como explica o engenheiro eletricista e professor da UniRuy Uerlis Martins.  “A tarifa é um valor cobrado em cima do consumo de potência por tempo. Já a bandeira tarifária existe em função dos períodos de chuva do Brasil, isso porque 66% da nossa energia vem de origem hídrica, quando temos um período seco contratamos usinas térmicas que são caras”, afirma. Outro ponto levantando, dessa vez pelo economista e membro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Edval Landulfo, é que a Agência não está levando em consideração o efeito do reajuste a longo prazo. “Não estão pensando na possibilidade do próximo ano. No próximo ano podemos ter uma outra crise hídrica com a mesma bandeira e com o acréscimo de 20%, então esse aumento uma hora vai chegar”, diz. 

Além da Bahia, a Aneel anunciou o reajuste para outros três estados: Ceará (23,99%), Rio Grande do Norte (19,87%) e Sergipe (16,46%). 

Inflação aperta o orçamento  

O economista também lembra que a inflação acumulada nos últimos 12 meses, até março, já chega a 11,3%, o que diminui o poder de compra da população, já que não há aumento real do salário. “Realmente já era de se esperar que num ano tão complicado, sucessivos aumentos viessem a acontecer. No índice oficial da inflação já estamos em dois dígitos, mas cada aumento vem com quase o dobro do valor da inflação, a conta não fecha”, afirma Edval Landulfo.  

Enquanto isso, os baianos se assustam com mais um anúncio de aumento de preços, dessa vez da conta de luz. É o caso do supervisor de vendas e morador de Mussurunga Alexandre Souza, 31. Na casa em que mora com a mãe, irmã e o sobrinho, a conta de energia foi de R$160 para R$230 em cerca de cinco meses, segundo ele. Um aumento de 31% em menos de um semestre.  

“Recebo a notícia desse aumento com muita insatisfação, é muito complicado sobreviver com tantos aumentos”, diz. O jovem conta que na hora de economizar, vale de tudo dentro de casa. A família já tirou o banho quente da rotina, diminui a potência do ventilador mesmo no calor e, quando sai de casa, retira aparelhos como roteador de internet e micro-ondas da tomada.   Alexandre se queixa dos sucessivos aumentos de preço na conta de luz (Foto: Arquivo Pessoal) O economista Edval Landulfo diz ainda que o encarecimento da conta de luz prejudica especialmente os microempreendedores e as pequenas empresas, que tem maior dificuldade para repassar o aumento de preço para os consumidores. Desde o final do ano passado a cabelereira Rose Santos Silva, 38, já se preocupava com o preço da conta de energia.  

Ela afirma que só em outubro do ano passado teve um reajuste de R$40 em um mês, o que fez necessário o repasse aos clientes que frequentam o salão. “Eu até tento reduzir o consumo. Quando estou sozinha, tiro tudo da tomada, inclusive o roteador. Tenho evitado o ventilador, mesmo assim a conta vem mais cara”, afirma Rose.  

Se o plano é economizar, o engenheiro Uerlis Martins explica quais são os aparelhos que mais pesam na conta de luz dentro de casa. Segundo ele, um dos vilões que é pouco levado em consideração é o micro-ondas, que pode representar até 3% da conta de energia se ficar ligado na tomada sem necessidade. Já o ar condicionado, se ficar ligado de oito até dez horas por dia, no final do mês pode representar um aumento de R$60 até R$100 na tarifa. 

Dicas da Coelba para economizar energia 

Equipamentos eficientes: utilize aparelhos com o selo Procel de eficiência energética, isso ajuda na economia de energia e na redução de contas 

Desligue o computador se não for usá-lo dentro de uma hora: o monitor deve ser desligado sempre que o usuário se ausentar do ambiente, se as pausas forem longas, o ideal é desligar todo o equipamento 

Não deixe o carregador na tomada: se não estivar utilizando o carregador, deixe-o fora da tomada para economizar energia e evitar acidentes domésticos 

Aproveite a luz natural: evite acender luzes em ambientes já naturalmente iluminados 

Evite usar o stand-by: não há necessidade de consumir energia se não está utilizando o aparelho

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo e colaboração de Daniel Aloísio.