Convidada para entrevista, Daniela Mercury dá uma aula para candidatos do CORREIO de Futuro

Cerca de 130 estudantes de comunicação estão disputando oito vagas no programa de estágios do CORREIO

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 27 de setembro de 2017 às 00:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/ CORREIO

A arte e os anos de militância contra racismo, intolerância religiosa e preconceito contra a população LGBTT deram à cantora Daniela Mercury conteúdo suficiente para uma aula sobre respeito às diferenças. Numa coletiva de imprensa com o tema ‘A arte e a militância’, a artista respondeu a dezenas de questionamentos da atual conjuntura brasileira de 130 estudantes de Jornalismo. A ação foi a segunda etapa de seleção para o programa CORREIO de Futuro.

Alguns candidatos, mais tímidos, perguntaram sobre os desafios da carreira e os sucessos da cantora. Outros, mais expansivos, fizeram perguntas mais incisivas, mas Daniela ficou à vontade. Um dos candidatos pediu que ela comentasse sobre a recente polêmica levantada por um juiz ao permitir a ‘cura gay’. E Daniela respondeu sem papas na língua.

“É uma afronta, um desrespeito à toda a comunidade LGBT do mundo, não apenas do Brasil. É uma ação muito pontual de alguém que quer que o assunto volte à tona e quer constranger os homossexuais. É uma ação política no final das contas. Através do ódio, muitas pessoas ganham notoriedade e conseguem se eleger”, disse. Daniela Mercury falou sobre cura gay e outras polêmicas (Foto: Almiro Lopes/ CORREIO) Palestra Essa não foi a primeira vez que ela falou para pessoas que estão em formação profissional. “Eu já fiz isso com bailarinos, com gente que está se profissionalizando para o ambiente de show business e já formei muitas equipes. Nada como a imersão para a gente ter a percepção clara do que quer. A universidade ainda está longe da realidade, então, os jovens precisam participar desses diálogos para estar dentro de um contexto profissional, mais dentro da realidade”, afirmou. 

O encontro estava marcado para às 16h, mas alguns chegaram cedo. “Eu cheguei às 15h10. Só tinha duas pessoas”, contou a estudante Jéssica Bianca, 19 anos. A coletiva aconteceu no Colégio Isba, em Ondina. A Faculdade Social apoia o programa. Bloquinho, canetas, gravadores, celulares de última geração e até câmeras profissionais foram levadas pelos estudantes. 

O diretor executivo do CORREIO, Roberto Gazzi, abriu o evento e falou das experiências vividas no jornal Estadão e as percepções do jornalismo na Bahia. Ele respondeu a perguntas sobre os desafios da reportagem, produção jornalística e as mudanças provocadas pelas novas mídias. “Fizemos várias mudanças no jornal, como os horários das reuniões e algumas posições para melhorar a produção do conteúdo, pensando nas redes sociais, na internet, porque é uma necessidade do mercado. É preciso acompanhar as mudanças e é isso o que estamos fazendo no CORREIO”, contou.   Diretor executivo do CORREIO, Roberto Gazzi, antes da coletiva (Foto: Almiro Lopes/ CORREIO) Crianças Depois de Gazzi, Daniela subiu ao palco para dar início à entrevista. Os estudantes se acotovelaram para fotografar e filmar a artista. Ela afirmou não acreditar que o brasileiro seja intolerante, mas manipulado: “Quem tem medo da diferença não são as crianças, são os adultos que vão criando vários mitos e tabus sobre o outro. Normalmente, quem inventa alguma distinção na sua religião, alguma distinção para os outros também é manipulado pelo capitalismo. O ser humano vai encontrando meios de ‘escantear’ o outro. Cada civilização faz isso por algum motivo e quem está no poder é que determina”.

Sobre as crianças, a cantora voltou a falar sobre a ausência de preconceito. “A diferença pode até ser um elemento curioso para as crianças, mas elas não vão estabelecer uma hierarquia. A sociedade hierarquizou a cor da pele, a sexualidade, determinou o que é normal e o que não é normal, mas isso é coisa de adulto. As crianças não discriminam ninguém”.

Além de questões religiosas, Daniela abordou temas como feminismo e protagonismo das mulheres no Brasil, além do preconceito sofrido por elas e pelos gays: “Muita gente não sabe da realidade do país e julga, por exemplo, que é ‘mimimi’ mulher ficar reclamando da violência ou os homossexuais reclamarem que são agredidos na rua. Quem tem direito de fazer bulling com viado ou com sapa? Alguém tem esse direito? A gente tem que ser humano”. 

Em meio às perguntas sobre carreira e militância, Daniela também falou sobre o papel dos artistas. “Recebi um elogio e me chamaram aqui porque certamente gostam do meu jeito de ser e de me posicionar. Nesse ambiente eu sou muito bem-vinda, mas pode ter certeza que alguns grupos preconceituosos não gostam do que eu digo, tem medo de se misturar com minha turma gay. Acho que as pessoas escolhem um artista não só pela música, mas por quem ele é”, declarou. Daniela e Gazzi responderam a dezenas de perguntas feitas pelos estudantes (Foto: Almiro Lopes/ CORREIO) Concorrência Polêmicas à parte, alguns candidatos aproveitaram para avaliar também a concorrência. Carolina Sales, 21, está no 5º semestre de Comunicação Social e acredita que a disputa pelas oito vagas no programa será acirrada. “Pelo nível das perguntas que os colegas fizeram, deu pra perceber que tem muita gente boa na concorrência”, afirmou. 

Os candidatos têm até às 10h desta terça-feira (26) para encaminhar um texto, com fotos ou vídeos, sobre a coletiva. Até o final da semana, será divulgada a lista com os 20 selecionados para a última etapa: uma entrevista presencial com os coordenadores do programa.

“Essa será a 12ª turma, sendo que o número de inscrições bateu recorde, dobrou. Na última edição, foram cerca de 80 inscritos, esse ano foram 165 inscrições. Teve candidato do Rio de Janeiro, Maranhão e até do Rio Grande do Sul, mas pela política do programa eles não podem participar”, contou a professora Maria Ísis, uma das coordenadoras. 

O programa é patrocinado pela Odebrecht. Representante da empresa, Marcelo Gentill destacou a importância da ação. “São futuros profissionais que vão viver um período de imersão intensa na redação do CORREIO e, a partir daí, serão profissionais melhores, mais bem preparados para a cobertura dos fatos da sociedade”. A expectativa é de que os estudantes comecem o estágio em novembro.