Coronavírus: aeroporto alerta para riscos, mas passageiros não estão preocupados

Na rodoviária, muitos acreditam que o Covid-19 não vai chegar a Salvador

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  • Gil Santos

Publicado em 12 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

O avanço do novo coronavírus pode ter mudado rotinas pelo mundo a fora, mas não em Salvador. Nos terminais de passageiros, como no Aeroporto Internacional e na Rodoviária, o uso de máscaras e álcool gel pelos usuários ainda é tímido. Para muitos deles não há motivo para se prevenir e a notícia de que o vírus desembarcou em Feira de Santana na semana passada, cidade a apenas 109 km da capital, não preocupa.

A Vinci Airports, concessionária que administra o aeroporto, adotou algumas medidas para conscientizar os cerca de 600 mil passageiros que devem passar pelo terminal até o final do mês, vindo e indo para os mais diversos destinos. Circulando é fácil encontrar informativos sobre as ações de prevenção e os sintomas da doença. No check-in, na praça de alimentação, e nas áreas de embarque e desembarque eles estão lá. Passageira no saguão do aeroporto de Salvador (Foto: Marina Silva/ CORREIO) A empresa também colocou dispensers de álcool gel, vídeos educativos, e até sinais sonoros com as informações. Mas os passageiros afirmaram que estão tranquilos. As amigas Tamara Venturini e Joyce Ribeiro moram em São Paulo e passaram a última semana visitando Salvador. Elas compraram máscaras, mas nunca usaram.“Não estou preocupada. Comprei a máscara como uma precaução, mas me senti segura, não vi a necessidade de usar. Em São Paulo, vimos algumas pessoas usando no aeroporto, mas estava tudo bastante tranquilo. A maioria das pessoas estão agindo naturalmente”, afirmou Joyce. Joyce e Tamara contaram que não estão preocupadas (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Em nota, a Vinci afirmou que tem um Plano Especial de Contingência, desenvolvido em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e que ele continuará ativado até que o Ministério da Saúde retire o estado de alerta contra o Covid-19. O planejamento é para o caso de algum passageiro apresentar sintomas da Covid-19, doença provocada pelo coronavírus. A empresa listou algumas das medidas.

“Como ações principais destacamos: a prevenção, identificação, isolamento e encaminhamento para rede médico-hospitalar de referência, conforme protocolos adotados pela Secretaria Estadual de Saúde do Estado da Bahia. Tanto os funcionários do Aeroporto, como outros membros da comunidade aeroportuária que lidam diretamente com atendimento ao receberam treinamento referente à aplicação do referido plano”, diz a nota.

Enquanto isso, o vai e vem seguia tranquilo no saguão na manhã da quarta-feira (11). Pessoas dividiam a mesa com estranhos e colocavam as mãos no rosto depois de tocarem em corrimãos e maçanetas. “Acho que tem muito alarde em torno disso. Não há motivo para tanto”, afirmou a ajudante de cozinha Simone Oliveira, 44 anos, pouco antes de embarcar. A Vinci informou que, apesar de ser inflamável, o álcool gel é permitido na bagagem de mão.  Agerba reforçou os cuidados na Rodoviária (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Curiosidade No Terminal Rodoviário de Salvador não é muito diferente. A Agerba determinou que os terminais concessionados disponibilizem álcool gel para uso dos passageiros, na capital e no interior do estado. O público tem feito uso, mas movidos mais pela curiosidade. Foi o que revelou a estudante Camilly Pereira, 16 anos.“Eu não estou com medo. Não ando com álcool gel na mochila, mas vi que tinha aqui na Rodoviária e usei um pouco. Eles colocaram em vários lugares”, contou.Por dia, cerca de 8 mil pessoas passam pelo terminal. As cadeiras não têm sossego com um senta e levanta frenético de passageiros. Na tarde desta quarta, a costureira Mirian Pereira, 37, aguardava pelo ônibus que a levaria para Dias D’Ávila, município da Região Metropolitana. No colo, o pequeno Gladston Mackley de apenas 1 ano se divertia brincando em um dos bancos.“Eu não costumo usar álcool gel nem ficar lavando as mãos o tempo todo, e não mudei minha rotina por causa dessa doença. Acho que as pessoas estão preocupadas à toa, não vai chegar aqui”, disse.Em nota, a Agerba disse que o álcool gel está disponibilizado nas áreas comuns. “O Terminal Rodoviário de Salvador e os hidroviários de Salvador/Itaparica (Ferry Boat e Lanchas), assim como o aeroviário de Barreiras e o rodoviário de Feira de Santana já começaram a acatar a determinação. Apesar de todo o esforço adotado, o comportamento dos usuários não apresentou mudança significativa”. Mirian, Gladston e Camilly aguardam pelo ônibus na Rodoviária (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Já a Internacional Travessias, responsável por operar o sistema Ferry-Boat, informou que disponibiliza álcool em gel nas embarcações e salões de embarque dos terminais São Joaquim e Bom Despacho. Os equipamentos são abastecidos diariamente. Além disso, são transmitidas, diariamente, no sistema de rádio mensagens sobre medidas de proteção contra o coronavírus. Cerca de 15 mil pessoas usam o serviço todos os dias.

Tanto o Ministério da Saúde quanto os especialistas que o CORREIO tem ouvido desde que o primeiro caso foi confirmado no Brasil, em 26 de fevereiro, frisam a necessidade de lavar as mãos com água e sabão constantemente, usar álcool gel, e manter distância de 1 metro das pessoas, principalmente, de quem apresenta sintomas de doenças respiratórias. Homem usa dispenser instalado na Rodoviária (Foto: Marina Silva/ CORREIO) O infectologista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e coordenador do Laboratório de Retrovírus da Ufba, Carlos Brittes, afirmou que as máscaras são mais recomendadas para quem está doente porque tem a função de reter as gotículas de saliva e secreção que essas pessoas expelem quando tossem ou espirram.

Como os sintomas da doença são febre, dor de cabeça, calafrios e dor muscular, ou seja, os mesmo de uma gripe comum, a população precisa procurar um médico para fazer os exames e ter um diagnóstico.

Já o infectologista dos Hospitais São Rafael e Couto Maia, Fábio Amorim, destacou que essas medidas são importantes para combater a disseminação do vírus. Até o dia 13 de fevereiro, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) tinha registrado aumento de 27,4% no número de casos notificados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), doença provocada por infecções viriais, como o novo coronavírus.