Coronavírus: 'É mais provável morrer de gripe', diz secretário de Saúde da Bahia

Entenda as diferenças entre a gripe, o novo coronavírus e o resfriado

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  • Thais Borges

Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 16:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Wilhan Campos/Fotos Públicas)

O Brasil pode até já ter confirmado um caso de coronavírus, mas, pelo menos por enquanto, a preocupação maior deve ser com outras doenças – a já velha conhecida gripe, inclusive. A avaliação é do secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas. “É mais provável a pessoa se contaminar e morrer pelo vírus da gripe, que já está circulando em nosso meio, do que pelo coronavírus, que tem letalidade menor do que a do H1N1, que tem prevenção de graça”, afirmou o secretário, em entrevista coletiva, na manhã desta quinta-feira (27). Só para dar uma ideia, no ano passado, a Bahia registrou 1.821 casos de H1N1 – fora aqueles que eventualmente não tenham sido testados para a doença. Desse total, 132 pessoas morreram, o que equivale a uma taxa de mortalidade de 7,2%. 

Em comparação, o índice de mortalidade na China, onde começou a epidemia do novo coronavírus, é de 3,4%, de acordo com o último boletim divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nos demais países com casos confirmados, o índice de letalidade foi ainda menor: 1,5%. 

“Você tem um espectro de gravidade de infecções. Cerca de 90% dos casos de infecção pelo coronavírus são de gravidade leve ou moderada. Apenas 5% evolui para a síndrome respiratória aguda grave (SARS, na sigla em inglês). A gente não tem motivo para achar que aqui no Hemisfério Sul isso vá se comportar de forma diferente”, analisou Vilas-Boas.  

De fato, um estudo do Chinese Center for Disease Control and Prevention mostrou que 81% dos casos registrados na China são leves. Assim, não envolvem pneumonia. Apenas 14% dos casos são considerados graves e menos de 5% têm sido críticos. No restante dos casos, como mostrou o jornal The New York Times, nesta quinta-feira, a maior parte dos casos no país têm se assemelhado a resfriados.

É por isso que a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) tem reforçado, desde já, a importância da vacinação contra a gripe. A campanha estava prevista para começar no dia 19 de abril com grupos com crianças, idosos e gestantes, mas o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, anunciou na tarde desta quinta-feira (27) a antecipação do início da campanha para o dia 23 de março, por conta do coronavírus. Segundo o secretário Fábio Vilas Boas, nos últimos anos, os índices de vacinação na Bahia têm ficado entre 50% e 60% da meta inicial. 

Identificação O diagnóstico do coronavírus pode começar a ser feito da mesma forma que a própria gripe ou mesmo do resfriado comum, de acordo com o infectologista Antônio Bandeira, médico da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Sesab. O mais frequente dos três, segundo ele, é o resfriado comum – o chamado rinovírus. “Mas para o coronavírus tem que ser aquela perguntinha: se o paciente chegou de viagem internacional de algum dos países com casos da doença. Nesse momento, isso é muito importante”, afirmou Bandeira. Isso porque é possível dividir o avanço da doença em duas fases. A primeira, que é o momento vivido hoje, é que envolve casos importados. Por enquanto, ainda é mais fácil isolar os casos e controlar a circulação do vírus no país. 

Assim, quando há um caso suspeito, a vigilância epidemiológica local sai em busca de todas as pessoas com quem o suspeito teve contato. Já o segundo momento é quando não dá mais para controlar essa entrada e já existe circulação do vírus no território. 

Atualmente, não há nenhuma suspeita de coronavírus sendo investigada pela Sesab no estado. Desde o início do mês, porém, três casos foram descartados – um em São Desidério, outro em Itabuna e um em Jequié. 

Nas duas primeiras cidades, os testes indicaram que os pacientes, na verdade, tinham H1N1. No último caso, o paciente tinha uma infecção por mais de um vírus, incluindo rinovírus e outro tipo de coronavírus – o NL63, que foi identificado pela primeira vez em 2004, na Holanda. 

“Se a pessoa não veio de uma região afetada e não teve contato com ninguém que veio, não é um caso suspeito do novo coronavírus. Se a informação não for bem tratada, vai surgir uma quantidade enorme de casos e deixar a população apavorada”, ponderou o secretário Fábio Vilas-Boas. Além disso, é preciso ter um quadro de síndrome respiratória aguda ou quadro gripal. 

Estrutura Mesmo sem casos suspeitos na Bahia, existe uma estrutura disponível para atender possíveis ocorrências. A partir do momento que há uma suspeita, o sistema de saúde – seja público ou privado – deve comunicar à Sesab. Depois, técnicos de saúde coletam amostras e enviam para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). 

Lá, há estrutura para o chamado teste ‘multiplex’, que analisa 21 tipos de vírus respiratórios em uma única rodada na máquina. Em no máximo três horas, é possível confirmar se uma pessoa tem qualquer um desses 21 tipos de vírus. A Sesab tem 12 dessas máquinas – que são as mesmas que a da Universidade Federal da Bahia (Ufba). 

A Ufba, porém, através do Laboratório de Virologia, já conseguiu comprar a amostra de DNA do novo coronavírus. “Eles compraram há duas semanas, nos Estados Unidos. Nós já compramos e estamos aguardando a nossa chegar, o que deve acontecer na próxima semana. Por enquanto, a Ufba está nos emprestando a deles”, explicou o secretário. 

Cada rodada desse teste custa R$ 1.200. No entanto, o coronavírus não será testado de imediato. O teste para a doença só vai acontecer depois que a análise for negativa para os outros 21 tipos – que inclui H1N1, H3N2 e Influenza B. 

Caso algum caso seja confirmado e precise de isolamento, há 30 leitos especiais no Hospital Couto Maia que têm pressão negativa. Ou seja: o ar não sai do quarto. No interior, os hospitais que têm Unidade de Terapia Intensiva foram destacados para receber as situações mais graves. 

O principal ainda é ter agilidade. Segundo Vilas Boas, entre a comunicação das suspeitas e o descarte delas, o tempo tem variado entre 24 e 48 horas.“Isso inclui mandar automóvel, mandar avião para o paciente, o que for preciso. Porque, nesse momento, é muito importante deixar a população mais tranquila e fazer o diagnóstico precoce de que não é coronavírus”. A partir de março, a partir de reuniões com entidades como a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomercio-BA), a Sesab vai começar a fazer inspeções em estabelecimentos comerciais. Aqueles que não disponibilizarem álcool em gel devem ser notificados e, posteriormente, até multados. 

Disponibilizar álcool em gel nesses locais é obrigatório na Bahia devido a uma lei aprovada em 2017. Quem não cumprir a medida pode ter que pagar uma multa diária de R$ 55. 

Para a população, a recomendação é usar o próprio álcool gel ou lavar sempre as mãos. “As pessoas também precisam aprender a tossir e a espirrar. A gente vê as pessoas tossindo sem proteger a mão. Tem que tossir usando o cotovelo e não a mão. Grávidas, idosos e crianças devem evitar ambientes com pessoas tossindo ou espirrando. Se você está num ambiente com uma pessoa assim e não pode deixar de trabalhar, essa pessoa deve usar a máscara”, orientou o secretário. 

Entenda as diferenças e os sintomas de cada uma das doenças Coronavírus – febre muito frequente (pode passar dos 38°C), tosse muito frequente; coriza está presente nos primeiros dias, porém não é muito frequente; dor de garganta pouco frequente; dor de cabeça de leve a moderada; presença de dores no corpo; diarreia ocorre raramente; falta de ar a partir do 6º ou 7º dia.

Resfriado comum – febre pouco frequente; tosse pouco frequente; coriza muito frequente e abundante; dor de garganta de leve intensidade; dor de cabeça não é comum; ausência de dores no corpo; diarreia de forma rara; ausência de falta de ar.

H1N1 (gripe) – febre que geralmente vai até 38°C, tosse presente (mas não tanto quanto no coronavírus e nem tão pouco quanto no resfriado); coriza (não tanto quanto no resfriado); dor de garganta frequente e de moderada intensidade; dor de cabeça com pouca intensidade; presença de dores no corpo; possibilidade de diarreia; falta de ar apenas em casos raros.