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Rede Nordeste, O Povo
Publicado em 27 de abril de 2020 às 13:11
- Atualizado há 2 anos
Após completar sete dias seguidos com mais de 100 óbitos por dia, a capital do Amazonas, Manaus, vê o colapso no sistema funerário se intensificar. E o prazo para evitar que faltem caixões para os mortos fica ainda mais apertado.>
Na última sexta, o sindicato das empresas funerárias do Estado do Amazonas alertou para o fato de que o estoque de caixões só seria capaz de atender a alta demanda provocada pelo coronavírus por mais dez dias. No entanto, com cerca de 600 urnas ainda à disposição, o presidente da entidade, Manuel Viana, se viu obrigado a rever esta conta. "Nós temos entre 500 e 600 caixões no estoque. Com mais de cem enterros diários, não vai durar mais do que cinco dias". As informações são do O GLOBO.>
Com a situação cada vez mais dramática, duas frentes de negociação são a esperança do setor. Numa delas, a Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif) negocia com o Governo Federal a cessão de um ou mais aviões cargueiros para transportar 2 mil caixões de Campinas para Manaus.>
Neste domingo, 26, em resposta a um contato da Secretaria Especial de Articulação Social, a entidade encaminhou um ofício no qual detalha a quantidade e as dimensões das urnas. Agora, aguarda por uma resposta urgente. "Se esta operação não for possível, temos que enviar as urnas por caminhão no máximo na terça-feira. E ainda assim não chegarão a tempo. Porque o caminhão leva 11 dias para chegar a Manaus", conta Lourival Panhozzi, presidente da Abredif.>
Em outra tentativa, Manuel Viana busca uma ajuda do Acre. Segundo ele, membros do governo estadual tentam disponibilizar um avião para buscar as urnas funerárias em Campinas. A falta de caixões já não é o único sintoma do caos funerário na capital do Amazonas. Com a alta demanda por sepultamentos, a força de trabalho atual já dá sinais de esgotamento. E o serviço se acumula. De acordo com Viana, o cemitério do Tarumã abrirá nesta segunda com uma fila de 40 enterros. A espera irrita os parentes, que já vêm de um processo desgastante para obter a liberação dos corpos dos hospitais.>
Um episódio ocorrido neste domingo ilustra bem como a situação saiu do controle. Cansada de aguardar o sepultamento, uma família solicitou ao motorista do carro funerário que levasse o cadáver até a cova. Como ainda não estava na vez deles, não havia fiscal e nem coveiros. Irritados, decidiram enterrar por conta própria o parente.>
Vala comum em três andares Para tentar solucionar ou ao menos minimizar o caos, a Prefeitura de Manaus adotou duas medidas. Uma delas é a disponibilização de cremação gratuita. O serviço está disponível desde sábado. Mas, como não não há esse hábito na cidade e a informação ainda não chegou ao conhecimento de todos, a adesão ainda é ínfima. No primeiro dia, apenas quatro corpos foram cremados. As famílias que aceitam são convencidas no momento em que tentam dar entrada no processo de sepultamento.>
Outra medida terá início nesta segunda, quando os enterros passarão a ocorrer em camadas triplas. As trincheiras, como são chamadas as valas comuns, passarão a ser mais profundas de modo que caibam três fileiras de caixões uma sobre a outra.>
Todo este cenário é decorrente da enorme quantidade de sepultamentos diários. Na última semana, foram 847 sepultamentos de acordo com a prefeitura. A média é de 121 a cada 24 horas. Destes, no entanto, apenas 57 tiveram a Covid-19 como causa oficial da morte. Uma diferença que mostra o tamanho da subnotificação no Estado do Amazonas.>